Um quadro típico para CPI decorrente do aparelhamento do governo pelo PT
23 abril 2014 às 15h29

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No mesmo dia em que a presidente da Petrobrás, Graça Foster, depunha no Senado, a oposição ganhou mais munição, vinda da Polícia Federal, para tentar a CPI que investigue as suspeitas de irregularidades na petroleira. A polícia concluiu quatro inquéritos da Operação Lava Jato e indiciou 46 pessoas por lavagem de dinheiro. Entre elas, pessoas relacionadas ao governo federal.
A Petrobrás comparece aos inquéritos com pelo menos dois indiciados que se envolvem em negócios da empresa: Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento; e o doleiro Roberto Youssef. Ambos estão presos em Curitiba, sendo o segundo ligado ao petista André Vargas, aquele deputado a quem, entre outras coisas, emprestou um jatinho e prometeu “independência financeira”.
Agora a Polícia Federal pretende investigar, na área abrangida pela Lava Jato, suspeitas de fraudes em licitações, desvio de dinheiro e sonegação fiscal. Com isso, pretende levantar a rede de pessoas no governo ligada ao doleiro Youssef. Por isso, aumentou a pressão de companheiros no PT pela renúncia de Vargas ao mandato de deputado antes que trouxesse mais prejuízo para o partido.

A identificação desse tipo de pessoas no governo tem a ver com a insatisfação de quadros técnicos do serviço público, como na Petrobrás, por causa do aparelhamento dos órgãos não apenas com gente estranha. Mas também pelo uso político dos organismos públicos a serviço de partidos e os negócios suspeitos que decorrem do aparelhamento.
Neste momento, há a crise com os quadros técnicos do IBGE por causa da suspensão política, em momento eleitoral, da aplicação periódica da Pesquisa Nacional de Amostras de Domicílios Contínua. Estava prevista a divulgação do resultado da pesquisa em 3 de junho, a quatro meses das eleições.
A pesquisa traria ainda este ano dados sobre o índice de empregos e rendimentos nas famílias em 3,5 mil municípios dos 5,7 mil do país. Os dados da Pnad Contínua definem as regras para a divisão do dinheiro dos fundos de participação dos Estados e dos municípios. O levantamento da Pnad ficaria para janeiro, depois das eleições que elegerão outros governadores.
A ideia da mudança veio da senadora Gleisi Hoffmann, ex-chefe da Casa Civil da presidente Dilma Rousseff e que pretende se candidatar pelo PT a governadora do Paraná. A pesquisa feita agora pode revelar um índice de desemprego nacional superior aos 5% apurados pelo velho método que se restringe a apenas seis regiões metropolitanas. Não seria bom ao PT.

Antes, houve a crise com o aparelhamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) na antiga gestão com caráter ideológico do companheiro Márcio Pochmann. Ele se retirou há dois anos para ser candidato pelo PT a prefeito de Campinas, em São Paulo. Perdeu a eleição e ficou por lá. Hoje todos os diretores do Ipea são técnicos da carreira.
É um quadro típico para comissão parlamentar de inquérito. A começar pela circunstância de que deriva do aparelhamento da Petrobrás a serviço do PT, tendo um foco específico, enxuto para investigação. Mas o governo e os partidos aliados ao Planalto prometem ampliar o cardápio de averiguações para incluir dois governos estaduais da oposição, São Paulo e Pernambuco.
Nesta semana o processo avançará, pelo menos com uma decisão do Supremo Tribunal Federal, aquele poder a que partidos acusam de se meter no Legislativo, mas ao qual recorrem para resolver pendências parlamentares. A oposição pediu ao tribunal uma liminar a favor do foco único da CPI. O governo seguiu a ideia e pediu garantia para ampliar a pauta.
O caso está no Supremo com a ministra Rosa Weber, nomeada no governo Dilma Rousseff. A relatora Weber prometeu estudar o caso neste feriadão e oferecer um parecer em seguida. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), aproveitou para segurar os mesmos dois pedidos de CPI da oposição à espera do Supremo.