Por Marcos Nunes Carreiro

o beijo de Klimt – Yêda Schmaltz
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Canção do Pont Neuf – Afonso Félix de Sousa
Como a juntar meus próprios ossos debrucei-me sobre lembranças que acreditava em frias poças mas nunca em águas assim mansas nem neste rio longe e próximo. É tão bom quedar-me em tais margens junto de águas que nunca bebo, onde por muito contemplar-se o céu da tarde ficou bêbado e entortaram-se aquelas árvores. Meu Sena amigo, tantas vezes parei neste cais dolorido, que uma possível correnteza levará em meio a detritos, toda minha alma pelo avesso. Perguntas, silêncios e fomes - tudo te trago qual um filho. E algo de mim se desmorona aqui nestas bordas tranqüilas, pois ci-gît mon coeur vagabond Barcos de solidões flutuam sobre tuas noites - e afogas louros fantasmas de uma lua mais longínqua, mais melancólica, mais de outro mundo do que a Lua. De ti me abeiro, e me dissolvo, mas nunca me sinto sozinho. Os que têm ouvido aqui ouvem palavras que um dia o destino prendeu a trechos de Beethoven. Ou são falas de amar que escuto? Meu rio, de mim o que guardas? Sei de meu coração sepulto nalgum ponto de tuas margens, mas sei que de há muito está mudo. Em volta a cidade, profunda, vai pelos dois lados do rio. Para lá da cidade, o mundo. Mais para lá, o amor que tive ... meu rio como eu vagabundo.Melodias – Gilberto Mendonça Teles
Ternas melodias de longínquas plagas, nas manhãs da vida fascinando a gente, sois o desafio de revoltas vagas pela alma ecoando como um som ausente. Ternas melodias, de que mundo ignoto, de que estranhas terras vindes me encontrar? Sois a transparência que no sonho noto? Sois a ressonância do poema, no ar? Ou vindes dos astros — de uma Sírius? Vênus? De que firmamento, de que céus surgistes? Quérulos gemidos de amarguras plenos só podem ser ecos de meus sonhos tristes. Essas melodias cheias de tristeza são talvez saudades que em meu peito eu tinha; são as confidências dessa natureza de milhares de almas que possuo na minha Essas melodias que a minh'alma douram , que a meus sonhos beijam com tamanho ardor, essas melodias tão sonoras foram de remotos tempos vibrações de amor.Sem Título – Heleno Godoy
Adentrar a casa, pelo portão: pórtico finca- do entre grades, gran- de o muro em torno; entre o porão e o ático, a casa se estende e se protege: um projeto ou uma proposta (a porta a ser fechada), a casa se constrói no que acumula — um cedro no jardim e outro na sala, cortado e revestido; como o musgo a recobrir a casa e seus súditos: um súbito susto, de medo — sua medida.As Escarpas do Olimpo – Valdivino Braz
Os dias, os dias e os dias. Os dias-ossos, duros de roer, que o dentro é o que rói seus dias de cão. As letras, moscas, máculas de ósseos ofícios. Os degraus da rocha por onde desço: Sísifo, cansaço de artifícios. Ombros de chumbo, como nas costas de Atlas a bola do mundo. Nas escarpas do Olimpo, carrego a pedra dos rins e bebo a água do (ab)sinto: a ilusão de consolidar-se uma obra, toda uma vida, que se tira do nada pérolas de madrepérola, ou leite das pedras, ao avesso das cabras. Sobras de uma, sombras de outra, vida e obra se consolidam na ilusão de ambas, tão certo quanto incerto o futuro, tão claro quanto surpreender-me no escuro. Mas que diabos! Há um cão mais arcaico do que lamber-se o branco, feito coito? Já devia ter-me acostumado à idéia da inutilidade de tudo — esquecer-se de si, matar-se de vida por uma obra. Tenho moído as pedras desta vida, e soprado os fantasmas do pó. Mão e mó de moer-se sozinho, o sonho é que move os moinhos. Prevalece o branco — a óssea resistência, a imponência da rocha — onde a vassoura dos ventos junta a ciscalha dos signos. Tenho varrido as folhas de tudo, as quedas do tempo, as sobras do sonho, a munha, no moinho dos ventos. Nos bolsos ainda apanho sustos, ainda alguma ilusão de Olimpo, o cisco do redemoinho das formas. Ainda uns fogos da noite, sonâmbulos relâmpagos, incendeiam meu quintal de figos efêmeros, os maduros imaginários do relógio. Ocupado em viver a morte que me vive, vivo enquanto agonizo. O tempo é um maestro de facas, e a vida o gemido rasgado de galos que morrem, mas agora a tudo tempero com a salsa da indiferença: já nem ligo para os furos nos bolsos, por onde tudo vazou: as pedras moídas nas horas desertas desta porfia à revelia de ampulheta. Toda perda, os frutos que perdi. Todo branco, a poeira que comi. Mas não se eleva do pó o Olimpo dos reveses? Vá que ainda me limpo na fortaleza dos deuses. Ah, pendurar-me o suor num prego, me banhar com a água do sossego!
