Por Euler de França Belém
Na “Carta a Edward Warrington”, de 16 de janeiro de 1787, o presidente Thomas Jefferson (1743-1826), escreveu: “Se dependesse de decisão minha termos um governo sem jornais ou jornais sem um governo, não hesitaria um momento em preferir a segunda alternativa”. Franklin Martins e Rui Falcão, mais petistas do que jornalistas, divergem de Jefferson, avaliado, quem sabe, como démodé. A dupla e seus aliados, usando como pretexto uma reportagem da “Veja” — que revela, baseada em depoimento do doleiro Alberto Youssef, que a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula da Silva sabiam dos malfeitos no Petrobrás —, querem regular a mídia. Um parêntese: só o mais néscio dos nefelibatas pode acreditar que uma presidente da República, que recebe informações da Polícia Federal, da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e de fontes variadas, não sabe, às vezes não detalhadamente, o que ocorre numa multinacional estatal gigante como a Petrobrás. Quem leu a matéria atenta e cautelosamente deve ter percebido que não é excessiva e, se diz que os petistas-chefes sabiam dos esquemas corruptos, não acrescenta que estavam ou estão envolvidos. Não há indícios de que Dilma Rousseff e Lula da Silva estejam envolvidos em falcatruas. Ao concentrar fogo na “Veja”, a militância petista escondeu que o jornal “Folha de S. Paulo” confirmou que, de fato, o doleiro havia dito que os dois petistas sabiam das práticas de bas-fond na Petrobrás. A “deixa” da “Veja” serviu para azeitar o projeto-vingança contra a imprensa que rejeita a tutela petista. Dilma Rousseff — que tende a ser mais moderada — rejeitava, na maior parte do primeiro mandato, e com isso contrariava os reds petistas, a regulação da mídia. Agora, irritada com a “Veja” e, na verdade, com a imprensa em geral — que, efetivamente, torceu pela vitória de Aécio Neves —, a presidente disse que vai mandar para o Congresso Nacional um projeto de regulação econômica da mídia. “Eu não vou regulamentar a mídia no sentido de interferir na liberdade de expressão. Eu vivi sob a ditadura e, por viver sob a ditadura, eu sei o imenso valor da liberdade de imprensa”, desconversou a presidente. Em tese, o projeto não visa censurar jornais e revistas e controlar sua linha editorial. Em tese. O petismo e a presidente sugerem que estão “preocupados” com oligopólios e monopólios, tipo Grupo Globo e, em Goiás, o Grupo Jaime Câmara. Na mesma cidade, os grupos não poderiam ter televisão, rádio e jornal, além de produtos jornalísticos na internet. Parece uma boa ideia e os pacóvios das províncias parecem aprová-la. Porém, do grego Aristóteles ao italiano Nicolau Maquiavel e ao britânico Thomas Hobbes, sabe-se que ideias que parecem positivas costumam às vezes esconder ou embutir ideias negativas. Grandes grupos de comunicação, monopolistas ou não, conseguiram descolar-se do controle do Estado e isto não agrada aqueles que avaliam que o Estado não é uma coisa pública, mas sim praticamente privada, de um partido político. Como conquistaram uma certa independência, por ter vínculos comerciais fortes com o mercado — quanto mais anúncios particulares na “Veja”, na “Época”, na “Folha”, no “Estadão”, em “O Globo”, e em quaisquer outros veículos, mais autonomia —, algumas publicações deixaram, há algum tempo, de ser o sorriso do poder e se tornaram, às vezes não vagamente, o sorriso da sociedade. Aos “controladores” do Estado, que o privatizaram politicamente, tal liberdade não agrada. O combate aos ditos “monopólios”, que agrada alguns veículos de comunicação dos Estados menos aquinhoados com recursos federais — fala-se numa atraente e ilusória regionalização da distribuição das verbas do governo de Dilma Rousseff —, além de acadêmicos das escolas de Comunicação do País, esconde, na verdade, um combate frontal àqueles veículos e empresas que escaparam aos tentáculos de polvo gigante do poder.

