Vocalista do Raça Negra diz que meninas devem evitar roupas que “provoquem o abusador”
14 setembro 2017 às 12h52
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Cantor Luiz Carlos só não esperava a reação dos participantes do programa, transmitido ao vivo pela Rede Globo, na manhã desta quinta-feira (14/9)
“Então me ajude a segurar essa barra que é gostar de você.” Esse verso da canção Cheia de Manias tomou as redes sociais na internet no final da manhã desta quinta-feira (14/9). O sucesso de 1995 do grupo de pagode Raça Negra, de São Caetano do Sul (SP), foi lembrado, mas não por um momento nostálgico ou feliz.
É que o vocalista da banda, o cantor Luiz Carlos, de 60 anos, participou na manhã desta quinta-feira (14/9) do programa Encontro Com Fátima Bernardes, da Rede Globo, que é transmitido ao vivo. Ao falar sobre o crime de estupro e os abusos sofridos por crianças, Luiz Carlos declarou que as meninas deveriam ser influenciadas para não se vestir de uma forma que provoque o abusador. Clique aqui para assistir ao vídeo.
A sequência foi uma tentativa sem sucesso do vocalista do Raça Negra de se explicar e manter o raciocínio no ar, com declarações de que seria interessante os pais policiarem as filhas para não deixá-las irem à escola usando roupas curtas. Ele sugeriu até que pais e mães não deixem suas crianças do sexo feminino usar batom para evitar que elas sejam vítimas de crimes sexuais.
O objetivo de Luiz Carlos era explicar a sua opinião de que se a menina não se vestir de forma provocativa ela deixará de atrair a atenção de pedófilos e estupradores. O vocalista do Raça Negra só não esperava a reação imediata dos participantes do programa e de sua apresentadora, Fátima Bernardes.
Luiz Carlos tentou defender que aquele pensamento não é um retrocesso, mas sim uma necessidade contra a ocorrência desses crimes sexuais. Só que um dos participantes, o jornalista Lair Rennó, foi mais rápido do que ele: “A mulher usa o que quiser”. Fátima lembrou o caso da Índia, em que as mulheres se cobrem quase que completamente e há um alto índice de estupro.
O que ele disse
“Nós temos que prestar atenção que hoje… a mulher sempre foi mais adiantada do que o homem. Muito mais. E hoje você vê uma menina 12 anos, ela quer se portar como uma mulher. Mas é uma criança. Então a gente tem que prestar atenção também. ‘Minha filha, não achei legal essa roupa. Você vai para a escola assim? Na escola esse batom vai significar o que pra você? Quando você for sair numa festinha você bota um batom.’ Esse tipo de coisa para não chamar atenção também.”
De acordo com Luiz Carlos, “esses caras estão aí”. “E de repente, pela maluquice deles, ele acha que aquele comportamento, por exemplo, aquela menina com 11 anos que quer se arrumar como a mãe para ficar mais bonita.” E é interrompido por Fátima, que afirma que “o equívoco está no homem que olha assim”.
O jornalista Lair Rennó respondeu que quem precisa ser “caçado” e preso é o cara que demonstra esse comportamento criminoso. “Mas se você evitar também que a filha vá para a escola com uma roupa não adequada não é voltar no tempo não, porque a modernidade vai continuar. A gente tem que prestar atenção não só em educar a filha, mas também se chegar alguém e conversar fiado a chamar outro adulto”, responde Luiz Carlos.
Segundo o cantor do Raça Negra, é interessante dizer aos filhos para que eles não usem roupas inadequadas. “A menina, de uma forma mais chula de falar, é mais caçada. O menino é sempre escondido. A menina é caçada abertamente. Quando a gente perceber essa atitude do cara, eu acho que a gente deveria dar uma surra nele. Se eu estou perto…”
Problema educacional
De acordo com a pedagoga e mestre em educação sexual Caroline Arcari, o problema não é de fato a roupa. “Mas em que momento a gente está falando com os meninos ‘não importa a roupa da menina, você não pode avançar, você não pode assediar’?” Casos de bebês que são abusados mostram que a roupa não é o fator importante na ocorrência de um caso de estupro, mas sim o comportamento do criminoso, segundo a jornalista Maíra Azevedo.
