O Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é uma condição neuropsiquiátrica que envolve uma gama de sintomas e dificuldades, que não podem ser reduzidos apenas à desatenção, hiperatividade e impulsividade, como frequentemente descrito em vídeos nas redes sociais. O diagnóstico de TDAH não pode ser feito com base apenas em testes neuropsicológicos. Embora esses testes forneçam informações valiosas, um diagnóstico preciso exige uma avaliação clínica detalhada, observando um conjunto de sinais e comportamentos.

Estudos estimam que o TDAH afeta cerca de 5% das crianças e 2,5% dos adultos, mas apenas uma pequena parcela das crianças diagnosticadas segue com o transtorno até a fase adulta. A condição não tem cura, mas o tratamento pode melhorar significativamente os sintomas, o funcionamento e a qualidade de vida dos pacientes. O acompanhamento médico geralmente envolve terapias como a cognitivo-comportamental e o uso de medicações específicas, como psicoestimulantes.

Em plataformas como o TikTok, conteúdos curtos e rápidos podem dar uma visão distorcida do transtorno. Em vídeos populares, sintomas como inquietação ou agitação durante o sono são mencionados como indicativos do TDAH. Porém, o diagnóstico deve ser feito por um médico especialista, que analisa uma série de sinais clínicos. Psicólogos podem ajudar ao identificar possíveis indícios e encaminhar o paciente para o especialista, seja um psiquiatra ou neuropediatra. Testes neuropsicológicos podem fornecer dados úteis, mas não são determinantes para a confirmação do diagnóstico.

De acordo com o psiquiatra Elton Yoji Kanomata, muitos pacientes chegam ao consultório acreditando ter TDAH, quando na realidade apresentam outros transtornos, como ansiedade ou depressão, que também podem afetar a atenção. O especialista Guilherme Polanczyk, da USP, alerta que muitas vezes influenciadores de saúde mental na internet simplificam em excesso o assunto, levando à confusão, principalmente entre adolescentes.

Embora o TDAH seja uma condição frequentemente diagnosticada em crianças, muitos adultos também lidam com seus sintomas ao longo da vida. Polanczyk destaca que, embora o transtorno não tenha cura, o tratamento adequado pode melhorar o desempenho funcional e evitar complicações graves, como o aumento do risco de acidentes e problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade.

Em relação à manifestação do transtorno, os sintomas iniciais geralmente aparecem antes dos 12 anos. Embora o transtorno possa melhorar na fase adulta, especialmente devido ao desenvolvimento de estratégias de adaptação e maior autoconhecimento, a desatenção tende a persistir, enquanto os sintomas de hiperatividade e impulsividade costumam diminuir com o tempo.

Quando se fala em desatenção, a atenção deve ser voltada para comportamentos como a dificuldade de manter o foco em atividades, a tendência a cometer erros por falta de atenção e a dificuldade de organizar tarefas e cumprir prazos. Já a hiperatividade e impulsividade podem ser observadas por sinais como inquietação excessiva, dificuldade de ficar parado por longos períodos e a tendência a interromper os outros.

O diagnóstico envolve uma avaliação clínica completa, que pode incluir observações detalhadas e testes complementares. A análise é feita em diversos contextos, como em casa, na escola e no trabalho, para identificar padrões persistentes de comportamento que comprometem a vida cotidiana.

Embora o TDAH tenha uma base neurobiológica relacionada ao córtex pré-frontal do cérebro, exames de imagem não são eficazes para o diagnóstico. A análise clínica é essencial para diferenciar o TDAH de outros transtornos que apresentam sintomas semelhantes. O diagnóstico correto é importante para iniciar um tratamento eficaz, já que, sem o acompanhamento adequado, o transtorno pode afetar significativamente a qualidade de vida.

O tratamento do TDAH envolve tanto terapias comportamentais quanto o uso de medicamentos, com o objetivo de reduzir os sintomas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Medicamentos como o metilfenidato e a lisdexanfetamina são amplamente utilizados e apresentam bons resultados no controle dos sintomas. O tratamento deve ser adaptado à necessidade individual de cada paciente, levando em conta fatores como a saúde cardiovascular e a possibilidade de efeitos colaterais. Além disso, o acompanhamento contínuo é essencial para ajustar o tratamento ao longo do tempo.

Apesar das dificuldades, muitas pessoas com TDAH conseguem ter sucesso em suas carreiras e manter um bom desempenho acadêmico e profissional, demonstrando que o transtorno não necessariamente impede o alcance de metas. Por fim, o movimento da neurodiversidade, que busca uma compreensão mais inclusiva e respeitosa das diferentes formas de funcionamento cerebral, também reflete uma abordagem positiva para lidar com o TDAH e outras condições relacionadas.

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