Fisiculturismo mostra força com cada vez mais adeptos em Goiás

01 junho 2023 às 22h28

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Meses de preparação física e mental. Alimentação balanceada, acompanhamento médico e psicológico. Uma rotina de treinos exaustiva. Horas puxando ferro na academia e cultivando os músculos do corpo em busca do corpo perfeito para competições. No entanto, mesmo para os mais dedicados, há uma pedra no caminho dos goianos que sonham em ser campões brasileiros de fisiculturismo.
A Federação Goiana de Musculação, Fitness e Fisiculturismo de Goiás (Fegomff) foi desligada da IFBB Brasil na última semana, que é reconhecida pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) como a sexta maior federação esportiva do mundo. Os atletas goianos ainda não sabem o que exatamente aconteceu, mas a informação é que os organizadores dos eventos no Estado não estariam atendendo às regras da confederação nacional.
Desde então, o fisiculturista Pedro Schnaider vive momentos de incerteza. “Isso gera uma tensão. Não só pra mim, mas para todos os atletas que estavam se dedicando para o próximo campeonato que iria ocorrer no dia 2 de julho. É um impacto muito grande para todos nós. Uma porta fechada para grandes atletas”, lamentou.
Apesar do clima de insegurança, o presidente da Fegomff, Márcio Rezende, garantiu em uma live no Instagram que vai garantir os compromissos com os atletas e realizar as competições marcadas, como o campeonato estadual do mês que vem e a Copa Body Classic prevista para o mês de outubro. No mesmo post, ele revelou o motivo do desligamento da IFBB: uma dívida de cerca de R$ 6 mil em repasses atrasados com a entidade.
O presidente da Fegomff justifica que a falta de patrocinadores seria o principal motivo de não conseguir honrar os compromissos financeiros. “Nunca negamos essa dívida que está em aberto com a confederação”, disse no Instagram. No entanto, ainda não se sabe se o campeonato goiano terá a chancela que dará a chance aos atletas competirem na etapa nacional.
Vida de campeão
Pedro Schnaider começou no fisiculturismo no ano passado e já foi campeão por duas vezes. O estilo de vida ligado à disciplina e constância foi o que fez o jovem se interessar pela atividade. E, para ter sucesso no esporte, ele acredita que o atleta deve ter um misto de físico, mente e genética.

E, apesar de campeão, o atleta reclama do preconceito que enfrenta na sociedade por ser fisiculturista e cuidar para ter o corpo que a atividade exige. “As pessoas não lidam bem com o fato de um esporte requerer tanto foco e disciplina. Dizem que somos obcecados demais, julgam nosso físico como feio, entre outras coisas”, afirmou.
Fisiculturismo também é coisa de mulher
Kênia de Sousa é árbitra de fisiculturismo. Ela começou no esporte em 2009 e participou de algumas competições até que, em 2011, ela estava se preparando para subir no palco como competidora novamente, mas faltava alguém para arbitragem. Ela então foi chamada para fazer a substituição e nunca mais saiu. “Troquei de federação, mas nunca mais deixei de ser árbitra”, afirmou.
Antes de entrar para o mundo do fisiculturismo, Kênia não gostava de seu corpo. “Tinha problemas com a estética. Eu era uma mulher magra e com muitos problemas de autoestima”, relatou. Ela, que hoje tem 46 anos, lembra que quando começou na academia “os professores só davam atenção para meninas com o corpo bonito”.
Formada em Educação Física, foi fazendo uma especialização em musculação que conheceu professores fisiculturistas que a encorajaram a competir. Para sua primeira competição, fez uma preparação rápida de apenas quatro semanas. E ela garante: o mais difícil é a parte emocional. “Dieta e treino é fácil pro atleta, ele já está acostumado com isso. Mas não pode quebrar a rotina, não pode beber bebida alcoólica durante a preparação”, explicou.

Em Goiás, Kênia participa do National Physique Committee (NPC), entidade que não integra a chancela da IFBB citada no início da reportagem. No Brasil, a NPC organiza 56 campeonatos regionais. Tanto as categorias femininas quanto masculinas trabalham com o tripé muscularidade, condicionamento e estético (que envolve proporção e simetria). “Trabalhamos com a anatomia do físico. Não existe um padrão. O olho do jurado julga a melhor estética do dia. E pra cada categoria não existe um desenho físico estático”, comentou.
Principais desafios
A árbitra comemora que hoje o esporte tem crescido muito no país e está cada vez mais diverso: “Temos atletas médicos e engenheiros, por exemplo. Não é mais um mundo restrito aos profissionais da Educação Física”, pontuou. E quem concorda com isso é Ycaro Mota, personal trainer que hoje prepara atletas de fisiculturismo para competições: “Como em qualquer esporte, o desafio principal é adequar todo o contexto de vida com a rotina de atleta, que não deixa de ser filho, pai, marido, profissional”, acrescentou.
De fato, para ter sucesso no fisiculturismo, na visão do preparador, é preciso conciliar trabalho, estudos, além de todo o contexto social e afetivo. E ele reconhece que os dois últimos, principalmente, prejudicam o atleta. “Uma reunião de família envolve nutrição desregrada e assuntos que podem se tornar estressantes e desmotivar o atleta. E é difícil falar não. Eu, por exemplo, não vou num churrasco pra não passar vontade”, comentou.
A filosofia de Ycaro é clara: “Não dá pra gente guiar alguém num processo que não vivemos. É como um guia na Chapada, por exemplo. Ele tem experiência no trajeto. Por isso escolhi experienciar e viver aquele cotidiano. Vivo até hoje, verdade. Pra realmente sabe o que atleta precisa pra encarar o desafio”. Ele já participou de competições no esporte e sabe bem o que o competidor passa antes, durante e depois de ser julgado num palco.

O personal trainer lamenta que hoje, no Brasil, viver do esporte é difícil. “Pouquíssimos atletas conseguem isso”, disse. E com o fisiculturismo não é diferente: também é carente de investimentos. “E tem pouco tempo que o fisiculturismo começou a ter visibilidade não apenas em Goiás, mas no Brasil, apesar de ser esporte bem antigo”, acrescentou.
Sem dúvidas, se tivesse mais investimento, o fisiculturismo em nosso Estado poderia estar numa situação melhor. “Goiás tem grandes atletas que estão escondidos à espera de uma oportunidade maior”, garantiu o campeão Pedro.
Quer começar? Saiba como
Pra quem está começando, Ycaro indica investir em informação de qualidade. “Geralmente atletas iniciantes bebem de fontes de informação pouco confiáveis. É preciso procurar profissionais experientes. Esporte de alto rendimento não reflete saúde e algumas situações podem alterar toda a fisiologia do corpo da pessoa. Algumas estratégias são arriscadas e podem trazer consequências pra vida toda”, explicou.
O personal reconhece que muitos atletas recorrem a suplementação hormonal para conquistar o “shape” desejado. “A realidade é que se não dopar, não existe esporte de alto rendimento. O fisiculturismo não existe sem a utilização de algum recurso nutricional, farmacológico e/ou psicológico (mindset)”, afirmou.
Justamente por isso, atletas que praticam o fisiculturismo precisam de um acompanhamento multiprofissional que envolve médicos do esporte, nutricionistas esportivos, psicólogos do esporte e profissionais de Educação Física especializados. Além disso, o campeão Pedro Schnaider dá outra dica valiosa: “Paciência. Porque o processo leva anos”, arrematou.