Em entrevista coletiva, advogado que sofreu um atentado defendeu suas convicções e reforçou que ataque não é pessoal e sim a todo o Judiciário

Em entrevista na OAB, Walmir Cunha afirmou que episódio não fez com que desistisse do trabalho | Foto: Amanda Damasceno/Jornal Opção
Em entrevista na OAB, Walmir Cunha afirmou que episódio não fez com que desistisse do trabalho | Foto: Amanda Damasceno/Jornal Opção

O advogado Walmir Cunha, que sofreu um atentado no último dia 15, deu a primeira entrevista coletiva desde o ocorrido nesta quarta-feira (10/8). Junto com Lúcio Flávio, presidente da seccional Goiás da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e de Roberto Serra, diretor-tesoureiro da instituição, Walmir garantiu que mais que o ataque não foi pessoal, mas sim a todo o Poder Judiciário.

Ao traçar um paralelo entre o atentado e o incêndio criminoso que ocorreu no Fórum de Goiatuba durante a madrugada desta quarta-feira, Lúcio Flávio, explicou que os dois casos são ataques ao Judiciário. “É óbvio que quando se enfraquece o sistema de justiça estamos atentando contra o estado democrático de direito”, declarou.

O presidente da OAB-GO destacou que toda a sociedade enfrenta um surto de violência , mas que existe atualmente um ataque deliberado contra as instituições judiciárias e defendeu: “Se esse pilar da sociedade [o Poder Judiciário] ruir, nós estaremos a caminho da barbárie”.

Logo em seguida, Roberto Serra – que acompanhou o caso de Walmir de perto, já que à época do atentado Lúcio Flávio não estava na cidade – reforçou o alarmante índice de violência que ataca as instituições judiciárias. Roberto também elogiou o modo com que o advogado encarou o episódio “com honradez e vigor”.

Muito emocionado, Walmir Cunha começou a entrevista agradecendo à OAB-GO e à OAB nacional, à Associação de Magistrados do Estado de Goiás (Asmego), à imprensa goiana que acompanhou o ocorrido e a todos aqueles que se solidarizaram com sua situação. Recontando sua história na advocacia, Walmir afirmou que seguiu uma intuição ao escolher o curso de Direito e é um advogado “feliz e realizado”.

“Quero manifestar que se o custo pra ser advogado é ter sido lesionado, ter sido mutilado, eu aceito pelas minhas convicções. Aceito porque sei o valor e a importância da advocacia para a população brasileira e tenho certeza que a sociedade não vai permitir agressões dessa natureza contra quem gere a justiça dos homens”, afirmou.

O advogado conclamou a população a não aceitar ataques contra o Judiciário, protegendo todos seus agentes: os magistrados, o Ministério Público e os advogados e lembrou: “As ameaças e investidas, passam, mas a advocacia, a liberdade e a segurança jurídica estabelecida pela lei prevalecem”.

Atentado

Advogado em primeira entrevista coletiva após atentado | Foto: Amanda Damasceno/ Jornal Opção
Advogado em primeira entrevista coletiva após atentado | Foto: Amanda Damasceno/ Jornal Opção

Walmir recontou o que lembra do dia do ataque: de volta à Goiânia depois de uma viagem a São Paulo, foi ao escritório fazer alguns despachos e, de saída, perguntou à secretária se havia mais algo. A secretária afirmou que havia um presente, sem cartão, deixado para o advogado.

Pensando se tratar de uma caixa de vinho, presente que costuma receber de um cliente português, o advogado começou a abrir a caixa, mas viu fios e percebeu que se tratava de uma bomba. Avisou a secretária, que segurava o embrulho e ficou paralisada. Walmir voltou, então, para a mesa, pegou a caixa e ao tentar arremessá-la para o outro lado da sala, a bomba explodiu.

Com a explosão, o advogado acabou perdendo três dedos da mão esquerda, sofrendo diversas queimaduras pelo abdômen e uma fratura exposta na perna. Encaminhado ao Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo) – de onde destacou a qualidade do atendimento – Walmir passou por três cirurgias e, após ser liberado, passou por mais quatro. Mais uma cirurgia está prevista, para fazer enxertos nos lugares das queimaduras e nos locais em que a mão foi atingida.

Questionado sobre como está levando a vida após o episódio, o advogado afirmou que voltará a trabalhar e que, enquanto a polícia não descobre o mandante do crime, está tomando cuidados que nunca pensou serem necessários. “Não é fácil você ser mutilado de uma forma surreal, mas vou aceitar a condição e caminhar com o coração livre de rancor. Apesar dos obstáculos, vamos seguir em frente”, disse.