Por Euler de França Belém
O competente jornalista Henrique Morgantini, um dos mais cerebrais e perspicazes auxiliares do petista Antônio Gomide na campanha para governador, admitiu, num programa de rádio, que nem que vaca tussa em grego arcaico Iris Rezende terá condições de derrotar Marconi Perillo. Morgantini é anti-Marconi, mas é um analista racional e, às vezes, preciso. Além de ter um humor ferino e fino, como se fosse um britânico.

[caption id="attachment_17731" align="alignleft" width="620"] Frei Tito, numa fotografia de 1966: o religioso foi destruído pela tortura perpetrada pela equipe de policiais do delegado Sérgio Paranhos Fleury | Fotos: Reprodução[/caption]
No livro “Um Homem Torturado — Nos Passos de Frei Tito de Alencar” (Civilização Brasileira, 418 páginas), as jornalistas Leneide Duarte-Plon e Clarisse Meireles entrevistaram o psiquiatra francês que tentou mas não conseguiu tratar o frade dominicano.
Jean-Claude Rolland recebeu o frei Tito no Hospital Édouard Herriot, de Lyon, em 1973. Na época, aos 35 anos, além de atuar como psiquiatra, fazia uma formação na Associação Psicanalítica da França (APF). Hoje, tendo abandonado a psiquiatria, atua como psicanalista.
O dr. Rolland admite que o frei Tito “foi um marco” na sua vida profissional. “Desde que tratou do dominicano, o médico não parou de escrever e testemunhar sobre as consequências da tortura no psiquismo do jovem paciente”, relatam Leneide Duarte-Plon e Clarisse Meireles. Às entrevistadoras, ele disse que, “ao refletir sobre a tortura, descobriu que existe na humanidade uma imensa capacidade de destruir o outro, ainda que profundamente reprimida”. “A tortura se desenvolve em bases que já existem. Há, no fundo de nós mesmos, muito recalcada, uma capacidade de destruir o outro, e o torturador apenas ativa essa capacidade de destruição”, afirma o psiquiatra-psicanalista.
Ao se aproximar de Tito, ao tentar entendê-lo, em busca do tratamento adequado, o dr. Rolland percebeu que não conseguiam se comunicar. Havia aquilo que chama de “sofrimento tão incomunicável”. “Quando compreendemos, os frades e eu, que Tito tinha vivido coisas atrozes e que nos tinha escapado pelo suicídio, disse a mim mesmo que era preciso testemunhar o que ele viveu. E comecei a fazer pesquisas”, afirma o médico.
No tratamento psiquiátrico, ou na abordagem psicanalítica, é preciso notar o que é específico do indivíduo. Quando o frei Tito chegou ao serviço de emergência da unidade de psiquiatria do hospital, o dr. Rolland disse que poderia, de imediato, “ter qualificado seu estado” como “delirante, pois pensava que Fleury estava lá, ouvia vozes”. Porém, observando mais atentamente, o médico diz ter percebido que “eram vozes que ele tinha realmente ouvido, de torturadores e torturados”. Não era delírio nem fantasia.
Em vez de delírio, a fala entrecortada do frei Tito era uma espécie de “sintoma-testemunho”. Era “a única forma possível de contar a tortura, de testemunhar a barbárie de que fora vítima”, anotam as jornalistas. “Ele dramatizava para exprimir com o corpo algo que estava além das palavras e da consciência”, diz Rolland. Tito levara os torturadores para a França — “dentro de si”.
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Jean-Claude Rolland, psiquiatra e psicanalista francês que tentou tratar o dominicano Tito, mas admite que fracassou, pois o paciente esperava que a “cura” viesse de Deus[/caption]
O francês Xavier Plassat, religioso amigo de Tito, sugere que a queda de Salvador Allende, no Chile, em 1973, acelerou a crise do religioso brasileiro. Mas Rolland ressalva que as alucinações do frei não tinham a ver com a queda do presidente chileno. “Tito já estava destruído, sofria os efeitos da tortura. Ele já devia estar destruído em Paris, inclusive porque não pôde utilizar os recursos terapêuticos que lhe foram propostos. Penso que desmoronou quando foi escolhido para ser trocado pelo embaixador, como se a prisão o protegesse contra uma espécie de desejo de morrer. Como se não tivesse direito de ser livre. Há em alguns pacientes uma culpa ou uma vergonha tão grandes que eles não podem se curar, como se não tivessem o direito de viver. Só podem viver de maneira reduzida, estreita, atormentada”, afirma o psiquiatra.
