As mudanças climáticas e a escassez de recursos naturais estão afetando diversos sistemas agrícolas e levantando preocupações sobre a segurança alimentar futura. Uma pesquisa internacional, divulgada no periódico Scientific Reports, propõe uma fonte de alimento alternativa: a carne de píton.

Embora o cultivo de pítons já seja comum em partes da Ásia, onde a carne de cobra é considerada sustentável, rica em proteínas e com baixo teor de gordura saturada, essa prática não é amplamente aceita por cientistas e agricultores tradicionais. No entanto, o novo estudo fornece insights valiosos sobre essa prática e seus possíveis benefícios.

Pesquisadores das universidades de Macquaire, na Austrália, e Oxford, no Reino Unido, analisaram 4,6 mil pítons de duas fazendas que criam esses animais, uma na Tailândia e outra no Vietnã. Eles compararam o crescimento de duas espécies grandes, Malayopython reticulatus e Python bivittatus, e realizaram experimentos para avaliar a eficácia dessa produção.

As pítons foram mantidas em armazéns semiabertos, proporcionando ventilação para que estivessem em condições semelhantes ao seu ambiente natural. Elas foram alimentadas apenas uma vez por semana, principalmente com roedores e sobras de proteínas provenientes das cadeias de suprimentos agrícolas. Alguns fazendeiros chegaram até a processar essas sobras para fazer salsichas para as pítons.

Os resultados mostraram que as pítons tiveram um crescimento rápido em 12 meses, com as fêmeas crescendo mais rapidamente que os machos. As cobras ganharam, em média, 46 gramas por dia. Segundo a análise, cada grama de P. bivittatus pode gerar 4,1 gramas de carne consumível, tornando-as mais produtivas que outros tipos de animais.

Além disso, os répteis demonstraram ter taxas de conversão de alimento e proteína melhores do que todas as espécies agrícolas estudadas até o momento. O líder do estudo, Dr. Daniel Natusch, da Escola de Ciências Naturais da Universidade Macquarie, enfatizou que a carne de cobra é branca e rica em proteínas.

“Os répteis de sangue frio são mais eficientes em transformar os alimentos que consomem em mais carne e tecido corporal do que qualquer outra criatura de sangue quente poderia”, explicou Natusch em comunicado.

Além disso, as fazendas de pítons produzem menos gases de efeito estufa do que as de criação de vacas, porcos e aves, tornando o cultivo de pítons uma opção mais sustentável.

“A capacidade das pítons de jejuar para regular seus processos metabólicos e manter a condição corporal melhora a segurança alimentar em ambientes voláteis, sugerindo que o cultivo de pítons pode oferecer uma resposta flexível e eficaz à insegurança alimentar global”, concluiu a pesquisa.

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