PM deixa idosa sangrando em São Paulo
05 dezembro 2024 às 21h20
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Na noite da última quarta-feira, 4, um episódio chocante de violência policial marcou mais um capítulo das crescentes críticas à atuação da Polícia Militar de São Paulo. Lenilda Messias, de 63 anos, foi brutalmente agredida por um PM durante uma abordagem em sua residência no bairro Jardim Regina Alice, em Barueri, Região Metropolitana de São Paulo.
Imagens registradas por testemunhas mostram a idosa com o rosto ensanguentado, após ser empurrada e atingida por um cassetete. A cena, amplamente compartilhada nas redes sociais, gerou indignação e reforçou questionamentos sobre o uso excessivo de força pela corporação.
O tumulto começou quando policiais chegaram à casa de Lenilda para apreender uma moto que seria de seu neto, Matheus Lima. O veículo estava estacionado na garagem da residência, e a família questionava a ação dos agentes, alegando que não havia justificativa para a apreensão. Lenilda, ao tentar intervir, foi alvo de agressões físicas por parte de um dos policiais, que a empurrou repetidamente e, em seguida, desferiu um golpe em sua cabeça com o cassetete.
— Eles chegaram pedindo apoio e, quando os reforços chegaram, arrebentaram o portão da garagem e entraram batendo em todos. Foi uma cena de horror — relatou Bianca de Lara, ex-nora de Lenilda e uma das testemunhas, ao jornal Folha de S. Paulo.
Nos vídeos gravados por vizinhos, é possível ouvir gritos de familiares e crianças chorando enquanto os policiais invadiam o local. Lenilda aparece implorando por explicações: “Por que vocês estão fazendo isso? Vocês são autoridades!” Apesar disso, os agentes não cessaram as agressões. Juarez Higino Lima Júnior, empresário e filho de Lenilda, também foi preso na confusão e sofreu ferimentos.
— Eu desci as escadas e me deparei com policiais agredindo meu filho e meu neto. Pedi calma, pedi explicações, mas ninguém me respondeu. Quando me aproximei, um deles bateu em mim sem motivo. Fiquei atordoada. Eles estavam agindo como se estivéssemos cometendo um crime, mas minha família não deve nada à Justiça
A idosa foi levada a uma unidade de saúde, onde recebeu atendimento devido aos hematomas no rosto e na cabeça. Segundo os médicos, ela precisará continuar o tratamento nos próximos dias.
A Polícia Militar de São Paulo divulgou uma nota afirmando que “não compactua com desvios de conduta” e prometeu investigar o caso. A Corregedoria da PM também foi acionada para apurar a ocorrência, enquanto a Polícia Civil analisa as imagens registradas no local.
— A conduta do policial que agrediu minha mãe foi desumana. Ele sequer parecia ter treinamento para lidar com civis, muito menos com uma senhora de idade. Vamos buscar Justiça — afirmou Juarez, após ser liberado da delegacia.
Além da agressão a Lenilda, outras pessoas ficaram feridas durante a abordagem, incluindo o próprio neto, Matheus, que teria sido imobilizado no chão. A situação, segundo relatos, só não foi mais grave porque outro policial interveio para conter as ações de seu colega.
O caso de Lenilda Messias se junta a uma série de episódios recentes que têm colocado a Polícia Militar paulista no centro de críticas por uso desproporcional da força. Em um dos casos mais comentados, registrado na madrugada de segunda-feira, 2, um homem foi jogado de uma ponte por um PM durante uma abordagem na Zona Sul de São Paulo. A cena, também gravada por testemunhas, gerou grande repercussão e levou ao afastamento de 13 policiais envolvidos.
Na mesma semana, outros dois episódios agravaram a crise: a morte do estudante Gabriel Renan da Silva Soares, alvejado com 11 tiros nas costas por um PM de folga em um mercado, e a confirmação de que um menino de 4 anos, Ryan de Silva Andrade, morreu atingido por um disparo feito pela polícia durante uma operação em Santos.
Esses casos colocam em xeque a política de segurança pública conduzida pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e pelo secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite. Ambos têm sido pressionados a adotar medidas mais rigorosas para conter os abusos.
— Quem joga uma pessoa de uma ponte ou atira pelas costas não tem condições de vestir essa farda. A sociedade exige que esses desvios sejam punidos com rigor — declarou o governador em uma publicação nas redes sociais.
Apesar das promessas de investigação, os episódios reforçam a percepção de que há falhas estruturais no treinamento e na abordagem da PM paulista. Para especialistas, casos como o de Lenilda revelam não apenas excessos isolados, mas um padrão preocupante de violência.
Ainda abalada, Lenilda afirmou que seguirá lutando para que o policial que a agrediu seja responsabilizado.
— Sou uma idosa, nunca tive problemas com a Justiça. Eles não tinham o direito de invadir a minha casa dessa forma. Como podem tratar uma senhora como uma criminosa? Espero que a Justiça seja feita, porque eu não desejo que ninguém passe por isso — concluiu.
A família de Lenilda também planeja formalizar uma denúncia junto ao Ministério Público e buscar apoio de entidades de direitos humanos. Enquanto isso, o episódio se soma à crescente indignação popular diante da violência policial em São Paulo.
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