Ao torturar Tito, o delegado Sérgio Fleury sempre dizia que o frei havia traído seus companheiros. “Ele [Tito] tinha vergonha e se sentia um traidor. Parecia consumido pela vergonha. Mas não se pode pedir a um torturado que não confesse, tudo é feito para levá-lo a falar. Em nossas sessões ele era silencioso, cheguei a me perguntar depois se sabia falar bem francês. O que eu escutava era o que seu silêncio continha de sofrimento e de recordações. Foi, sem dúvida, a experiência mais violenta que tive em toda minha prática psiquiátrica”, assinala Rolland. Tito se expressava bem em francês, ainda que com sotaque. Mas, nas consultas, um frade falava por ele, explicando sua história e o que fazia no dia a dia.
No seminário francês, o frei Tito vivia calado, mas preocupado, acreditando que Sérgio Fleury estava torturando sua família no Brasil.
Há torturadores que querem informações, mas há torturadores, como Sérgio Fleury, que, além das informações, querem destruir seus oponentes. No caso do frei Tito, o delegado conseguiu. “Pode-se dizer que ele foi quebrado porque tinha um ponto de fraqueza. Mas todos os homens têm um ponto de fraqueza. Há algo na perversidade da tortura que leva o torturador a procurar no outro exatamente o que ele percebe que não vai resistir. Eles visaram à sinceridade do seu sacerdócio, foi aí que ele foi terrivelmente posto à prova, perseguido, acuado. E desmoronou”, anota Rolland.
Os torturadores perceberam que, ao massacrá-lo e ao “dialogar” com ele, poderiam “demolir sua autoestima”. Por isso insistiam que ele era “traidor”. Insinuavam que era homossexual (as autoras discutem a questão, mas não apresentam uma conclusão). Para Rolland, “a violência da brutalidade extrema, desumana, da prática da tortura traz com ela a abolição de toda semelhança entre os carrasco e a vítima, elimina a língua comum. A instrumentalização das palavras e da linguagem que, no uso do insulto, por exemplo, se reduzem a ‘atos’ destinados a ferir a pessoa e a desvalorizá-la, exclui a vítima de sua própria língua”.
O silêncio de Tito é interpretado por Rolland como “a arrogância dos mártires”. “Era um homem que tinha um ideal importante, grandioso. Em seu profundo sofrimento, lembrava São Francisco de Assis ou Cristo. Ele tinha se identificado com Cristo, era impressionante. Parecia completamente destruído, mas ao mesmo tempo sentíamos que a última coisa que o sustentava era a ideia de que era um mártir. Ele tinha aquela superioridade dos mártires, a arrogância dos mártires.”
O psiquiatra não conseguiu “acessar” Tito, porque este “esperava que a cura viria de Deus, não dos homens”. “A tortura”, afirma Rolland, “tinha esvaziado Tito, retirado dele qualquer possibilidade de relacionamento”.
O psiquiatra-psicanalista admite que o suicídio de um paciente “é uma derrota”. Assim, para Rolland, “o tratamento de Tito foi ‘enriquecedor e deprimente’”. “Fiquei realmente chocado, ele escapou a todos nós. Mesmo sabendo que fugia e se esquivava o tempo todo, foi um choque. Tito não estava mais presente. Mas suicidar-se... Ele realmente nos escapou. Mas talvez a ideia de se suicidar lhe veio no momento de sua libertação.”