A Editora Rocco publicou no Brasil os livros de Patrick Modiano “Ronda da Noite” (tradução de Herbert Daniel, 111 páginas) “Dora Bruder” (tradução de Márcia Cavalcanti Ribas Vieira, 113 páginas), “Do Mais Longe do Esquecimento” (tradução de Maria Helena Franco Martins, 118 páginas), “Uma Rua de Roma”, “Vila Triste” (tradução de Angela Melim, 145 páginas) e “Meninos Valentes” (tradução de Angela Melim, 157 páginas) e a Cosac Naify lançou “Filomena Firmeza” (Flávia Varella, 95 páginas). A Rocco vai relançar, em dezembro, “Ronda da Noite” (uma pesada história sobre colaboracionismo, delação e corrupção dos franceses durante a ocupação nazista na França), “Uma Rua de Roma” (deve ser “Na Rua das Lojas Escuras”, que li numa tradução de Ana Luísa Faria e Miguel Serras Pereira; a edição é da Relógio d’Água. É a história de um homem que tenta recuperar sua memória e reconstruir sua história. É um romance belíssimo) e “Dora Bruder” (romance belo e doloroso sobre uma vítima do nazismo na França; como há escassos dados sobre sua história, exceto que era jovem e rebelde, o narrador imagina, mas não de maneira esclarecedora, e sim elíptica, uma vida para a judia Dora Bruder). “Uma Rua de Roma” ganhou o prêmio Goncourt em 1978. Merecidamente.
A Rocco revela, em seu site, que os livros vão ganhar novo projeto gráfico. O anterior é acanhado. Desde que Patrick Modiano ganhou o Nobel de Literatura, seus livros (esgotados na Rocco e livrarias) desapareceram dos sebos. Gastei 152 reais para comprar sete obras. Hoje, quando “Filomina Firmeza” é o único fácil de encontrar, não se acha nenhum volume por menos de 150 reais. Antes, adquiri pelo menos dois exemplares por 4 e 4,5 reais. O valor do frete foi maior.
Horace Engdahl, da Academia Sueca, afirma que Patrick Modiano é “um Proust de nosso tempo”. Talvez seja um Proust minimalista e mais próximo do autor de “Em Busca do Tempo Perdido” devido à sua obsessão com a memória. Seus romances são pequenos, com pouco mais de 100 páginas. Sua prosa é rápida, feita de parágrafos curtos e sem concessões ao leitor, que, para absorvê-la da melhor maneira possível — e não se sabe se a percepção é completa —, precisa ler com atenção redobrada, como se fosse um leitor-participante. As lacunas — a literatura de Patrick Modiano é pródiga em lacunas — têm de ser preenchidas pela imaginação do leitor. Fica-se com a impressão de que se está andando ao lado das personagens (os narradores são as figuras centrais), numa espécie de ziguezague permanente. De algum modo, ficamos tão confusos com certa falsa de lógica da vida, no momento em que está ocorrendo ou sendo contada, quanto as personagens. O narrador de “Do Mais Longe do Esquecimento” anda com Jacqueline por Paris e Londres, parece apaixonado pela bela mulher, porém mal sabe quem ela é. Jacqueline, personagem moderna (é uma mulher livre) e enigmática, desaparece-e-aparece-e-desaparece. Sua obsessão? Ir para Maiorca, na Espanha. O motivo? Seria alguma segurança? Nem o narrador sabe direito.
Portanto, há um quê de Henry James (quiçá a ambiguidade) e de Marcel Proust (a memória como vital para recuperar a essência e, também, as filigranas da vida, da história), mas a forma de relatar a história, até como se o autor (ou o narrador) não estivesse contando nada de muito interessante e como se nada estivesse acontecendo, é diferente da dos autores de “As Asas da Pomba” e de “Em Busca do Tempo Perdido”. Enquanto James e Proust são adeptos de uma prosa mais arrastada, Patrick Modiano prefere uma prosa veloz e sintética.
