“Não só é difícil provar, como é impossível extrair algo da delação dele”, teria dito um dos membros da força-tarefa

Sergio Moro, ministro da Justiça | Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Em novas mensagens reveladas pela Folha em parceria com o The Intercept Brasil de conversas atribuídas a procuradores da Lava Jato, foi apontado que o ministro da Justiça Sergio Moro teria sido motivado politicamente ao divulgar parte da delação do ex-ministro petista Antonio Palocci a seis dias do primeiro turno da eleição presidencial, apesar de achar o teor fraco.

“Russo comentou que embora seja difícil provar ele é o único que quebrou a omerta petista”, teria dito o procurador Paulo Roberto Galvão em grupo de mensagens do aplicativo Telegram em 25 de setembro. Russo seria o apelido de Sergio Moro e Omertà é código de honra dos mafiosos italianos.

“Não só é difícil provar, como é impossível extrair algo da delação dele”, afirmaria cética a procuradora Laura Tessler, que foi sucedida por Antônio Carlos Welter: “O melhor é que [Palocci] fala até daquilo que ele acha que pode ser que talvez seja”.

Eram contra

Vale lembrar que Palocci fechou acordo de delação com a Polícia Federal em março de 2018, depois de não conseguir com a Procuradoria-Geral da República e a força-tarefa à frente da Lava Jato em Curitiba. Após oito meses, eles achavam que a contribuição do ex-ministro acrescentava pouco ao já sabido, além de não ter provas capazes de sustentar os depoimentos, informou a Folha e o The Intercept.

“Como os anexos estão sem elementos de corroboração suficientes, decidimos romper as negociações”, comunicou Welter no começo de 2018.

Deltan Dallagnol, inclusive, tentou acabar com o acordo da PF. “Ainda que as decisões sejam desfavoráveis, a simples incerteza criada pelos nossos recursos, nesta e nas próximas oportunidades, é um instrumento a favor de consolidar a posição do MPF como a mais vantajosa com que se negociar mesmo depois da decisão do STF”, escreveu aos colegas num grupo do Telegram.

Porém, depois de Moro divulgar, ele defendeu o então juiz. “Feito o acordo, creio que temos que tentar extrair o melhor dele. Não me parece em uma primeira reflexão boa a estratégia de negar valor sem diligências”.

Depoimento

No trecho divulgado por Moro em 1º de outubro passado, e que foi dado em abril de 2018, Palocci afirmou que Lula autorizou o loteamento da Petrobras pelos partidos que apoiavam seu governo. Segundo o delator, o ex-presidente tinha conhecimento que eles recolhiam propina das empreiteiras que faziam negócios na estatal (a Odebrecht, por exemplo).

Ele também afirmou que as campanhas da ex-presidente Dilma Rousseff em 2010 e 2014 foram mais caras que o registrado e que receberam dinheiro de caixa dois. Ele estimou R$ 1,4 bilhão, nas duas – três vezes o declarado. As informações foram amplamente divulgadas pela mídia, à época.

Justificativa

“Não deve o juiz atuar como guardião de segredos sombrios de agentes políticos suspeitos de corrupção. Retardar a publicidade do depoimento para depois das eleições poderia ser considerado tão inapropriado como a sua divulgação”, disse Moro, dua semanas depois, ao se defender contra uma reclamação apresentada contra ele no Conselho Nacional de Justiça.

Ele também negou querer influenciar as eleições presidenciais. Um mês depois ele aceitou o cargo de ministro da Justiça. Já Palocci, foi solto para cumprir pena em prisão domiciliar duas semanas depois.

Posição

O Ministério da Justiça e a força-tarefa à frente da Operação Lava Jato em Curitiba defenderam a delação de Palocci. Não foram comentadas as críticas feitas por procuradores e atribuídas ao então juiz Sergio Moro.

Em nota sobre o conteúdo da matéria, ambas as entidades colocaram em dúvida a autenticidade do material e observam que o acordo de Palocci com a Polícia Federal foi homologado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região.

“O Ministério da Justiça e Segurança Pública não comenta supostas mensagens de terceiros, obtidas por meios criminosos, nas quais, em tese, haveria referência à suposta afirmação efetuada pelo então juiz”, disse a assessoria de Moro.

O advogado Tracy Reinaldet (Palocci) declara que “o conteúdo das supostas mensagens não invalida ou modifica a colaboração de Antonio Palocci, o qual continuará cooperando com a Justiça e apresentando suas provas de corroboração. É de se dizer que, atualmente, a efetividade da colaboração de Antonio Palocci já foi reconhecida tanto por diferentes órgãos da PF e do Ministério Público Federal, quanto por diferentes instâncias do Poder Judiciário”.

Já a Polícia Federal, acerca do acordo fechado com o ex-ministro e os inquéritos abertos para investigar as informações que ele forneceu, informou que “não se manifesta sobre supostas investigações em andamento”.

A Procuradoria-Geral da República não se pronunciou sobre as negociações conduzidas com Palocci. Ela participou ao lado da força-tarefa de Curitiba.