É possível que Tito seja visto como tendo uma espécie de loucura. Mas o psiquiatra-psicanalista Rolland discorda: “Hoje, penso que a loucura está no torturador. É preciso ver a tortura como uma loucura. Alguns militares que torturaram na Argélia ficaram loucos. Só se pode fazer isso exercendo uma distorção mental muito grande. Albernaz, um dos torturadores de Tito, lhe disse: ‘Quando venho para a Operação Bandeirantes, deixo meu coração em casa’. Isso mostra que são realmente seres divididos, como se houvesse uma cisão”.
Por que, exatamente, o religioso se matou? Rolland apresenta uma explicação: “O suicídio de frei Tito teria sido consequência das sevícias que ele suportou na prisão, da tortura, das desordens psíquicas que se seguiram e, finalmente, do exílio forçado num país estrangeiro. Tudo isso que se pode resumir na perda de todo o controle sobre seu destino e de esperança no gênero humano. O suicídio é um ato de desespero, cego. Por isso, deve-se evitar explicá-lo: no momento do ato, significa o bloqueio das funções intelectuais, tanto no autor do ato quanto nos que o cercam. Porque o suicídio não é nunca o ato solitário que pensamos, inscreve-se num contexto de relações no qual o outro é ao mesmo tempo interpelado e repudiado”.
Tito, frisa Rolland, “vivia como um exilado do mundo que, para ele, era habitado pela sombra dos torturadores. Os vivos que o cercavam eram representantes dos carrascos, particularmente Fleury. (...) Estava claro que nós, que o tratávamos, éramos identificados com seus torturadores. (...) Ele tinha a impressão de que ia ser morto de um momento para outro. Foi o que deve ter sentido durante sua prisão e tortura. Vivia como um condenado à morte, e o suicídio se inscreve nesta lógica: matar-se em vez de ser morto. Esse é o sentido de sua primeira tentativa de suicídio na prisão. Pode-se dizer que, com esse gesto, ele se identificou com seus agressores. Assim, é legítimo afirmar que o delegado Fleury foi, em última instância, autor de um assassinato”.
O que queria Sérgio Fleury, ao insistir na tortura ao frei Tito, que, a rigor, nada mais tinha a dizer que contribuísse para desmantelar a guerrilha armada? O delegado “queria destruir nele o que não lhe é semelhante”, analisa Rolland. “O que quer Fleury de Tito quando pela tortura quer apagar toda diferença entre eles? Seu desaparecimento como ser”, sublinha o psiquiatra-psicanalista.
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Frei Tito, o religioso brasileiro que a ditadura levou ao suicídio
A repórter Maria Fernanda Rodrigues, na coluna “Babel”, de “O Estado de S. Paulo”, anuncia uma das melhores notícias literárias do ano: o lançamento do romance “Vida e Destino” (Alfaguara, 920 páginas), com tradução direta do russo por Irineu Franco Perpétuo. O livro é apresentado pelo “Estadão”, erroneamente, com o título de “Destino e Vida”. O “Times Literary Supplement” assinala: “Uma das grandes obras-primas do século 20”. Martin Amis corrobora, e sem exagerar (muito): “Vassili Grossman é o Tolstói da URSS”. Boris Pasternak era acima de tudo poeta, mas escreveu uma espécie de romance-vingador contra o stalinismo, reverberando a literatura política da Rússia do século 19. É provável que com “Doutor Jivago”, belo mas não muito sólido livro, Pasternak tenha tentado mostrar sua identificação com autores que nada tinham a ver com o realismo socialista dos tempos de Stálin. “Sou quase czarista”, poderia ter dito o poeta. Como “Doutor Jivago” ganhou o Nobel de Literatura e foi levado ao cinema, numa magnífica adaptação de David Lean — quiçá mais romântica do que o livro, que é profundamente realista —, o poeta Pasternak foi ligeiramente deixado de lado, em certo momento da história. Hoje, na e fora da Rússia, é o poeta que brilha mais. O grande romance do século soviético é mesmo “Vida e Destino”, que a turma de Stálin boicotou e impediu a publicação. Vassili Grossman era um escritor