Dois pré-candidatos ao governo de Goiás já movimentaram rumores de quererem mulheres como vice. Elas influenciam na decisão do eleitorado?

Em meados de 2010, o ex-governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz, foi impedido de participar da campanha eleitoral pela Lei da Ficha Limpa e anunciou como substituto, ninguém mais que sua esposa, Weslian Roriz, uma semana antes das eleições. Criticada publicamente pela pouca desenvoltura política e sob a acusação de que estaria a todo o momento sendo “teleguiada” pelo seu marido, Weslian sofreu nos debates, dos quais nunca havia participado anteriormente e precisou de cola para perguntar e responder os questionamentos.

Hoje, mais de uma década depois, a participação das mulheres tem crescido na política, mesmo que ainda de maneira tímida. Segundo um estudo realizado pela União Interparlamentar, organização internacional responsável pela análise dos parlamentos mundiais, o Brasil está em 142º na lista internacional que aponta a participação de mulheres na política, sendo o Haiti o único país que ocupa uma posição inferior a brasileira no ranking da América Latina. Os dados têm como base as eleições de 1997 a 2018. Nas últimas eleições majoritárias, as brasileiras conseguiram ocupar 15% das cadeiras da Câmara dos Deputados. No Senado, o número é ainda menor, sendo apenas 12,4%. Goiás, por exemplo, até hoje só teve apenas uma senadora. Em contrapartida, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que as mulheres representam 51,5% da população total do país.

Temas que miram na maior representatividade feminina passam, em sua maioria, por pautas feministas, entretanto, em Goiás, um Estado tradicionalmente conservador, dois pré-candidatos de direita e aliados ao bolsonarismo, já ventilaram que gostariam de mulheres ocupando sua vice-governadoria: Major Vitor Hugo (PL) pode ter como vice Izaura Cardoso, esposa do senador Vanderlan Cardoso; e Gustavo Mendanha (Patriota), que apesar de já ter dito que gostaria desse lugar nas mãos de uma mulher, ainda não sugeriu nenhum nome.

Lehninger Mota, cientista política, destaca que é preciso partir da máxima de que o objetivo final de qualquer candidato é ganhar a eleição e, às vezes, é possível unir pautas relevantes para alguns segmentos da sociedade e isso ser interessante aos objetivos eleitorais, como exemplo, a maior participação feminina na política. “Nossa realidade ainda é muito ruim para nossas candidatas, temos garantias legais que não se aplicam na prática. Temos que avançar para garantir 50% das cadeiras do nosso legislativo para as mulheres, o simples direito de candidatar não está mudando a quantidade de mulheres eleitas”, diz ao Jornal Opção.

Na Câmara Municipal de Goiânia, dentre os 35 vereadores da Casa, apenas cinco são mulheres. O número se repetiu na legislatura passada. Na Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), a realidade consegue ser ainda pior: das 41 cadeiras, apenas duas são ocupadas por mulheres. “As mulheres são a maioria dentro dos aptos a votarem, logo é eleitoralmente imprudente pensar em uma chapa majoritária sem uma presença feminina”, pontua o especialista.

Como um ponto fora da curva, no pleito de 2018, houve uma grande concentração de mulheres concorrendo a chapa presidencial como vice. Sônia Guajajara (PSOL), como vice de Guilherme Boulos (PSOL);  Ana Amélia Lemos (PP), vice de Geraldo Alckmin (PSB); Kátia Abreu (PP), vice de Ciro Gomes (PDT);  Suelene Balduino (Patriota), vice do Cabo Daciolo (PDT) e Manuela D’Ávila (PCdoB), vice na chapa de Fernando Haddad (PT). Além das duas pré-candidatas à Presidência: Marina Silva (Rede) e Vera Lúcia (PSTU). Naquela época, com a campanha já bastante polarizada, assim como as eleições de 2022, as pesquisas indicavam que um terço do eleitorado brasileiro ainda não havia definido seu voto para a presidência, sendo essa indefinição maior entre as mulheres do que entre os homens, o que indica que a escolha delas como vice nas chapas poderia ter um peso importante para definir o cenário eleitoral. O resultado: Manuela D’Ávila chegou a ir para o segundo turno com Haddad mas perdeu para uma chapa inteiramente masculina.