Parecer técnico-científico Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (Braspen) aponta que quatro a cada 10 pacientes internados em hospitais públicos no Brasil estão desnutridos

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A Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (Braspen) elaborou um parecer técnico-científico apontando que quatro a cada 10 pacientes internados em hospitais públicos no Brasil estão desnutridos. A análise projeta que o número de reinternações reduziria em 13,1% e a chance de óbitos cairia 37% caso o Sistema Único de Saúde (SUS) tivesse verbas para implantar a terapia nutricional oral (TNO).

Além de procurar alertar o governo federal sobre a importância de direcionar verba ao  SUS para a compra da TNO, o estudo compara unidades em que a suplementação alimentar que recompõe vitaminas do corpo é oferecida com aquelas em que não há TNO. Pacientes internados que estão bem nutridos têm melhores respostas imunológicas, melhor processo de cicatrização, baixo risco de complicações cirúrgicas e infecciosas e menor probabilidade de desenvolvimento de lesões por pressão (conhecidas como escaras), afirmam os cientistas.

Melina Castro, presidente da Braspen,  ressalta que a preocupação dos médicos e nutricionistas durante a pandemia é ainda maior, visto que pacientes com Covid-19 têm apresentado desnutrição no período de internação. A pesquisadora afirmou em entrevista ao jornal O Globo: “Pacientes com Covid-19 perdem muito músculo e, por ser uma doença que debilita, quando agravada, o uso da TNO na recuperação desses pacientes faz toda a diferença. A desnutrição também mata e, associada ao coronavírus, a mortalidade pode ser ainda maior.”

Segundo a Portaria 120, de abril de 2009, do Ministério da Saúde, o SUS reembolsa apenas os custos com a terapia nutricional enteral (via sonda) ou parenteral (via intravenosa) para pacientes internados e que estão desnutridos. A terapia nutricional oral, apesar de citada na legislação, não é contemplada com verba pública e, portanto, não é reembolsada pelo governo federal como terapêutica.

No momento, 93,1% dos hospitais que fazem uso da terapia nutricional oral fazem as compras através de incentivo estadual ou municipal, como explica Castro: “Para ter reembolso das terapias enteral e parenteral, os próprios hospitais precisam solicitar a verba e comprovar que são um centro que atende pacientes com complexidades, não é automático. Como é um caminho longo, a grande maioria dos hospitais do país acabam migrando verba para sanar a demanda por suplementação alimentar. Isso acontece também com a terapia oral, que não têm o reembolso explícito previsto na Portaria do governo federal”.

A pesquisa foi realizada a partir da análise de 21 estudos nacionais e internacionais que abordam os benefícios da TNO tanto para os pacientes, quanto para os centros hospitalares. Cerca de 95,5% de todo o levantamento foi feito através da observação de pacientes clínicos e cirúrgicos, que tinham chances de apresentar desnutrição ou já estavam desnutridos.