inspirado e um jornalista talentoso, que cobriu, de maneira brilhante e perspicaz, a Segunda Guerra Mundial, no front soviético. Era permanentemente vigiado pelos stalinistas. Porque era livre e não escondia o que via. A seguir, um release da Editora Alfaguara: “‘Vida e Destino’ é um épico moderno e uma análise profunda das forças que mergulharam o mundo na Segunda Guerra Mundial. Vassili Grossman, que esteve no campo de batalha e acompanhou os soldados russos em Stalingrado, compôs uma obra com a dimensão de Tolstói e de Dostoiévski, tocando, ao mesmo tempo, num dos momentos cruciais do século 20. “Este é um dos poucos romances que parecem abarcar toda a vida. Os campos de prisioneiros militares e os campos de concentração; os altos-comandos, com Hitler de um lado e Stálin de outro; a disputa insensata dos soldados por uma única casa na cidade em ruínas; e os dramas familiares dos que ficam para trás e enfrentam o terror político e a incerteza. Não existe um romance sobre a Segunda Guerra com a mesma força dramática, com o mesmo impacto. “Finalizado em 1960, e a seguir confiscado pela KGB, o livro permaneceu inédito até a metade dos anos 1980. Uma vez redescoberto, foi alçado a um dos romances mais importantes do século 20. A edição da Alfaguara de ‘Vida e Destino’ foi traduzida do russo por Irineu Franco Perpetuo, a partir da edição mais completa do romance, publicada na Rússia em 1989.” Leia Mais: Os três melhores romances do ano são de um cubano, de um russo e de uma americana/Retranca: “Paradiso”, “Vida e Destino” e “O Pintassilgo”

[caption id="attachment_17703" align="alignleft" width="300"] Livro revela que Montgomery dizia que Patton era “um chulo amante da guerra” e este dizia que aquele era um “inglesinho metido”[/caption]
Imagine um livro de história que ensina e, ao mesmo tempo, diverte. Estamos falando do ótimo “Mestres da Batalha — A Guerra de Monty, Patton e Rommel” (Record, 460 páginas, tradução de Vítor Paolozzi), de Terry Brighton. O autor se refere a Bernard Montgomery, comandante inglês, George Patton, comandante americano, e Erwin Rommel, comandante alemão. Eles foram decisivos na Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Mas o ego dos três era quase do tamanho das batalhas.
Monty, Patton e Rommel “eram arrogantes, ávidos por publicidade e apresentavam defeitos pessoais, porém contavam com uma genialidade para comandar homens e um entusiasmo para o combate sem paralelos”, anota Brighton.
Rommel era um gênio militar raro e, até se tornar “traidor”, era respeitado por Hitler. Sua fama logo extrapolou as fronteiras alemãs. “Tornou-se o único general alemão com renome na Grã-Bretanha e na América antes de a maioria sequer ter ouvido falar em Montgomery e Patton”, registra Brighton.
A guerra se deu entre potências, mas Brighton nota que também era “uma disputa bastante pessoal”.
Com uma prosa ágil, o historiador observa que, apesar de pequeno e arrogante — desdenhava até Winston Churchill —, Montgomery derrotou Rommel em El Alamein.
Patton “liderou as tropas americanas à sua primeira vitória no norte da África e comandou as forças dos EUA na invasão da Sicília. Após o Dia D”, o general “chefiou o irrompimento pelas linhas alemães na Normandia, o único comandante aliado a emular a blitzkrieg (guerra relâmpago) de Rommel”. Ele não tinha papa na língua: “Fuzilaria pessoalmente aquele filho da puta do Adolf Hitler”.
Rommel “repeliu os britânicos de volta para El Alamein, derrotou os americanos em Kasserine e ganhou o apelido de Wüstenfuchs (Raposa do Deserto) pelo notável brilhantismo de suas táticas de batalha”.
Montgomery e Patton respeitavem Rommel. “Monty mantinha um retrato do alemão no seu trailer de comando, enquanto Patton estudou o livro de Rommel sobre táticas.” Rommel admirava os rivais: “Montgomery jamais cometeu um erro estratégico sério... [e] no exército de Patton vimos o mais impressionante feito em guerra móvel”.
