Sem medo de ser feliz? O PT mudou, agora teme a volta do passado em que foi oposição
17 maio 2014 às 11h56
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Os governistas pretendem ampliar o confronto direto com os tucanos nas peças da campanha de Dilma, como acontece na CPI da Petrobrás
A. C. Scartezini
Quem não se lembra do slogan que embalava aquela cantiga do Lula Lá? Era o mote das campanhas presidenciais de Lula desde a primeira em 1989. Ao final de três derrotas, ele se elegeu presidente no embalo do som de sempre. “A esperança venceu o medo”, vibrou Lula na noite em que se sagrou vencedor do segundo turno contra o tucano José Serra há 12 anos.
Em entrevista para comemorar a vitória, Lula afirmou que o país estava mudando e então destacou o arremate:
— O mais importante, a esperança venceu o medo e hoje eu posso dizer para vocês que o Brasil mudou sem medo de ser feliz.
Agora, surge a outra face da moeda como reação do PT ao peso que sente sobre os ombros ao carregar a tarefa de reeleger a presidente Dilma Rousseff. É a campanha Fantasmas do Passado, onde os petistas repassam aos eleitores o medo quanto à eventual perda do poder, o que poderia significar uma derrota para as conquistas sociais desde o governo Lula.
A campanha, bem feita com filmetes de um minuto de duração, possui um apelo capaz de consolidar a vocação de voto petista junto à humilde clientela do assistencialismo do governo. Porém, ao pregar o temor, o PT renega aquele sem medo de ser feliz que embalava as campanhas. A alegria sai de cena. Entra o temor.
Como todos sabem, a nova postura petista representa o efeito tardio daquela campanha de Serra em 2002, quando o PSDB colocou em cartaz o filmete em que a atriz Regina Duarte interpretava o medo social diante das incertezas que viriam com um governo Lula. Naquela época, a cotação do dólar bateu recorde no mercado. Foi a 4 reais por causa das incertezas.
No meio da semana passada, a repórter Maria Lima observou que a campanha Fantasmas do Passado não apenas replica ao PSDB de 2002. Também reproduz a campanha Futuro Congelado feita há alguma semanas no Panamá pelo mesmo marqueteiro João Santana — conhecido em toda Salvador como Patinhas desde que era apenas jornalista.
A campanha panamenha serviu à candidatura presidencial de José Domingo Arias, vencido então pelo empresário Juan Carlos Varela, da oposição. No filmete de Arias, amigo de Lula, os governistas pregavam o medo quanto ao destino de programas sociais perante a vitória da oposição. Encerrava-se com o apelo de uma moça:
— Varela, não congele os nossos sonhos.
A menção direta ao nome do candidato da oposição, Varela, é um risco de marketing ao qual se recorre apenas numa situação duvidosa quanto à vitória eleitoral. O imaginário social entende o desespero que se passa com uma marca (um candidato ou um produto comercial) quando sua propaganda menciona o concorrente de forma direta.
No entanto, a ideia do PT de Lula e Dilma é continuar o confronto com o PSDB nas peças de campanha, o que inclui os discursos da candidata. Como confrontar o país de hoje com a gestão de FHC que se encerrou há 12 anos e desde então o PT tornou-se o responsável pelo poder? Não será algo fácil, mas o marketing petista tentará.
Assim, começam a chegar ao mercado peças com a propaganda do governo que comparam o país de hoje com aquele da virada do século. Como ocorreu no programa de dez minutos do PT na quinta-feira. Nele, Lula e Dilma abordaram programas e políticas sociais, inclusive com número sobre o desempenho da economia.
“Não basta crescer no mundo dos economistas”, advertiu Lula como se existissem dois países com duas concepções e desempenhos econômicos diferentes. Um deles seria o Brasil dos economistas, numa referência a FHC desde a criação do Plano Real. O outro país seria o do povão beneficiado pela ação social.