O secretário municipal de Saúde de Goiânia (SMS), Wilson Modesto Pollara, admitiu, em entrevista exclusiva ao Jornal Opção, que tentou adiar a paralisação dos atendimentos no Hospital Jacob Facuri para depois das eleições. Questionado se o relato do pedido para adiar a suspensão em pelo menos uma semana procedia, Pollara disse que sim. “Claro que sim, imagina. Isso é uma coisa horrível, é uma pressão, é um soco abaixo da cintura.”

O titular da pasta disse que a SMS deve quitar os pagamentos em atraso à hospitais privados em convênio com o município até o mês de outubro. O Hospital Jacob Facuri suspendeu as internações do SUS nas UTI neonatal devido à falta de de pagamentos pela Secretaria Municipal de Saúde e da prefeitura de Goiânia. “Esse ano nós demos mais de R$ 17 milhões. Eles não tem o que reclamar, se tem algo em atraso, vai ser corrigido em cerca de um mês”, afirma Pollara.

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De acordo com o secretário, o contrato com o Hospital Jacob Facuri venceu e houve tentativa de negociação no valor da UTI. “O SUS paga R$ 600 no leito de UTI e a Prefeitura paga mais R$ 500. Temos em Goiânia 120 leitos de UTI que trabalham com o preço de R$ 1.100, eu não posso é pagar R$ 2.100, a gente não tem condições, tanto por dinheiro quanto para não inflacionar o preço de todos os leitos”, disse.

A unidade hospitalar aponta que a dívida ultrapassa os R$ 19,5 milhões. Ibrahim Jacob Facuri, diretor executivo do hospital, lembra que a Prefeitura de Goiânia e a SMS iniciaram o ano com uma dívida de R$ 24 milhões. “Ao longo dos meses aumento a dívida em cerca de R$ 12 milhões pelos serviços prestados e “pagou” R$ 17 milhões, sendo que boa parte é de repasses federais. Ou seja, continua devendo R$ 19 milhões e ainda tem seis repasses federais que não foram feitos”, rebate.

Pollara aponta que a situação de endividamento da SMS com os hospitais conveniados se dá pelo leito. “O que acontece é que esses hospitais trabalham com múltiplo da tabela SUS. Quando eu entrei há um ano, eu tinha quatro meses de atraso e zero de orçamento. Não consegui pagar coisa alguma até o final do ano. Aí, este ano, quando abriu o orçamento é que eu comecei a pagar os atrasos e praticamente no mês que vem vai estar tudo em dias”, garante.

O titular da SMS diz que as dívidas em atraso hoje giram em torno de R$ 80 milhões e que a programação é que elas sejam quitadas até outubro. “Entrei com R$ 260 milhões em dívidas. Agora temos 80 num orçamento de R$ 2 bilhões, é um valor administrável”, argumenta.

Confira a entrevista na íntegra:

Esse valor por leito não é determinado pelo sus?

Não, o SUS paga R$ 600 no leito de UTI, os outros leitos que temos em Goiânia cobra R$ 1100 por leito, ou seja, a Prefeitura paga mais R$ 500 por leito. Ele quer R$ 2100, a gente não tem condições, tanto porque a gente não tem dinheiro quanto para não inflacionar o preço de todos os leitos.

O contrato dele venceu a gente quis contratá-lo pelo preço que a gente paga para os outros. Ele não aceitou. Essa negociação faz tempo que estamos fazendo.

Diretoria do hospital relatou atrasos dos repasses federais que são carimbados.

Isso não. Esse ano nós demos mais de R$ 17 milhões para eles e nesse valor de R$ 2100, então eles não tem o que reclamar. Se tem algo em atraso, isso vai ser corrigido em cerca de um mês. Estamos pagando o mês seis.

Há atrasos de 2022, 2023 e 2024 foi pago apenas o mês de janeiro.

Não, isso aí não. Isso aí é um trabalho que ele fez na época da Covid e por problema de documentação não conseguimos pagá-lo. Não foi da minha gestão. Da época da Covid era um outro tipo de pagamento e não conseguimos identificar [o serviço] e está em análise, em auditoria. De 2024, pagamos até o mês seis a parte SUS. Janeiro ficou atrasado, aí ele recebeu três meses, fevereiro, março e abril. Aí mês passado nós pagamos três meses para ele. Esse mês agora iríamos pagar maio e junho e mês que vem ficaríamos em dias. Mas o problema não foi esse, não foi o atraso. O atraso é normal e todos sabem que isso existe mesmo algum um ou dois meses de atraso e depois a gente paga dois ou três meses juntos. O problema é que ele quer cobrar o dobro do que a gente paga.

Relato que houve um pedido para que não se fizesse a suspensão durante o período eleitoral. Isso procede?

Claro que sim, imagina. Isso é uma coisa horrível, é uma pressão, é um soco abaixo da cintura.

Como estão as dívidas da SMS com os hospitais?

O que acontece é justamente porque esses hospitais trabalham com múltiplos da tabela SUS. Quando eu entrei, faz um ano, eu tinha quatro meses de atraso e zero de orçamento. Não consegui pagar nada até o final do ano. Aí, este ano, quando abriu o orçamento é que eu comecei a pagar os atrasos e praticamente no mês que vem vai estar tudo em dias. Nós tínhamos um atraso lá atrás e eu cheguei para resolver.

A suspensão dos atendimentos pode sobrecarregar outras unidades?

Não, esses leitos de alta complexidade são de responsabilidade do Estado. O município tem que cuidar da atenção básica e da média complexidade.

Em entrevista ao Jornal Opção quando o senhor foi nomeado secretário, o senhor relatou uma dívida de R$ 170 milhões. Como está isso hoje?

Entrei esse ano com R$ 260 milhões de dívida, atualmente temos mais ou menos R$ 80 milhões e a programação é que até outubro a gente já vai quitar tudo. São R$ 80 milhões de dívida num orçamento de R$ 2 bilhões, é um valor administrável.

Nesse período de gestão, o que foram as maiores dificuldades?

Justamente porque a saúde de Goiânia estava nas mãos dos privados que não conseguem trabalhar com a tabela SUS. O SUS tem que ser trabalhado com os filantrópicos e pelos próprios hospitais. Os hospitais privados pagam impostos e encargos da folha de pagamento, coisa que o filantrópico não paga. Por isso que o filantrópico, como Araújo Jorge conseguem atender o SUS. 80% dos gastos de um hospital é RH, quase 20% do orçamento deles é encargo sobre folha de pagamento e por isso não conseguem atender a tabela SUS. O presidente da associação dos Hospitais privados concorda que não é possível um hospital atender pela tabela SUS.

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