A literatura de Patrick Modiano é de alta qualidade e a Academia Sueca acertou ao conceder-lhe o Prêmio Nobel de Literatura de 2014.

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O Nordeste deu ao Brasil seu maior sociólogo, o pernambucano Gilberto Freyre, autor do clássico “Casa Grande & Senzala”; dois de seus principais prosadores, o alagoano Graciliano Ramos, autor de “Vidas Secas” e “São Bernardo, e a cearense Raquel de Queiroz, autora de “O Quinze” e “Memorial de Maria Moura”; dois de seus poetas mais sofisticados, os pernambucanos Manuel Bandeira, criador de “Estrela da Vida Inteira/Poesia Completa”, e João Cabral de Melo Neto, autor de “Educação Pela Pedra” e “Morte e Vida Severina”; um dos mais gabaritados historiadores, o pernambucano Evaldo Cabral de Mello, autor de “O Brasil Holandês” e “O Negócio do Brasil”, e um biógrafo excepcional, o jornalista cearense Lira Neto, autor da celebrada trilogia biográfica sobre o presidente Getúlio Vargas. Podem ser incluídos na lista os poetas Sousândrade, do Maranhão, Castro Alves e Pedro Kilkerry, da Bahia, e Jorge de Lima, de Alagoas, e o romancista José Lins do Rego, da Paraíba.
O Nordeste é pobre, há imensas zonas de atraso — assim como no riquíssimo Estado de São Paulo há grandes ilhas de pobreza (os Estados Unidos têm 46 milhões de pobres — 15% da população). Portanto, quando o escritor Diogo Mainardi, ex-colunista da revista “Veja”, afirma que o Nordeste é uma região “retrógrada” e “bovina”, porque contribuiu para a reeleição da presidente Dilma Rousseff, a crítica peca pelo excesso. Primeiro, votar na petista não é necessariamente um ato retrógrado. Segundo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, não incluídos como “retrógrados” e “bovinos”, também foram decisivos para a vitória da política que está no poder.
No “Manhattan Connection”, programa da Globo News, exibido no domingo, 26, Diogo Mainardi disse sobre o Nordeste: “É uma região atrasada, pouco educada, pouco instruída” e, por isso, “tem uma grande dificuldade para se modernizar na linguagem. A imprensa livre só existe na metade do Brasil para baixo. Tudo que representa a modernidade tá do outro lado”. Puro papo. Os maiores ditadores brasileiros, Getúlio Vargas, Costa e Silva e Emílio Garrastazu Médici, eram todos do Sul do País. O inconsistente Tiririca foi reeleito deputado federal por São Paulo. As diatribes do escritor têm a ver com o clima exacerbado da campanha e com o fato de que adora polêmicas.
Porém, transformar o que disse Diogo Mainardi numa questão de Estado é mesmo falta do que fazer. O atacante Hulk, da seleção brasileira, contestou o escritor e disse que ele “não demonstra conhecimento” da “importância” da região para o país. “Infelizmente, o Mainardi demonstra ignorância e arrogância quando critica o Nordeste.” O jogador, mais do que políticos e intelectuais, fez o certo: respondeu prontamente ao ex-colunista da “Veja”. Os nordestinos e seus defensores devem fazer o mesmo: conceder entrevistas e publicar artigos criticando a opinião de Diogo Mainardi.
O deputado Silvio Costa, do PSC de Pernambuco, talvez para fazer média com seu Estado e o Nordeste, praticamente exigiu que o presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Alves (PMDB), mande um ofício à Globo News para que esta exija que Diogo Mainardi se retrate. Se o escritor não aceitar a exigência de retratação, Silvio Costa recomenda que a Câmara processe-o judicialmente.