Hoje, em diversos países, pessoas dedicam um pouco de seu tempo a ler a obra de um dos autores mais célebres da literatura mundial: J.R.R. Tolkien. Leia você também
Marcos Nunes Carreiro
[caption id="attachment_31506" align="alignright" width="300"] J.R.R. Tolkien: o autor é celebrado neste 25 de março[/caption]
“Num buraco no chão vivia um Hobbit”. Foi com esta frase que o mundo conheceu John Ronald Reuel Tolkien, o homem que não apenas colocou a escrita de fantasia de volta nas prateleiras de todo o mundo, como também criou as bases para que fosse considerado o “pai da fantasia moderna”.
Geralmente lembrado como o autor de “O Senhor dos Aneis”, Tolkien possui uma obra que abrange mais de 50 livros — grande parte deles publicados postumamente. Essa vasta obra contém a criação de um autor que formou uma mitologia completa para compor o mundo que mudou a forma de escrever sobre fantasia e, até os dias atuais, serve de guia para diversos autores, músicos, cineastas, pintores etc.
Por isso, Tolkien é o motivo que levou à formação de várias sociedades ao redor do mundo, como a Tolkien Brasil, que divulga o trabalho do autor no País e aglomera fãs e pesquisadores de sua obra. A principal dessas sociedades, como não poderia deixar de ser, é a internacional Tolkien Society, que tem sede na Inglaterra. Em 2003, essa organização deu início ao dia que motiva a escrita desta matéria: o Dia de Ler Tolkien.
O dia comemorativo foi escolhido pela Tolkien Society depois que um jornalista perguntou ao comitê: “Existe um dia dedicado informalmente para ler o autor, da mesma forma que o ‘bloomsday’ é dedicado a Joyce?”. Bloomsday é o único feriado no mundo dedicado à leitura de um livro não religioso, em que milhares de pessoas param o trabalho na Irlanda para ler James Joyce.
Por isso, o comitê da Tolkien Society, liderado à época por Chris Crawshaw, escolheu o dia 25 de março como o marco para ler a obra do autor britânico. Em homenagem a este dia, o Jornal Opção reproduz um dos trechos mais marcantes de “O Silmarillion”, obra central da mitologia tolkieniana, em que o autor descreve a criação das árvores que regem as histórias do mundo antigo, as Árvores de Valinor:
E enquanto olhavam, sobre a colina surgiram dois brotos esguios; e o silêncio envolveu todo o mundo naquela hora, nem havia nenhum outro som que não o canto de Yavanna. Em obediência a seu canto, as árvores jovens cresceram e ganharam beleza e altura; e vieram a florir; e assim, surgiram no mundo as Duas Árvores de Valinor. De tudo o que Yavanna criou, são as mais célebres, e em torno de seu destino são tecidas todas as histórias dos Dias Antigos.
Uma tinha folhas verde-escuras, que na parte de baixo eram como prata brilhante; e de cada uma de suas inúmeras flores caía sem cessar um orvalho de luz prateada; e a terra sob sua copa era manchada pelas sombras de suas folhas esvoaçantes. A outra apresentava folhas de um verde viçoso, como o da faia recém-aberta, orladas de um dourado cintilante. As flores balançavam nos galhos em cachos de um amarelo flamejante, cada um na forma de uma cornucópia brilhante, derramando no chão uma chuva dourada. E da flor daquela árvore, emanavam calor e uma luz esplêndida. Telperion, a primeira, era chamada em Valinor; mas Laurelin era a outra.
Leia mais: Tolkien: de fato o senhor da fantasia Jackson reinventa Tolkien O Hobbit e a eterna dualidade entre literatura e cinema Tomado pela “doença do dragão”, Peter Jackson destruiu a obra de J.R.R. Tolkien
Nem as flores estampadas em suas roupas conseguem dar à presidente a calmaria que tanto almeja ter para governar um País que, no entanto, luta contra a classe que a petista representa: a política

