Pesquisadores do Centro de Estudos sobre o Genoma Humano e Células-Tronco (CEGH-CEL) da USP (Universidade de São Paulo) descobriram um gene que pode proteger mulheres contra à covid-19. A pesquisa analisou casais discordantes, ou seja, quando uma pessoa está infectada com vírus mas a outra, apesar da exposição continuada, não fica doente. A descoberta do gene pode trazer novas terapias contra a doença. 

Dos 86 casais analisados entre 2020 e 2023, foram encontradas seis mulheres que cuidaram dos maridos enquanto eles estavam doentes, mas não foram infectadas com o vírus. Após realização de exame genético, foi descoberto o gene IFIT-3 que acabou protegendo naturalmente as mulheres expostas ao vírus. 

Esse segmento do DNA codifica uma proteína antiviral essencial, que auxilia na inibição da replicação de vários patógenos nas células do hospedeiro. A proteína, que também se chama IFIT-3, se associa ao RNA do vírus impedindo sua replicação. Os pesquisadores concluíram que o IFIT-3 deve ser alvo de novos estudos, a fim de elaborar possíveis novos tratamentos contra infecções virais. 

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O trabalho da equipe foi publicado na revista Frontiers in Cellular and Infection Microbiology, em novembro deste ano. À Agência Fapesp, o primeiro autor do trabalho, Mateus Vidigal, explica: “Trata-se de um gene que faz parte da resposta antiviral. Ele já foi descrito em estudos anteriores como sendo relacionado à proteção contra outras doenças virais, entre elas dengue, hepatite B e adenovírus. Só que, em nosso trabalho, conseguimos, pela primeira vez, provar esse efeito protetor para além da teoria, pois é muito improvável que as seis mulheres não tenham sido expostas a Covid numa condição em que cuidaram dos maridos infectados”.

Para Mateus, não é como se as mulheres não tivessem sido infectadas. O vírus de fato entrou em suas células, só não conseguiu se replicar o suficiente para adoecer as mulheres. 

Inspiração

A ideia para o início da pesquisa veio da pesquisadora Maria Tereza Malheiros Sapienza. Durante duas ocasiões, ela cuidou do marido que estava infectado com o vírus causador da Covid-19 e, apesar do contato direto, ela não desenvolveu nenhum dos sintomas da doença. 

Maria Tereza Malheiros Sapienza e seu esposo, Marcelo Sapienza, casal que inspirou início da pesquisa l Foto: Reprodução/Fapesp (Arquivo pessoal).

Após compartilhar o relato com outros pesquisadores, novos casais nas mesmas condições foram encontrados, dando início à presente pesquisa. 

“Mas ainda precisamos nos aprofundar na biologia da resistência, entendendo quais mecanismos levam a maior expressão do IFIT3, por exemplo. Portanto, apesar de termos esse achado importante, o nosso estudo continua ainda com mais perguntas”, disse à Fapesp o professor Edecio Cunha Neto, da Faculdade de Medicina (FM-USP).