A Justiça é o fórum adequado para se resolver pendengas que têm importância. No caso, o deputado Silvio Costa deveria pedir espaço num grande jornal e expor suas opiniões contrárias às de Diogo Mainardi. Poderia ligar para o editor do “Manhattan Connection”, sem nenhuma “pressão” do Legislativo ou judicial, e pedir alguns minutos para defender o Nordeste, mas admitindo, logicamente, que as pessoas têm direito à opinião — dura ou frágil, certa ou errada — sobre quaisquer assuntos.

Na mais elástica vitória contra Iris Rezende, o governador Marconi Perillo contou com a energia decisiva de voluntários virtuais, coordenados pelo jornalista João Bosco Bittencourt, que movimentaram o debate político e fizeram multiplicar as ações do candidato pelas redes sociais
Frederico vitor
No dia seguinte ao triunfo nas urnas que o conduziu à reeleição, o governador Marconi Perillo imediatamente tratou de avisar em post no Facebook: “Amigas e amigos: ninguém pense que, encerrada a eleição, vamos abandonar as redes sociais. Não fizemos isso no passado, e não vamos fazer agora”. E nem poderia ser diferente. A vitória mais elástica sobre o rival Iris Rezende (PMDB) em segundo turno (57,44% de votos válidos contra 42,56% do ex-prefeito de Goiânia), depois de três embates, se deveu, em grande parte, ao diferencial do tucano: a relação cada vez mais entusiástica com os eleitores que se expandem no mundo virtual.
A jornada expansiva de votos, um feito considerado improvável em face de tremendas dificuldades que Marconi enfrentou na primeira metade do governo, teve uma contribuição considerada decisiva: o engajamento 24 horas do experimentado jornalista João Bosco Bittencourt, 53, assessor especial do governador e fascinado por redes sociais que, pela primeira vez no pleito goiano, permitiu ao candidato desfrutar ao máximo destes recursos por meio de sucessivas inovações. No suporte das ações estava a FSB Comunicações e a equipe de Paulo Henrique. Segundo o ranking das maiores agências de comunicação do mundo, World PR Report, a FSB ocupa a 22ª posição como a agência brasileira melhor ranqueada.
A estratégia foi consolidar um muito bem estruturado grupo de jovens voluntários apoiadores virtuais, chamados de “aguerridos” pelo governador, que exercitaram em profusão o papel de disseminadores das ações de campanha, das ideias, das propostas e também das críticas do candidato tucano. Na origem desta engrenagem estava João Bosco que detinha a matéria-prima central para as informações: ele acompanhou o governador em todos os acontecimentos de campanha e, pessoalmente, tratava de manter sua rede com fatos online, um esforço nunca visto no país. No caso, a diferença veio à tona por meio da primazia que se deu ao WhatsApp. O aplicativo que permite trocar mensagens pelo celular foi elevado à condição de plataforma-mãe pela facilidade para transmissão de textos, fotos e vídeos.
Para chegar ao final da ponta, ou seja, para cumprir a missão de agregar o eleitor indeciso e alcançar simpatizantes, os apoiadores replicavam os acontecimentos online, bem como uma imensidão de produtos próprios, todos marcados pela criatividade. Esta montanha de ingredientes eleitorais, desta forma, chegava naturalmente às mais diferentes cercanias, desde o Facebook até o Twitter e o Instagram. Um levantamento final demonstrou que a campanha de Marconi Perillo no mundo virtual contabilizou 6 mil fotos, 900 vídeos e mais de mil textos.
A efervescência de Marconi nas redes sociais contrastava de maneira acintosa com o burocratismo dos demais adversários. Além de Iris, Vanderlan Cardoso (PSB) e Antônio Gomide (PT) praticamente apenas cumpriram tabela, ao fazer de suas plataformas montadas à última hora, meros depositários de ações de campanha ou agendas, sem nenhum Upgrade digno de repercussão.
