Corretores em pregão na Bovespa: valorização das ações se deu na constatação de queda de Dilma em pesquisa | Germano Luders/Exame
Corretores em pregão na Bovespa: valorização das ações se deu na constatação de queda de Dilma em pesquisa | Germano Luders/Exame

Ao longo de três anos de governo, a presidente Dilma Rousseff surfou ondas de certezas. Co­meçava pela certeza, imperial, que ela tinha de ser a única que sabia tudo e tinha solução para todos os problemas imagináveis. Com os escândalos da Petrobrás, Dilma passou a surfar ondas de dúvida. Agora diz que desconhecia coisas mal feitas na empresa que aconteciam desde Lula.

A crise pessoal da presidente coincide com a exposição da decadência do prestígio de Dilma na última pesquisa de opinião. Uma queda que se antecipa aos planos da oposição, que se pergunta se não seria melhor se o baque viesse depois de 5 de julho, a tempo de impedir ao PT a candidatura alternativa de Lula porque o prazo para registro vence três meses antes da eleição.

Até lá, virão outros fatos sociais que operam como variáveis dos dilemas eleitorais dos partidos e eleitores, como os protestos contra a Copa do Mundo, as pressões salariais e a inflação. Em outro plano, há variáveis com impulsos otimistas como a valorização do Ibovespa e a queda da cotação do dólar, na quinta, a partir do mo­mento que se conheceu o tombo do prestígio de Dilma.

O mais recente relatório trimestral do Banco Central revelou, na quinta, que o auge da inflação deste ano ocorrerá no terceiro trimestre, no momento das eleições de 5 de outubro. A expectativa é de alta progressiva até lá. As dúvidas do mercado quanto ao preço da gasolina e da energia devem ser a principal fonte de alimentação inflacionária. Portanto, os juros subirão.

E dizer-se que, três dias antes da divulgação da queda, a presidente se reuniu com a nata dos banqueiros num ambiente de cordialidade por parte da anfitriã, o que poderia ter a ver com aquela outra queda do dólar e alta da bolsa que ocorreu no dia seguinte, terça, mas não se repetiu na quarta. Na quinta, o fenômeno voltou em função do Ibope. Na sexta, continuou.

A primeira oscilação foi atribuída naquele momento ao ambiente internacional, onde as bolsas subiram planeta afora. Mas também poderia conter uma cota de retribuição passageira dos banqueiros à simpática acolhida com que Dilma os honrou, no Planalto, em mo­mento de campanha pela reeleição. A segunda oscilação, na quinta, porém, foi genuinamente brasileira.

Aí é que mora o perigo para a oposição. O otimismo da reação imediata do mercado financeiro em seguida ao conhecimento da pesquisa do Ibope pode ser um movimento articulado por aquela “força da grana” que Caetano Veloso canta em “Sampa”, a cidade símbolo do capitalismo nacional – e sede do PT.

Ironicamente, sendo assim, a ligação entre a queda do prestígio presidencial e o otimismo do mercado poderia influenciar a agência Standard & Poor’s a ser mais otimista na avaliação de risco dos investimentos no país que rebaixou o grau de confiança no governo e em agentes econômicos brasileiros. O problema é que a pesquisa da agência saiu antes, na segunda, e a do Ibope na quinta.