[caption id="attachment_31247" align="alignnone" width="620"] Foto: Fernando Leite/Jornal Opção[/caption]
Corre que ainda dá tempo! É que as inscrições fecham nesta terça-feira, 24. Ah, claro, as inscrições para os cursos técnicos do Basileu França, ofertados por meio do Centro de Educação Profissional, a partir da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Científico e Tecnológico e de Agricultura, Pecuária e Irrigação do Estado de Goiás. Os cursos são de habilitação profissional técnica de nível médio em artes, com formação em três anos.
Legal, não é? São 247 vagas nas áreas de música, teatro, dança e artes visuais. Leve seus documentos pessoais (copias e originais), uma foto 3x4, comprovante de escolaridade (pois, é necessário estar cursando ou ter cursado o ensino médio ou equivalente), mais a quantia de R$ 60 na secretaria do Basileu, ali no Setor Universitário, e prepare-se para as provas teóricas e de habilidades específicas, aplicadas a partir do dia 27 deste mês. E, ó, muita sorte!

[caption id="attachment_31494" align="alignnone" width="620"] Reprodução[/caption]
Que tal ver Thelma e Louise nas telonas? A jovem dona de casa Thelma, interpretada por ninguém menos que Geena Davis, e a garçonete quarentona Louise Sawyer, interpretada — também por ninguém menos que — Susan Sarandon, pegam a estrada, abandonando a vida monótona que levam.
Daí, você pode agitar a hora do almoço, pois as sessões são 12h30, exibidas do dia 23 ao dia 27 de março, no Centro Municipal de Cultura Goiânia Ouro. Aproveite!

Livro

Música

Filme

Livro

Música

Filme

- Desde o último dia 12, a cidade sob o olhar do Marcelo Peralta intervém em cartazes e grafite nas paredes do Museu de Arte de Goiânia (MAG).
- O artista reflete a sociedade e suas relações, a partir das engenhocas que condicionam a vida e alimentam os desejos humanos.
- Por exemplo, o carro: a sua velocidade, novas direções e alhures, além de símbolo de status e promoção social.
- A exposição “Autografia” ganha o espaço até o dia 19 de abril.

Que a população está infeliz com o governo atual todos já sabem, mas isso não significa que o regime do país tenha fracassado, ao contrário, está apenas evoluindo

- Que tal aproveitar a viagem a São Paulo –– essa que o leitor vai fazer para ver Zaz, Tulipa e Céu no Circuito Cultural –– e dar um mergulho no universo de Marina Abramović?
- A exposição “Terra Comunal + MAI”, que promete ser uma das maiores retrospectivas da artista sérvia já realizada na América do Sul, fica em cartaz de 11 de março a 10 de maio.
- A performer vem ao Brasil para oito encontros –– que prometem ser inesquecíveis –– com o público. Não perca!

Não é de ver que já faz 100 anos? Nasceu em um verão de 1915 e já se foi, deixando literatura imaginada como herança. Jus às boas palavras de José J. Veiga, o Sesc Goiás e a UFG homenageiam o mais cosmopolita dos goianos com seminários nos dias 18 e 19 de março. A Companhia das Letras deixará, sobre a mesa: “Os cavalinhos de Platiplanto” e “A hora dos ruminantes” –– as duas primeiras obras de Veiga. Fique atento que as inscrições terminam no dia 13. Tudo acontecerá no Sesc Centro.