Na verdade, o que João Bosco Bittencourt fez ao capitanear a campanha de Marconi nas redes sociais foi multiplicar a já bem-sucedida trajetória do governador neste universo. Sem nenhum recurso ao estilo “robozinho” que turbina o número de seguidores, o tucano chegou, no dia 29 de outubro, três dias após a conquista eleitoral, à marca de 100 mil fãs no Facebook. No Twitter, tem outro contingente admirável: 47,4 mil seguidores. Mesmo no elitista Instagram soma 7.208 interlocutores. O que caberia ao assessor, tendo por base este capital humano, seria fazê-lo ainda mais poderoso. E isso aconteceu.
Para se ter uma ideia, algumas invencionices da campanha chegaram a render um número fantástico de visualizações. Trata-se do chamado vídeo-selfie, uma novidade a que pessoalmente Marconi tem uma enorme simpatia. Este feito foi alcançado pela gravação feita pelo próprio governador durante a visita do ex-presidenciável Aécio Neves (PSDB) a Goiânia, no dia 21 de outubro. Ele registrou parte do trajeto entre o Aeroporto Santa Genoveva e a Praça Cívica, com mensagem de ambos que “bombou”. Ao fazer o agradecimento ao eleitorado após a vitória em 26 de outubro, o tucano voltou a usar o mesmo expediente, desta feita ao lado da primeira-dama Valéria Perillo, das filhas Isabella e Ana Luísa: a peça chegou a mais de 800 mil internautas.
Os chamados hangouts também tiveram efeito devastador. Marconi foi o único candidato no país a manter um bate-papo permanente, duas vezes por semana, transmitido pela internet, e sempre com a participação de especialistas em determinados temas ou celebridades. Algumas edições também cravaram mais de meio milhão de assistência.
É claro que uma andorinha só não faz verão. Alguns analistas mais radicais se inclinam a apontar que vitória nas urnas é resultado, “apenas”, de gestão e mídia. Segundo esta análise, apoio político se agrega naturalmente em face de governos bem-sucedidos. E, quanto aos recursos de divulgação, sai na frente quem tiver mais criatividade, velocidade e “bala na agulha”. Não bastam a TV e o rádio num universo que, cada vez mais, se diversifica nas formas de comunicação. No caso, João Bosco Bittencourt teve o mérito de não considerar as redes sociais como simples auxiliares. Deu a elas papel de protagonismo – e seu candidato se saiu muito bem.
Na semana passada, um repórter do Jornal Opção entrevistou seis publicitários e nove jornalistas, todos experimentados em assuntos que têm a ver com internet, e fez duas perguntas: “Qual é o pior site de jornal em Goiás?” e “Qual site de jornal é o mais acessível e ágil de Goiás?” O site do “Pop” ganhou disparado como o “pior” e o de “mais difícil acesso”. Publicitários e jornalistas disseram que até assinantes têm dificuldade de acessar o jornal. A maioria disse o que pode ser resumido assim: “Não dá para entender como o maior jornal do Estado, ao menos em termos de recursos financeiros, não consegue fazer um site (ou um portal) de qualidade”. Frisaram que, como se inspiram em “O Globo”, os executivos deveriam verificar como o portal do jornal do Rio de Janeiro é “acessível e aberto”. A rigor, o “Pop”, apesar da estrutura gigante, não tem nem mesmo portal. O jornal, em definitivo, está “morto” na internet. Os sites do Jornal Opção e do “Diário da Manhã” empataram como os “mais acessíveis e ágeis”. Publicitários e jornalistas disseram que aquilo que o Jornal Opção e o “Diário da Manhã” publicam hoje, informando bem seus leitores, o “Pop” só divulga no dia seguinte. Seu lema deveria ser: “O primeiro a chegar atrasado”. Publicitários, empresários e políticos frisam que o sucesso do Jornal Opção incomoda, “profundamente”, tanto a redação quanto a direção do “Pop”.
