Resultados do marcador: Amauri Ribeiro

Encontramos 26 resultados
Legislativo
Comissão de Ética ainda depende da nomeação de relator das representações de Bia de Lima e Amauri Ribeiro

Deputada Rosângela Rezende é cotada para assumir a relatoria do processo no Conselho de Ética

A cegueira ideológica que cega o Brasil

Por Stéfany Fonseca

A recente troca de farpas entre os deputados goianos Bia de Lima (PT) e Amauri Ribeiro (UB) vai muito além do que parece. Não se trata apenas de uma disputa entre dois parlamentares. O episódio é mais um sintoma do adoecimento do debate público brasileiro — um duelo estéril entre direita e esquerda que já não serve mais ao interesse coletivo, mas sim a paixões cegas que transformam qualquer gesto, piada ou discurso em munição ideológica. É a incoerência elevada à institucionalidade.

A discussão ganhou os holofotes quando, em uma entrevista descontraída, a deputada Bia mencionou sua preferência por homens mais jovens, usando o termo “novinhos”. A apresentadora, em tom de brincadeira, a chamou de “papa-anjo”, e ambas riram. Até aí, uma conversa corriqueira e informal. Mas Amauri Ribeiro enxergou uma oportunidade de atacar a colega. Usou a gravação da entrevista na tribuna da Assembleia e acusou a deputada de comportamento pedófilo. Um absurdo.

Aqui, cabe uma pergunta incômoda, mas necessária: se um deputado de 60 anos dissesse publicamente que gosta de “novinhas”, alguém o acusaria de pedofilia? A resposta, infelizmente, é não. Em um país ainda profundamente patriarcal, esse tipo de fala masculina é banalizada ou até romantizada. Homens são chamados de “garanhões”; mulheres, de “imorais”. A violência política de gênero, ainda que disfarçada de indignação moral, escancarou-se nesse episódio.

Por outro lado, quando se trata da defesa de valores e da atuação parlamentar, a esquerda também falha ao recorrer a dois pesos e duas medidas. O mesmo deputado que cometeu o absurdo de tentar criminalizar uma piada de gosto duvidoso é também aquele que, recentemente, leu na Comissão de Constituição, Justiça e Redação da Assembleia Legislativa trechos do livro “O Avesso da Pele”, de Jeferson Tenório. Uma obra literária indicada pelo próprio MEC, mas que vem sendo questionada por setores conservadores por conter linguagem considerada “vulgar”.

Não há nada de equivocado no direito do parlamentar de criticar o conteúdo do livro. Ele tem legitimidade para isso. A obra, aliás, é uma reflexão sobre o racismo estrutural e as marcas da violência policial na vida de um jovem negro — temas que incomodam justamente por escancarar feridas que parte do Brasil prefere ignorar.

Se o livro é considerado apropriado para a sala de aula, por que não seria também entre as paredes do parlamento estadual? O questionamento do parlamentar é pertinente e merece reflexão.

Ambos os parlamentares, no fundo, são produto de um país fraturado desde 2018, com o acirramento da polarização entre lulistas e bolsonaristas. Um Brasil que não debate mais ideias, apenas acusa, grita, cancela e idolatra. Lula e Bolsonaro se tornaram arquétipos mitológicos de um embate sem fim, onde o bom senso morreu soterrado sob os escombros da idolatria política. E os parlamentares seguem esse script à risca, reproduzindo o mesmo teatro de guerra no microcosmo do Legislativo goiano.

O problema maior, portanto, não é a fala da deputada, nem a leitura do livro pelo deputado. O problema é que ambos os lados perderam a capacidade de dialogar, de ponderar, de reconhecer erros e excessos nos próprios aliados. A política virou torcida organizada, e quem pensa diferente vira inimigo — e não adversário.

Enquanto isso, os problemas reais do país continuam sem solução. Educação, saúde, segurança pública, desigualdade social… esses temas não rendem likes, não inflam redes sociais e tampouco atiçam os extremos ideológicos. Mas são eles que importam. O resto é só espuma.

Está mais do que na hora de romper com essa lógica binária que empobrece o debate e adoece a democracia. O Brasil não precisa de soldados ideológicos, precisa de políticos com coragem para pensar com a própria cabeça — e, principalmente, com o coração voltado para o bem comum.

Bia ou Amauri?

Ambos são produtos de realidades distintas e visões de mundo inconciliáveis.