Mas Patton e Montgomery se detestavam. Patton, para o general inglês, era “um chulo amante da guerra”. Patton não ficava atrás e chamava Monty de “inglesinho metido” e frisava que podia “vencer esse peidinho a qualquer hora”.
Na Normandia, o avanço de Montgomery falhou e Patton não perdoou e disse que as tropas americanas “livrariam a cara do macaquinho”. O britânico exagerava e dizia que Churchill deveria retirar o “dedo gordo” de “suas” batalhas. Patton acreditava que, mais do que na guerra, o general Dwight D. Eisenhower estava de olho grande na Casa Branca.
Brighton sai do “muro” e admite que Patton era “o único comandante aliado a se equiparar a Rommel no seu próprio jogo”.
Apesar das picuinhas, Patton, Rommel e Monty (extremamente metódico) eram militares excepcionais e foram centrais no desfecho da guerra.

A transgênero Padmini Prakash é a primeira transgênero a apresentar um telejornal na Índia. Os transgêneros são admitidos no país como terceiro sexo, depois de uma decisão da Corte Suprema. A TV Lotus pôs Prakash no ar e a recepção da população foi positiva. “Eles não olharam para o meu sexo, mas para o meu talento”, afirma a jornalista.
Prakash provavelmente é competente, por isso foi escolhida para apresentar o telejornal. Porém, no mundo do espetáculo, das sensações rápidas, é possível que a cúpula da televisão quis chamar a atenção do público. E conseguiu.

Lançamento — Michael Reid, editor da “The Economist”, é especialista em América Latina. Quase um scholar. A maioria dos textos recentes da revista sobre o Brasil foi escrita pelo jornalista. Ele acaba de lançar o livro “Brasil — A Turbulenta Ascensão de um País” (Campus, 320 páginas, tradução de Cristiana de Assis Serra).
Jorge Felix, do jornal “Valor”, transcreve um trecho do livro: “(...) é uma peculiaridade dos brasileiros a ênfase nos sentido do tato. (...) Os brasileiros são extremamente cordiais e rápidos para adotar um tratamento aparentemente íntimo. Alguém que você nunca viu pode arrematar um e-mail com ‘Abraços’, em geral abreviando para ‘Abs’. Contudo, por trás dessa cordialidade espreita uma considerável dose de falta de confiança pessoal (pelo menos, segundo pesquisas de opinião) e cinismo”.
Reid afirma, na síntese de Jorge Felix, que o Brasil “pode estar com os motores do crescimento econômico desligados, mas a potência motriz é enorme e acionável. (...) Ainda que eu não acredite que o país corra o risco de outro colapso econômico, como muitos brasileiros, receio que, sem a liderança política e as políticas corretas e sem reformas políticas, entre outras, seu ritmo de avanço poderá decepcionar tanto brasileiros quanto estrangeiros”.
Para o editor da “Economist”, “o Brasil se caracteriza por ciclos de esperança seguidos de decepção”.
A presidente Dilma Rousseff não está equivocada quando afirma que o crescimento da economia brasileira é baixo devido a crise internacional, admite Reid. “Mas o Brasil ficou abaixo da média internacional por erros de política econômica e falta de mudanças estruturais para atacar o custo Brasil.”
Por falar em custo Brasil, o preço do livro de Reid — R$ 74,90 — é escorchante e, por certo, vai chamar a atenção do jornalista. Nenhum livro da Companhia das Letras e da Record, duas das melhores editoras patropis, custa mais de 74 reais — se tem apenas 320 páginas. Os livros da Editora Campus são sempre os mais caros do País.

Ao anunciar sua saída do “Jornal Nacional”, Patrícia Poeta se tornou alvo de fofoca em jornais, blogs e redes sociais. Seu dilema é: como desmentir o que não é verdadeiro? Não é possível, porque, se entrar neste debate infrutífero, só vai alimentar o submundo da internet. Às vezes um charuto é só um charuto, mas os maliciosos podem sugerir que é um símbolo fálico.
