Queimadura no rosto quase tirou o atletismo da vida de Alison. E ele está a um passo de subir ao pódio
01 agosto 2021 às 13h27
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Um dos mais carismáticos personagens da Olimpíada de Tóquio, Alison dos Santos evitava ficar sem boné para não mostrar consequências de um acidente quando era bebê
A imensa maioria da torcida brasileira o está conhecendo agora, mas a cada fim de prova de Alison dos Santos, ela fica mais encantada. No começo da madrugada desta segunda-feira, 2, ele disputará a final dos 400 metros com barreiras e tem grande chance de subir ao pódio na Olimpíada de Tóquio.
Na semifinal, disputada na madrugada deste domingo, Alison ficou com o 2º melhor tempo entre todos os competidores – 47s31, que é também o novo recorde sul-americano. O corredor ficou também apenas um centésimo atrás do recordista mundial, o norueguês Karsten Warholm, favorito ao ouro.
Mas ele é muito mais do que apenas um grande velocista: o nome mais provável – pode-se dizer o único – de “medalhar” no atletismo para o País dá um show de simpatia a cada apresentação, seja antes da prova, se mostrando irreverente, seja depois dela, nas entrevistas espontâneas que concede.
Nada que possa fazer suspeitar que aquele jovem calvo, na verdade, já foi um garoto tímido. Tudo por conta de um acidente doméstico. Ele era apenas um bebê de 10 meses de vida quando uma panela com óleo quente lhe atingiu. Teve graves queimaduras, boa parte de terceiro grau.
As cicatrizes ficaram e, por muito tempo, Alison só andava de boné para esconder as cicatrizes. Hoje, elas compõem as marcas de seu rosto e corpo. A parte mais visível é o couro cabeludo, afetado em grande parte , região em que perdeu os cabelos. Ele tem também parte da pele do rosto mais escura de um lado que de outro, como sequela.
Nascido em São Joaquim da Barra (SP), a 318 quilômetros da capital paulista, Piu – como é conhecido na cidade – foi descoberto pelo projeto social do Instituto Edson Luciano Ribeiro – fundado pelo ex-corredor e medalhista olímpico Edson Luciano, quando fazia judô. Impressionava pelo porte físico: aos 14 anos, já media 1,85 metro. Hoje, tem exatos 2 metros de altura, aos 21 anos.
Por conta do problema de autoestima pela aparência, ele não aceitou o primeiro convite. Meses depois, foi contatado novamente e aceitou – muito por conta de um amigo, Alexandre Inocêncio, que já estava treinando atletismo. Primeiro só competia de touca; hoje, se esbalda nas pistas com irreverência e sem nenhuma vergonha.
É com esse espírito leve e cheio de boas vibrações que Piu entrará na pista olímpica de Tóquio para, bem possivelmente, aumentar o número brasileiro no quadro de medalhas e, mais do que isso, ser mais um compatriota a mostrar superação para vencer no esporte e na vida.