Preso em batalhão da PM, Anderson Torres deve depor nesta segunda-feira à PF

23 janeiro 2023 às 07h37

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O delegado Anderson Torres, ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, deve prestar nesta segunda-feira, 23, um novo depoimento à Polícia Federal (PF). Ele é investigado por possível omissão com os ataques terroristas de 8 de janeiro, na Esplanada. Integrantes do primeiro escalão do governo federal o acusam de ter sabotado o comando das forças de segurança pouco antes dos atos. O ex-secretário ficou em silêncio na primeira vez que foi questionado pelos policiais federais, mas a expectativa é que ele preste esclarecimentos dessa vez, já que a defesa teve acesso aos autos do processo.
O segundo depoimento foi um pedido da defesa de Torres, e solicitado ao Supremo Tribunal Federal (STF) pela PF. Durante a primeira oitiva, na quarta-feira passada, que durou cerca de uma hora, o ex-secretário ficou em silêncio. Entre as perguntas feitas pelos policiais estava a minuta de decreto presidencial encontrada pela PF durante operação de busca e apreensão em sua casa.
O documento continha um dispositivo para que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) interviesse no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e nas cortes eleitorais regionais, declarando Estado de Defesa, durante o pleito do ano passado. Caso fosse assinado, o decreto poderia ser usado para alterar o resultado das eleições.
Confira pontos que o ex-ministro terá de explicar:
Plano de Ações Integradas
Titular da SSP-DF no dia em que terroristas destruíram as sedes dos Três Poderes, o ex-secretário-executivo da pasta Fernando de Sousa Oliveira afirmou, em depoimento à PF, que Anderson Torres, então titular da pasta, aprovou o chamado Plano de Ações Integradas (PAI)para as manifestações de 8 de janeiro.
Sousa Oliveira acrescentou também que, antes de viajar para os Estados Unidos, Anderson Torres não deixou nenhuma diretriz específica e sequer o apresentou aos comandantes das forças policiais ou ao governador afastado do DF, Ibaneis Rocha.
O secretário de Segurança Pública interino destacou, ainda, que, nos grupos de troca de informações das autoridades do DF, não recebeu notícias de radicais e que os termos usados eram “ânimos pacíficos”, “normalidade” e “policiamento reforçado”. Isso o teria levado a pensar que tudo estava sob controle no início da tarde.
Trocas na SSP-DF
Preso em 11 de janeiro por determinação do ministro Alexandre de Moraes, o ex-comandante-geral da PMDF Fábio Vieira avaliou, durante depoimento à PF, que as mudanças de Torres dentro da SSP-DF dificultaram o fluxo de informações no comando operacional no dia dos ataques às sedes dos Três Poderes. Tal questão também será perguntada a Torres no depoimento desta desta segunda-feira.
Depoimento adiantado
Ibaneis Rocha adiantou, sem ser intimado, o depoimento que iria fazer à Polícia Federal no âmbito do inquérito dos atos antidemocráticos. O emedebista foi até a sede da PF, na Asa Norte, em 13 de janeiro.
Em um dos trechos, afirmou não ter recebido o planejamento de segurança da PMDF. E pontuou que recebeu mensagem do ministro da Justiça, Flávio Dino, “relatando preocupação com a chegada de vários ônibus com manifestantes”, no sábado anterior à destruição na Esplanada dos Ministérios.
Ibaneis declarou à PF que ficou “absolutamente surpreendido” com a falta da resistência exigida para a gravidade da situação por parte da PMDF. Ele disse que não quer e não pode generalizar esta afirmação, mas ficou “revoltado” quando viu cenas de alguns PMs confraternizando com manifestantes.
O governador afastado afirmou, ainda, que “houve algum tipo de sabotagem”, mas que a investigação em andamento deverá esclarecer. Segundo Ibaneis, a exoneração de Anderson Torres se deu porque ele estava ausente do país no momento do “trágico acontecimento” e, portanto, perdeu a confiança no então secretário.