A analista de política do “Pop” Fabiana Pulcineli, sem dúvida autora de textos qualificados e perspicazes, parece acreditar na existência de um “terceiro turno” — agora não entre o governador Marconi Perillo, do PSDB, e o ex-prefeito de Goiânia Iris Rezende, do PMDB, e sim entre o tucano-chefe e alguns jornalistas. Na semana passada, quando o País explicitava a vitória de Marconi Perillo, mais uma vez contra um político importante — mas que perdeu três vezes para o tucano-chefe, configurando-se como um notável freguês —, Fabiana Pulcineli contorcia-se, no Facebook, para sugerir a possibilidade de um “terceiro turno”. Para tanto, apresentava a informação, sem nenhuma importância, de que o peemedebista-chefe havia superado o tucano em Goiânia. Como se sabe, Goiânia, que não é uma ilha, é um município de Goiás. O que importa mesmo é a vitória no Estado e la Pulcineli, tradicionalmente contida e precisa, sabe que, na maioria dos municípios, Marconi Perillo derrotou Iris Rezende e, por isso, foi reeleito governador. Pela quarta vez! Um fato e um fenômeno históricos. Merece ser percebido. Será que o sebastianismo de Cileide Alves e Pulcineli vai transformar Iris Rezende numa espécie de d. Sebastião do Cerrado? Claro que não. Até porque são jornalistas íntegras e, cessada a paixão, vão retomar a racionalidade.
[caption id="attachment_19497" align="alignleft" width="200"] Livro não vai agradar leitores liberais, mas é informativo e questionador[/caption]
“Mascarados — A Verdadeira História dos Adeptos da Tática Black Bloc” (Geração, 287 páginas), dos jornalistas Bruno Paes Manso e Willian Novaes e da socióloga Esther Solano, é um livro surpreendente. À primeira vista, se for feita uma leitura politizada, à direita, tende-se a avaliá-lo como inteiramente pró-radicais. Lido de maneira mais aberta, percebe-se que se trata de uma obra que quer mais entender do que aprovar ou condenar.
Uma coisa é certa: o livro de Bruno Paes Manso, Esther Solano e Willian Novaes esclarece mais o que é a tática Black Bloc dos que a maioria das reportagens dos jornais.
Vale a pena ler a obra — nem que seja para discordar, pontual ou integralmente, e até para combater em termos políticos e ideológicos. O que não vale é atacar sem ler detidamente e sem notar a pesquisa exaustiva e equilibrada. O trabalho jornalístico e sociológico deve muito também ao olhar sugerido pela antropologia.
O experimentado biógrafo Tom Cardoso lança o livro “Sócrates — A História e as Histórias do Jogador Mais Original do Futebol Brasileiro” (Objetiva, 264 páginas). Talvez fosse mais apropriado “um dos jogadores mais originais”. O que dizer de Didi, Djalma Santos, Garrincha, Pelé, Gerson, Tostão, Jairzinho, Zico e Falcão?
Formado em medicina, jogador de futebol, Sócrates era diferente da maioria de seus colegas de profissão. Participou da organização da democracia corintiana e se envolveu com a vida política fora do futebol. Era um rebelde com causas.
Sempre um excessivo e nunca um conformista, Sócrates disse, num autorretrato perfeito: “Se tivesse me dedicado mais, não seria uma pessoa tão completa como sou agora”.
Tom Cardoso é autor de uma polêmica biografia de Tarso de Castro, um dos principais fundadores do “Pasquim”. A patota de Ipanema, composta de escritores e jornalistas que acreditam que Deus é discípulo de Millôr Fernandes, não reconhece Tarso de Castro como figura central na criação do jornal. Tom Cardoso, sem medo da patrulha do ipanemismo (cada vez mais anêmico) e dos otários provinciais, reconstitui a história e repõe os pingos no is.
