Psiquiatra reforça psicopatia de Tiago Henrique: “Tinha pleno entendimento de seus atos”
12 agosto 2016 às 12h48

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Perito psiquiatra forense que realizou o diagnóstico do serial killer de Goiânia afirma em júri que psicopatia não é doença, e sim desvio de personalidade

Em mais um julgamento na manhã desta sexta-feira (12/8) envolvendo o assassino em série Tiago Henrique Gomes da Rocha, já condenado por 11 homicídios em Goiânia e acusado em outros 22 processos, não apenas foi confirmada a autoria do assassinato da dona de casa Lilian Sissi Mesquita e Silva, como também ficou comprovado mais uma vez que Tiago possui pleno entendimento de seus atos.
Durante a sessão, a defesa do serial killer, na tentativa de que fosse reconhecida a semi-imputabilidade de Tiago, alegou que o réu admite possuir um transtorno, mas se julga incapaz de controlá-lo e, portanto, pedia que fosse reconhecida sua incapacidade parcial de entender a ilicitude de suas ações.
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Para tanto, a defesa arrolou como testemunha o perito psiquiatra forense Diego Franco de Lima, responsável pelo diagnóstico de Tiago, mas não obteve o resultado planejado. Pelo contrário, durante depoimento o especialista reforçou a psicopatia do réu, alegando se tratar de um transtorno de personalidade, e não de uma doença.
“Como apontam os laudos, Tiago Henrique é psicopata, o que caracteriza um transtorno de personalidade e não uma doença mental, com as características de frieza emocional, tendência a manipulação e agressividade. Porém, a falha na estruturação do caráter, ou personalidade, como é mais utilizado em termos médicos, não tem relação alguma com o entendimento de atos lícitos ou ilícitos”, disse o médico.
“A psicopatia é uma condição intratável e o nosso laudo é de que ele tem pleno entendimento e autodeterminação nos atos praticados”, completou.
Além disso, o psiquiatra ainda defendeu que a falta de um exame de ressonância não tem qualquer relevância no diagnóstico de transtornos de personalidade, como levantou a defesa do acusado. “Não existe exame laboratorial ou de imagem que comprove a psicopatia. O diagnóstico é feito através de entrevistas médicas e, neste caso, a avaliação de toda uma equipe médica e psicológica. O nosso laudo é completo e não deixa margem para dúvidas”, afirmou.
12º julgamento

O ex-vigilante foi pronunciado na manhã desta sexta (12) por homicídio com as qualificadoras de motivo torpe e emprego de recurso que impossibilitou a defesa da vítima. O crime ocorreu no dia 3 de fevereiro de 2014, por volta das 16h45, na esquina das Ruas Formosa e Buriti Alegre, na Cidade Jardim.
O homicídio de Lilian é considerado emblemático na apuração do caso do serial killer de Goiânia porque foi um dos únicos em que existia provas imagéticas do crime. Uma câmera de vigilância gravou o momento em que o assassino desceu da moto, alvejou a vítima, que se preparava para atravessar a rua, com um tiro no tórax, e fugiu do local. Lilian ia a pé buscar os filhos na escola quando foi assassinada.
Uma das testemunhas da acusação a prestar depoimento ao júri nesta sexta (12) foi a delegada da Polícia Civil, Silvana Nunes, que integrou a equipe da força-tarefa que passou a investigar casos de homicídios com as mesmas características. “De todas as perguntas que aprendemos a fazer quando recebemos o treinamento de investigação na academia de polícia, ‘como’, ‘quando’, ‘onde’, no caso de Lílian, não conseguíamos enter o porquê. Era uma pessoa religiosa, sem vícios, com uma família estabilizada, investigamos até o passado distante dela para encontrar alguma coisa e não encontramos nada nem ninguém pudesse estar ligado ao crime”.
Ainda em depoimento, a delegada corroborou a fala do perito psiquiatra, ao dizer relatar que este e outros crimes foram planejados por Tiago Henrique. “Embora não houvesse motivação, os crimes eram claramente premeditados”, afirmou Silvana.
Emocionada, a delegada que acompanhou por meses a investigação do caso de Lilian afirmou não acreditar em arrependimento por parte do réu. “Acho que posso trabalhar 20 anos na polícia que não vou me esquecer desse caso, porque nunca vi nada igual. Tiago não tem aparência agressiva ou nervosa, mas demonstrava uma frieza muito grande ao falar dos crimes, dos quais muitas vezes ele nem se lembrava”.

Ela chorou ao lembrar de um depoimento específico no qual questionou Tiago sobre a família que vítima deixou. “Eu perguntei, ‘você sabia que essa moça estava indo buscar os dois filhos na escola?’. Ele respondeu que não sabia e talvez esse tenha sido o único momento que vi um pouco de arrependimento, mas ele nunca se arrependeu realmente, nunca se desculpou”.
Durante sua pronúncia, Tiago Henrique confessou o crime, mas preferiu não dar detalhes. “Me arrependo de verdade. No momento estava completamente sem controle. Não sei explicar. Até em respeito à família, não vou dar detalhes do caso. Só queria dizer que não sou aquilo que a mídia mostra.”
A defesa de Tiago Henrique é realizada pela advogada Ludmilla de Mendonça, da defensoria pública. A acusação é sustentada pelo promotor de Justiça Maurício Gonçalves de Camargo, do Ministério Público de Goiás (MP-GO). A sessão de julgamento do 1º Tribunal do Júri de Goiânia é presidida pelo juiz Eduardo Pio Mascarenhas.
Este é o 12º júri de Tiago Henrique, que já foi a condenado a 265 anos e 10 meses de prisão por 11 homicídios, dois assaltos a mesma agência lotérica e posse ilegal de arma de fogo. O vigilante vai a júri popular em outros 22 processos. Contra ele ainda tramita ação por furto de arma de fogo, na 3ª Vara Criminal de Goiânia.