Patrícia Poeta pode ter decidido sair do “Jornal Nacional” porque queria mesmo fazer outra coisa (apresentar um programa de variedade, como disse), talvez, de sua perspectiva, menos desgastante. Jornalismo, para quem se dedica integralmente à profissão, suga até a alma. É provável que sua irmã, ao dizer que ela só quer ser feliz, tenha razão.
O que ocorreu com Poeta e William Bonner — disseram que puxou o tapete da colega — indica, como sugere a jornalista e escritora Janet Malcolm, que a profissão de jornalista é mesmo indefensável.
Contaram, até, que Poeta comprou um apartamento por 23 milhões de um empresário que teria mantido contato com Fernando Cavendish e Carlos Cachoeira. Porém, se o dinheiro era/é a da jornalista, cadê o crime? Mas claro que o fato é notícia, aqui e em qualquer lugar. O problema são as ilações.
O escritor francês Patrick Modiano ganhou o Prêmio Nobel de Literatura de 2014. Acessei o Estante Virtual e seus livros estavam sendo vendidos a 4 reais (comprei vários por 150 reais). Mais tarde, voltei ao site e os preços haviam sido alterados. A maioria já valia mais de 50 reais. É a tal lei da oferta e da procura do capitalismo.
O chefão da Amazon, Jeff Bezos, comprou o “Washington Post”, o jornal que provocou a queda do presidente Richard Nixon, por 250 milhões de dólares. Os jornais americanos são regionais. O “Post” e o “New York Times” circulam em todo o país, mas em muitos Estados são menos relevantes do que os jornais locais. É a regra em países gigantes, como Estados Unidos e Brasil. Porém, provando que não está brincando, Bezos assegura que vai aumentar a presença nacional do “Post”, a casa editorial do mítico repórter Bob Woodward, de 71 anos. Bezos disse à “Business Week” (cito a partir do Portal Imprensa) que pretende produzir o “Post” no formato “digital com ajuda da Amazon. A ideia é criar um aplicativo gratuito que poderá ser lançado ainda neste ano no novo tablet da varejista, o Fire HDX 8.9”. Segundo o Portal Imprensa, “o novo serviço deve oferecer uma curadoria de notícias e imagens do jornal em um formato de revista específico para tablets. A publicação informa também que os planos de Bezos incluem lançamento de aplicativos para iPad e tablets Android, que funcionariam por um sistema de assinatura mensal. A ferramenta é desenvolvida por um grupo do jornal que integra o projeto intitulado ‘Rainbow’, comandado pelo ex-editor chefe do site Salon Kerry Lauerman”. O “Pop”, que faz mudanças cosméticas e desconectadas das mudanças globais, deveria mirar-se, guardadas as proporções, no exemplo do “Post”.
A repórter-fotográfica Cristina Cabral deixou o “Pop” na terça-feira, 7. Ela trabalhou quase 27 anos no jornal. “Sentirei muita falta, mas estava na hora de mudar”, escreveu a profissional no seu Facebook. Ela acredita que “sempre” se “tem um novo caminho”. Na semana anterior, a competente Carla Borges, depois de quase 19 anos de “Pop”, pediu demissão. Mais dois repórteres do jornal estão prestes a pedir demissão. Sem que os editores reajam, está se processando um desmanche da redação. Todos sugerem que a empresa paga mal e não investe na qualificação dos repórteres. Outros dizem que a editora-chefe Cileide Alves elegeu os “campeões” — como Fabiana Pulcineli e Márcio Leijoto — e só eles têm um salário um pouco melhor.
O “Pop” publicou uma reportagem para dizer que apenas dois políticos foram eleitos para deputado federal com os próprios votos — o delegado Waldir Soares, do PSDB, e o deputado estadual Daniel Vilela, do PMDB. O que o jornal não diz é que isto ocorre em qualquer lugar do país — e não é nenhuma novidade. O principal objetivo do quociente eleitoral é fortalecer os partidos políticos.