Biografia de Federico — Vale traduzir “Fellini — La Vida y las Obras” (Tusquets Editores, 439 páginas, tradução de Juan Manuel Salmerón), de Tullio Kezich. Martin Scorsese escreveu: “Um olhar apaixonado e espantosamente bem escrito sobre um dos cineastas indispensáveis de nosso tempo”. Trata-se de uma obra exaustiva. O brilhantíssimo Fellini — sem ele, escreveu Guillermo Cabrera Infante, Woody Allen não existiria — era dado a criar ou a repetir e espalhar mitos sobre si. Tullio Kezich conta que, ao contrário do que escreveram, não nasceu num trem no trajeto entre Viserba e Riccione. Porém, ao desfazer os mitos e apresentar Fellini de corpo inteiro — inclusive com os mitos, que passaram a fazer parte da história verdadeira —, o biógrafo mostra um artista ainda mais rico. Costuma-se dizer que certas vidas, de tão ricas, dariam um filme. A de Fellini, tão rica quanto mítica, daria vários filmes. Alguns de seus filmes são (e não são) autobiográficos.
O livro “Reforma Política — O Debate Inadiável” (Civilização Brasileira, 192 páginas), do cientista político Murilo de Aragão, é uma coletânea de artigos sobre um dos temas mais espinhosos da recente história brasileira. Todos defendem a Reforma Política, muitos garantem que é a mais importante e urgente, mas ela não sai do papel. O autor sumariza e discute as principais propostas.
As oposições não perceberam que o trabalho de comunicação nas redes sociais — tanto na apresentação de propostas quanto no revide político — custa pouco, em termos financeiros, mas exige profissionais capacitados e comprometidos. Jornalistas que recebem dinheiro e passam o dia inteiro em cafés de Goiânia, batendo papo e falando mal do governo e de quem trabalha, não contribuem em nada. É preciso trabalhar duro e produzir em termos de quantidade e qualidade. A equipe que trabalhou para o governador Marconi Perillo impressionou — até mesmo as oposições — pela qualidade e quantidade do material produzido. Não só a qualidade e quantidade. A velocidade em que variados assuntos eram postados nas redes sociais, e de repente se tornavam até virais, indica alta competência técnica (e talento) da equipe. Apresentaram respostas para quase tudo e funcionaram muito bem no ataque. Jornalistas competentes e atentos, como João Bosco Bittencourt, levaram Marconi Perillo a imperar na internet. O espaço era igual para todos, mas a equipe do tucano-chefe usou-o melhor. Faltou competência às oposições para explorar de maneira mais adequada as potencialidades da internet.

Jornalistas do “Jornal da Record” ganharam o Prêmio Allianz Seguros de Jornalismo, ao lado de profissionais do “Estado de Minas”, “O Tempo Online”, Gente Brasília BandNews FM, na categoria Sustentabilidade — Mudanças Ambientais. Os repórteres da TV Record, premiados pela série “O desafio da água” (telejornalismo), são: Rosana Teixeira, Ademir Salandin, Alberto Cunha, André Cunha, Ângela Canguçú, Catarina Hong, Cleisla Garcia (que trabalhou no “Diário da Manhã” e na TV Anhanguera), Edmar Dutra, Helena Vieira, Herbert Moraes (correspondente da TV Record em Tel Aviv e colunista do Jornal Opção), Jean Brandão, Jefferson Monteiro, Ludmilla Fontainha, Luís Gustavo, Nathália Bueno Caldas e William Silva. A TV Record movimentou sua equipe no Brasil e no exterior, por exemplo, em Israel, onde trabalha o goiano Herbert Moraes.
Profissionais do shopping Eldorado foram premiados na categoria Especial Comunicação Corporativa, devido ao case Projeto de Compostagem. Cristiane Segatto, da revista “Época”, Carol Rodrigues, da revista “Cobertura Mercado de Seguros”, Beth Koike, do “Valor Econômico”, e Taís Laporta, do iG, venceram na categoria Seguros.
