Vila Cultural Cora Coralina: o mais novo e mais esquecido espaço cultura de Goiânia
16 maio 2014 às 11h29
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Com a gestão recentemente transferida da Goiás Turismo para Secult, espera-se que a secretaria consiga impulsionar a visitação ao local com mudança de exposições e eventos culturais
No subsolo entre a Avenida Anhanguera e a Rua 3, atrás do Teatro Goiânia, um grande, belo (e caro) espaço espera para ser utilizado. O investimento total divulgado pela Segplan foi de R$ 12 milhões e a construção da Vila Cultural Cora Coralina foi (quase) finalizada: belíssima, no Centro da capital, e mal aproveitada. Com sete meses da sua inauguração realizada às pressas para acontecer no aniversário de 80 anos de Goiânia, o local permanece escondido como um porão.
Uma turma de alunos da Escola Municipal de tempo integral Moisés Santana chegou cedinho para visitar a exposição na última quarta-feira (14/5). Natcha Moyano, 23 anos, e Juliana Carvalho, 20 anos, são as estagiárias de museologia da Universidade Federal de Goiás (UFG) que abrem as salas pela manhã e recebem os visitantes. As estudantes explicaram que a visitação se dá basicamente com alunos de escolas públicas. “Recebemos também muitos espanhóis e paulistas. Geralmente visitantes de outros países são pessoas que vieram ver a família e aproveitam para vir ao local.” De acordo com elas, a visitação de escolas passou a ser uma rotina principalmente depois que a Secretaria do Estado da Cultural (Secult) passou a administrar o local, que até o dia 2 de maio era coordenado pela Goiás Turismo.
A professora de música da escola, Maria Madalena, afirma que desconhecia o local, sendo esta a primeira vez que o visitava. “A escola foi convidada pela Secult para vir aqui visitar. Não sabíamos da existência deste espaço”, explicou. A educadora disse ter gostado bastante da Vila Cultural, e que espera uma maior divulgação e utilização para eventos artísticos.
Na entrada da antessala da Sala de Exposição, uma autobiografia do governador Marconi Perillo (PSDB), e logo acima um trecho do discurso de Pedro Ludovico Teixeira no dia da fundação oficial de Goiânia. “A cidade era fortaleza e abrigo. A cidade moderna é o repositório de todos os afetos do homem. Ali tem ele o seu lar, a sua família, os seus amigos, as reservas para a sua subsistência e os focos para a sua cultura. A cidade moderna educa e civiliza. É o fator mais valioso para reforçar a homogeneidade das pátrias.”
As portas altas e largas são a entrada para a sala de Exposição, que desde a inauguração abriga “Goiânia, 80 anos”. A exposição “Art Déco”, com 60 imagens desta arquitetura no país, está na sala Antônio Poteiro desde a inauguração, e segundo o projeto deveria permanecer somente até abril deste ano.
O telão com a chuva de poesia de Cora Coralina pode ser visto na sala com a exposição do aniversário de Goiânia. Bonecas Karajás, roupas de rituais, objetos e acessórios do povo vieram do museu goiano Zoroastro Artiaga, e ficam logo ao lado dos pratos típicos do Estado de Goiás. A Sala Multimídia João Bênnia possui 50 poltronas, data show, mesa de som e três microfones. Todas as exposições, que já deveriam ter sido mudadas, estão no local desde a inauguração, e o espaço depende de novos visitantes para ter movimento.
Obra incompleta
Há 15 dias o espaço cultural passou para as mãos da Secult, e espera-se que a secretaria utilize o local da forma merecida, mesmo que as obras ainda não estejam concluídas. Com a pressa de entregar o local no aniversário de 80 anos de Goiânia, o governador cortou a fita azul antes da conclusão das obras e preenchimentos de espaços do local.
Acima da Vila, por exemplo, um imenso espaço vazio chama a atenção. O projeto da Goiás Turismo chamou o local de Belkiss Spenciere, que deveria servir como um espaço de convivência, onde caberiam facilmente apresentações artísticas. Entretanto, permanece vazio. Na época da inauguração, a Goiás Turismo informou que até janeiro deste ano o local já teria instalado tótens retroiluminados, bancos e floreiras. A diretora de Infraestrutura e Operações Turísticas da Goiás Turismo, Sandra Mendez, concedeu uma rápida entrevista o Jornal Opção Online e sustentou não saber quando a pracinha será concluída. “Talvez nos próximo 30 ou 60 dias”, estipulou.
Segundo informações das estagiárias de museologia, a antessala da Sala de Exposição deveria ser uma cafeteria. Já o espaço vazio atrás da exposição “Goiânia, 80 anos” deveria ser uma biblioteca, que ainda não foi estruturada. As escadas do local ficaram prontas em dezembro. Sandra Mendez sustenta que questões como biblioteca ou finalização de salas é referente a preenchimento do local. “A obra nós já terminamos. Agora o preenchimento já estava previsto em um segundo momento, e agora é de responsabilidade da Secult.” De acordo com ele, essa próxima etapa começa no segundo semestre. Todas as fases da Vila Cultural Cora Coralina, desde o início das obras em julho de 2011, ficaram a cargo desta gestão da Goiás Turismo.
Informações das estagiárias da Vila apontam que o elevador não está funcionando devido à falta de uma peça. A Secult afirma que quem responde por este problema é a Goiás Turismo, que por sua vez sustenta que o responsável por essas questões agora é a Secretaria de Cultura. Sandra Mendez assegura que o elevador funcionava enquanto estava na administração. “Agora se não está funcionando, eles que têm que chamar a equipe técnica para arrumar.”
A tentativa de chamar o público
A gerente de museus e galerias da Secult, Simone Rosa, afirma que está realizando junto com os estagiários de museologia da Vila um estudo para fazer um plano de ação educativa para o espaço. “Não tem como eu adiantar nada, já que o estudo ainda está sendo realizado. Mas em breve divulgaremos algumas mudanças.” A intenção é impulsionar a visitação no local. “Queremos provocar demanda espontânea. Os estagiários estão trabalhando com os dados que eles coletam; impressões que tiveram de visitantes, o que as pessoas mais comentam com eles.”
A superintendente de patrimônio histórico e artístico, que é a diretora da Vila Cultural, Deolinda Taveira, não pôde atender a reportagem e encaminhou uma representante, Solange Santana, que concedeu entrevista. De acordo com ela, a exposição “Goiânia 80 anos” deveria ficar até o dia 31 de maio, mas foi prorrogada. “A Superintendência está vendo se vai ser prorrogada novamente ou se vai entrar com outra exposição”, disse Solange, que explicou que para outra exposição ir ficar no local deve haver projeto e elaboração de contrato, o que demanda tempo. “O contrato da exposição está na Goiás Turismo, o que dificulta resolver essas questões.”
Solange explicou que a obra ainda não foi entregue, e que todos os defeitos encontrados foram relatados assim que Secult foi para o local. “Não tem o termo de recebimento definitivo. Quando fomos para a Vila, fizemos um relatório apontando todos os problemas e foi repassado para a Goiás Turismo. Eles disseram que iriam repassar para a construtora [CCB Construtora].”
Com 3.138 assinaturas no livro de visitantes, espera-se que o fato da Vila ser no subsolo não faça com que seja esquecida, abandonada. Que o espaço não permaneça desconhecido por grande parte dos goianienses, e que abrigue mais diversas exposições e manifestações culturais.