O tema discutido era abuso sexual infantil e lembrou-se que o ambiente familiar, de proximidade da criança, é aquele em que esse tipo de crime mais acontece. “A discussão é muito válida, mas ninguém faz nada porque eu acredito que 90% dos abusos sexuais são dentro de casa. E as pessoas não tocam nessa ferida.” Luiz Carlos afirmou que o pedófilo é um cara importante na sociedade e há “medo” de mexer com aquela pessoa.
Ao anunciar a cantora Lady Gaga no programa, Fátima Bernardes convidou a drag queen Penelopy Jean, cover da cantora norte-americana, que fez playback e se apresentou com música Born This Way. Penelopy foi desafiada por Fátima a dançar enquanto o Raça Negra executava a canção Cigana.
Aplausos
No mesmo dia, a plateia aplaudiu erroneamente uma das falas. A jornalista Maíra criticava o fato de que “a história é infelizmente escrita por homens e aí as mulheres são invisibilizadas nesse processo”. O público aplaudiu a frase “a gente tem um ditado que a gente até hoje continua pronunciando: ‘Por trás de um grande homem sempre tem uma grande mulher’.” As palmas ficam fortes ao final dessa fala.
Rennó comenta “é agora que é o aplauso, gente”, logo depois de Maíra dizer “na verdade ela estava à frente, e não atrás”. “O outro estava errado”, completa o jornalista. E a participante continua: “Aquele era um período em que o patriarcado ainda era legalizado e que naquela época, ainda hoje é, mas era algo que era formal. Era moral ser daquela forma, então elas jamais teriam o protagonismo que ele tem”. A atriz Julia Lemmertz e a jornalista falavam sobre o papel histórico de protagonismo de Dom Pedro I na história da independência do Brasil.
O grupo Raça Negra tocou os sucessos É Tarde Demais, Cigana e Cheia de Manias. A banda participou do programa para divulgar o lançamento do DVD Raça Negra & Amigos II. Assista ao programa completo clicando aqui.
Veja a reação do Twitter às declarações de Luiz Carlos, vocalista do Raça Negra:
Depois que o Luiz disse que a culpa do estupro é da mulher que usa roupa curta, eu tô preferindo 500 reais do que a foto com o raça negra!
— Angelica (@angelicabritto) September 14, 2017
alá o cara do Raça Negra ta passando vergonha no programa da Fátima Bernardes pic.twitter.com/JV3quJWGAj
— Enrico (@enricoassuncao) September 14, 2017
#Encontro Já sabemos pq a planta não gostava de Raça Negra pic.twitter.com/KBmJ53QrBz
— Aleson Barbosa (@alesonbarbosa17) September 14, 2017
Vocalista do Raça Negra ”as mulheres devem ser vestir com roupas que não provoquem o abusador.” Mulher não é patrimônio publico. #Encontro
— Robson Gomes (@RobsinhoGomes) September 14, 2017
Segundo o rapaz do Raça Negra, as meninas devem usar roupas comportadas para não atrair os pedófilos #Encontro pic.twitter.com/KKGGn8Jdkh
— Tiago (@tiagokiochi) September 14, 2017
O cantor do Raça Negra discordou da agenda esquerdista no programa da Fátima pode anotar a partir de agora chamarão a banda de Raça Branca.
— Math (@maathbz) September 14, 2017
Botaram o cara do raça negra pra tocar enquanto uma drag cover da lady gaga dança. Essa Fátima Bernardes não sabe o significado de limite
— Viva eu, porra ? (@maiegs) September 14, 2017
#Encontro devíamos ter ouvido a planta que não gostava do Raça Negra, há tempos! Ela só tava cheia de razão. pic.twitter.com/giEzMoe8N9
— ÓiaOqCMiFeizFazê ? (@Juliano_Luinwe) September 14, 2017
Decretado o fim do Raça Negra como patrimônio do Brasil.
— Amandona (@Clara_Decidida) September 14, 2017