Na quinta-feira, 9, o “Pop” publicou extensa entrevista do vereador Tayrone di Martino, esquecendo-se que uma entrevista idêntica havia sido publicado pelo Jornal Opção Online há mais de uma semana. O jornal da família Câmara adora ser o primeiro a chegar atrasado.
O jornalismo não aprecia o uso de adjetivos e advérbios. Os manuais de redação são “ricos” em orientações para evitá-los. Porém, todos sabemos que a vida seria insossa, sem vida, sem adjetivos e advérbios. Um livro não poderia ser “belo” e “delicioso”, tampouco “muito bom”. Escoimar adjetivos e adjetivos dos textos, para conferir suposta precisão às informações, é como arrancar a carne de um frango e deixar apenas os ossos. Fica tudo muito seco — indolor, incolor e um bolor. Claro que o uso abusivo de adjetivos e advérbios cria exageros, mas a falta deixa artigos e reportagens mais frios e, mesmo, mais tristes.
A assessoria de imprensa da TV Globo nega, mas o sempre bem informado Portal Imprensa sugere que a jornalista Maria Júlia Coutinho, de 36 anos, “poderá ser a primeira apresentadora negra a ocupar a bancada do ‘Jornal Nacional’”. A mudança estaria programada para o próximo ano.
Na TV Cultura, ao lado de Heródoto Barbeiro, Maria Júlia Coutinho apresentou telejornais. Portanto, tem experiência com a apresentação de notícias. A jornalista é tão bonita quanto Patrícia Poeta. Talvez (até) mais.
Heraldo Pereira é, até agora, “o único jornalista negro” a apresentar o “Jornal Nacional”. Mas não é o titular. Ele apresenta o “Jornal Nacional” aos sábados e cobre férias dos titulares, como William Bonner. É competente, mas falta-se a segurança de Bonner. Este, mesmo quando está lendo no teleprompter, parece que está comentando a notícia, tal o domínio que tem do meio tevê.
O Portal Imprensa conta que, quando Fátima Bernardes deixou o “Jornal Nacional”, para se dedicar ao mais lucrativo e menos cansativo ramo do entretimento, a Globo cogitou colocar em seu lugar a jornalista Glória Maria. Não é praxe, porém, a Globo colocar jornalistas mais velhos na apresentação de notícias.

Os institutos Ibope e Datafolha publicaram pesquisas de intenção de voto para presidente na quinta-feira, 9. Se a eleição fosse realizada hoje, o presidente do Brasil seria o tucano Aécio Neves – com 51% dos votos válidos. A presidente Dilma Rousseff teria 49%. Desconsiderando os votos válidos, o senador mineiro tem 46% e a petista aparece com 44% – caracterizando um empate técnico. Os números do Ibope e do Datafolha são idênticos.
Os números são mais positivos para Aécio Neves. Porque o tucano terminou o primeiro turno em segundo lugar e, logo na primeira pesquisa, aparece superando Dilma Rousseff. Os dados divulgados pelo Ibope e pelo Datafolha mostram que Aécio Neves está em ascensão e pode crescer mais nas próximas pesquisas. Os números da presidente, numa eleição polarizada, indicam estagnação. É como se o eleitor pensassem assim: “Dá para derrotar a presidente da República? Então vamos derrotá-la”. No primeiro turno, Aécio Neves obteve 33,55% dos votos. Agora, portanto, subiu 12,45%. Dilma Rousseff recebeu 41,59%. Agora, subiu 2,41%. A diferença é considerável.
Na pesquisa do Ibope, 4% dos entrevistados estão indecisos. Na do Datafolha, são 6%. 4% disseram que vão votar em branco ou anular o voto – nas duas pesquisas.
O Ibope ouviu 3.010 eleitores em 205 cidades do país, entre os dias 8 e 9 deste mês. O Datafolha entrevistou 2.879 pessoas, entre os dias 8 e 9 de outubro. As pesquisas estão registadas no TSE