A disputa se deu entre mais de 2 mil concorrentes. O prêmio é de R$ 15 mil.
Sem a presença do bispo Edir Macedo, fundador da Igreja Universal e da TV Record de Televisão, os bispos Fernando Vassoler, Fernando Mendes e Paulo Pereira lançaram o livro “Nada a Perder 3 — Do Coreto ao Templo de Salomão”, na quinta-feira, 30, na Livraria Fnac, no Shopping Flamboyant, em Goiânia. Foram vendidos 50 mil exemplares da terceira parte da biografia de Edir Macedo escrita pelo presidente de Jornalismo da TV Record, Douglas Tavolaro. Daqui pra frente, Edir Macedo vai disputar com Paulo Coelho o título de quem mais vende livros no Brasil (o primeiro já vendeu 4 milhões de exemplares). Não só. Os dois vendem muitos livros no exterior.
“Araguaia — Histórias de Amor e de Guerra” (Record, 504 páginas), do jornalista Carlos Amorim, é um livro alentado sobre a Guerrilha do Araguaia, um dos temas do período ditatorial sobre o qual ainda se precisa esclarecer muitas coisas. A editora garante que se trata de “o mais completo e surpreendente livro sobre a organização mais importante da resistência armada ao golpe de 1964. Um livro que vai virar referência para historiadores e todos os interessados na história recente do Brasil”. Não li a obra, mas soa mais como publicidade, o que é natural, pois a editora tem mesmo de promover seus produtos. A Guerrilha do Araguaia é uma obra aberta, nada fechada, e será preciso muito mais pesquisas e livros para que se tenha uma compreensão mais abrangente do que efetivamente aconteceu na selva e nas pequenas cidades do Pará e de Goiás (hoje Tocantins) entre 1972 (e mesmo antes) e 1974 (e até um pouco depois). A obra que for apresentada como “bíblia” sobre o assunto amanhã poderá ser contestada, ao menos parcialmente, por novas pesquisas.
O assunto Guerrilha do Araguaia, num primeiro momento, era “propriedade” do Partido Comunista do Brasil. Aos poucos, foi escapando ao controle do PC do B, incluindo versões dissidentes, como a de Pedro Pomar, e livros de pesquisadores não militantes (e também militantes). Entre os melhores estudiosos do assunto estão Romualdo Pessoa Campos Filho (militante do partido e doutor pela Universidade Federal de Goiás), Elio Gaspari, Myrian Alves, Eumano Silva, Taís Moraes, Hugo Studart (mestre e doutor com pesquisas sobre o tema), Luiz Maklouf de Carvalho e Leonencio Nossa.
Daniel Aarão Reis é um dos maiores historiadores brasileiros. Seus livros sobre o golpe de Estado de 1964 e sobre a ditadura civil-militar resultam de pesquisas rigorosas e de uma interpretação inteligente e original. Ao contrário de outros estudiosos do período, sublinha que a ditadura não acabou em 1985. Altamente produtivo, mas sem deixar a qualidade cair, agora lança “Luís Carlos Prestes — Um Revolucionário Entre Dois Mundos” (Companhia das Letras, 576 páginas). Trata-se, pelo número de páginas, de uma obra alentada. Um sociólogo e jornalista brinca: “Não li e já gostei”. Com a brincadeira, o pesquisador quer dizer exclusivamente que a biografia de Prestes, dada a capacidade de Daniel Aarão Reis para pesquisar e interpretar, deve ser do balacobaco. Ao explicar Luís Carlos Prestes, um dos mais longevos políticos brasileiros — também foi militar (liderou a Coluna Prestes) —, Daniel Aarão Reis deve ter feito uma reconstrução minuciosa do século 20 e até de um pedaço do século 19. Prestes nasceu em Porto Alegre, em 1898, e morreu no Rio de Janeiro, em 1990 — aos 92 anos. O livro não chegou às livrarias, mas já pode ser pedido no site da Livraria Cultura.