Bia, mãe solo, sindicalista, professora, mulher de origem humilde. Amauri, produtor rural, homem do interior, conservador, pai de três meninas e defensor da chamada “família tradicional brasileira”. São representantes legítimos de espectros opostos, que jamais compreenderão completamente as vivências e valores um do outro. E sempre acreditarão que sua luta é a mais justa.

Mas há algo que os une: o desejo de um Brasil melhor. Ambos querem um país sem corrupção, sem violência, sem desigualdade — um lugar onde se possa andar nas ruas sem medo, onde a fome não exista, onde a justiça social não seja uma utopia. No entanto, apesar de almejarem os mesmos resultados, os dois talvez sempre vão acreditar que estão em lados opostos da batalha.

O verdadeiro inimigo não é Lula nem Bolsonaro. É a máquina e a estrutura que, todos os dias, esmagam o povo brasileiro. Mas talvez eles ainda não estejam preparados para essa conversa.

Stéfany Fonseca é jornalista formada pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás

Leia também:

Conselho de Ética entra em impasse sobre relatoria de ação de Bia de Lima contra Amauri Ribeiro

insultos
“Punir alguém hoje talvez signifique salvá-lo amanhã”, diz presidente do Conselho de Ética da Alego após ataques de Amauri contra Bia de Lima

Punições do Conselho podem incluir advertência, levar à perda do direito de uso da Tribuna, suspensão provisória e até cassação definitiva do mandato

TRE rejeita denúncia do MPE contra Amauri Ribeiro por suposta violência de gênero

Maioria da Corte reconheceu que não houve crime. Posicionamento do deputado estadual ocorreu no dia 12 de setembro de 2023

Orçamento
Alego aprova prorrogação de prazo para execução de emendas de 2021

Projeto do deputado Amauri Ribeiro foi aprovado em definitivo

Educação
Nome da professora Lueli Duarte é aprovado para Conselho Estadual de Educação 

Veto do parlamentar na CCJ se deu devido à afinidade da docente com “ideologia de gênero”

Educação
CCJ da Alego, guiada por Amauri Ribeiro, veta nome de Lueli Duarte para Comissão Estadual de Educação

Segundo parlamentar, a professora não estaria apta a assumir a posição por ser defensora da “ideologia de gênero”

Lesa Pátria
Investigado por atos de 8 de janeiro de 2023, Amauri Ribeiro quer anistia para envolvidos

Deputado disse que apoio projeto apresentado pelo colega Major Araújo, que defende perdão para condenados por ataques aos prédios dos três poderes

Deputados Bia de Lima e Amauri Ribeiro; e Antônio Chavaglia | Fotos: divulgação/Alego e Leoiran/Jornal Opção
Polêmica
Bia e Amauri trocam farpas após fala do presidente da Comigo, de que “crianças aprendem pornografia nas escolas”

Deputada do PT usou a tribuna da Assembleia Legislativa de Goiás para repudiar a declaração de Antônio Chavaglia, que recebeu apoio do deputado Amauri Ribeiro

Alego
Bate-boca na Alego faz sessão desta quarta-feira ser suspensa

Deputado Amauri Ribeiro e suplente Fabrício Rosa discutiram em tons de ameaça

Confusão
Vídeo: Amauri Ribeiro é contido por seguranças após partir para cima de Mauro Rubem

Confusão começou quando Mauro Rubem estava em discurso na tribuna

Amauri Ribeiro e Rosângela Rezende: troca farpas | Foto: reprodução/YouTube
Clima esquentou
Deputada Rosângela passa mal após embate com Amauri e é atendida por bombeiros: “não é ‘mimimi’”  

Deputada é presidente da Procuradoria da Mulher na Assembleia Legislativa e defendeu na tribuna a colega Bia de Lima

após ação da pf
“Nesse País, não tenho dúvida de mais nada”, diz Amauri Ribeiro sobre possibilidade de prisão

O parlamentar declarou ainda que, apesar da busca e apreensão do seu celular, nada de irregular foi encontrado

Lesa Pátria
O que disseram os parlamentares sobre a ação da Polícia Federal contra o deputado Amauri Ribeiro

Ele foi alvo da Operação Lesa Pátria, que investiga o envolvimento de pessoas diretamente ou indiretamente ligadas aos atos antidemocráticos de 8 de janeiro

Deputado Amauri Ribeiro e seu autoatentado oratório

A lição do dia é que na política, como na vida, não se pode dizer tudo, porque até liberdade de expressão tem limite