[caption id="attachment_29764" align="alignnone" width="620"] Matheus Antunes é ilustrador[/caption]
Marcos Nunes Carreiro
Chuveiro semiaberto para afastar melhor o gostoso, mas frio, ar matutino. Com a cabeça encostada no azulejo recém-colocado no banheiro acinzentado, Laura pensa arduamente em como escrever. Queria, aliás, precisava dizer à Isis que não iria vê-la este ano. Conheceram-se há tempos e chegaram a morar juntas por uns meses. Adora a casa da amiga, pois, desde o momento em que a porta se abre já é possível ver algumas das telas de que gosta mais, embora suas favoritas fiquem expostas na galeria. Há alguns retratos de Laura lá.
Adora o lugar e a companhia, mas neste ano não dá. O livro está atrasado e ainda há muito que fazer se quiser levá-lo às lojas a tempo do feriado prolongado. Por isso a cabeça encostada no azulejo. Olhos fechados para dar melhor fluidez aos pensamentos, enquanto a água lhe cai sobre os alvos ombros, levando consigo as palavras de que não necessita e, ao mesmo tempo, fazendo movimentar as duas pintas que tem logo abaixo do braço direito.
Abre os olhos a tempo de ver todas as palavras que tinha em mente descerem pelo ralo.
Desliga o chuveiro e, com a toalha, tira o esfumaçado do espelho para poder se ver. O novo corte que seus belos cabelos louros adquiriram dias antes demandará um novo quadro de Isis. Toalha alçada ao pescoço, caminha livre e lentamente pelo corredor que leva do banheiro ao seu quarto.
Pelo corredor, livros. Livros de todos os tipos. Livros empilhados. Livros adequados a crianças e outros bastante inadequados. Livros por todos os lados. Livros grandes e pequenos, em brochura e em capa dura. Livros que discutem ou ilustram. Livros que narram. Livros na frente de outros livros e que refletem as diversas fases e interesses de Laura. Estão ali as palavras?
Toalha molhada em cima da cama. Veste-se, peça por peça, sob a morna luz do sol que entra pela janela ainda fechada. Venta lá fora. É possível perceber pelas árvores a balançar na praça em frente ao seu prédio. Levanta-se e vai olhá-las, esquecendo-se que está só de sutiã.
Abre a janela, o vento eriçando sua pele. Pensa no conto que escreveu por último. Isis está nele; estão as duas sentadas em um daqueles bancos de praça tão comuns e caros a elas. Lá embaixo, vê Heitor, seu amigo que mora a alguns quarteirões de distância, chegando ao Café que existe ao lado de seu prédio. Pega o envelope enviado por ele há dois dias, coloca o texto corrigido lá dentro e vê que está atrasada.
Volta-se, pega o computador e digita: “I’m waiting u this year”. Enviar. Sai vestindo a blusa, mas esquece a porta aberta.
Já se maravilhou de Colombina? E de Fiu-Fiu, então? Não? Ah, então se prepara, pois essas genuínas bebidas goianas vão assoprar velinhas em alto estilo, à lá Móveis Coloniais de Acaju, pode acreditar. É, mocinho e mocinha, seu 7 de março já tem festa confirmadíssima com o show “Móveis Axé 90”. Então, separa as sapatilhas e vai ensaiando na frente do espelho com a irmã, com os primos, com a galera toda, pois a banda vai embalar esses hits lá no Martin Cererê. E, ó, não dá para levar o papagaio e o cachorro, porque lá é só para maiores de 18 anos. A comemoração começa às 22 horas, heim. E se liga que o primeiro lote de ingressos — que custam R$ 30 — já está à venda.
Fica em cartaz, até o dia 21 de abril, o projeto “Curta ao Meio-Dia”. Trata-se de uma seleção de curtas cujo objetivo é oferecer mais entretenimento ao público durante os fins de semana em um horário “meio morto”. As exibições acontecem no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em Brasília, entrada franca. Em março o tema é Curtas Universitários; em abril, para fechar, serão exibidos os Clássicos de Brasília. Então, se estiver na capital federal, lembre-se: ao meio-dia, seu lugar é no CCBB.

Rigidez nos mecanismos de acesso e exigência de mais comprometimento de alunos são um modo de tentar consertar as mazelas da educação básica? Ações do governo federal precisam ser analisadas