O filho de um advogado foi preso suspeito de usar o escritório do pai como laboratório para fabricar produtos derivados de cogumelos alucinógenos, que eram enviados para todo o Brasil por meio dos Correios. O investigado chegava a lucrar R$ 50 mil por mês com a venda de cápsulas e até chocolate à base do fungo psilocybe cubensis, conhecido pelo poder alucinógeno. 

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A venda era realizada por meio de plataformas e perfis nas redes sociais – cujos valores variavam entre R$ 200 e R$ 300 – onde também eram oferecidos tratamentos espirituais usando os cogumelos “mágicos”. O autointitulado guia espiritual e terapêutico cobrava, em média, R$ 2,5 mil por cada atendimento para “curar” doenças como depressão e ansiedade.

“O ritual era individual na casa dele ou na casa das pessoas. Ele colocava uma música e, então, ficava conversando com a pessoa, que estava sob efeito alucinógeno. Ele falava que isso dava um reset no cliente. Esses produtos eram comercializados desde 2019, mas as investigações começaram há seis meses”, explicou o delegado Francisco Costa. 

No escritório, onde funcionava o laboratório, foram encontrados cogumelos de consumo permitido, como o juba de leão, além dos fungos “mágicos”, que contêm a substância psilocibina, alucinógeno que é proibido no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária  (Anvisa). O flagra ocorreu durante operação nesta quinta-feira, 26, data em que o guia espiritual foi preso pela Polícia Civil (PC), conforme o delegado. 

Todo o material foi apreendido e encaminhado à Superintendência da Polícia Técnico-Científica (SPTC) e, após a confirmação da presença da substância proibida, o terapeuta foi encaminhado à Unidade Prisional.

“São crimes contra a saúde pública. Ele será indiciado por tráfico de drogas e, até o momento, não temos indícios de que o pai dele tenha participação no crime”, explicou. 

O Jornal Opção entrou em contato com o Correios para que se posicionasse e aguarda retorno. Como o nome do terapeuta não foi divulgado, a reportagem não conseguiu localizar a defesa dele.

Venda proibida 

O advogado criminalista, Tadeu Bastos, explica que a venda de medicamentos e alimentos derivados de cogumelos, como feito pelo terapêutico, é proibido mesmo que o consumo do fundo seja permitido no Brasil. 

Para produzir e comercializar qualquer tipo de produto, independentemente das substâncias usadas, é necessário permissão da Anvisa, que é o órgão regulador. Caso a produção seja realizada sem licença, como no caso do cogumelo, o comerciante pode ser enquadrado no crime de tráfico de drogas.

“A Anvisa tem uma lista de cogumelos que são permitidos e que não são permitidos, informando sobre cada um deles. Isso é o que justifica o reconhecimento como substância entorpecente”, concluiu.