Em uma investigação recente, a Polícia Civil de Jundiaí revelou a estrutura de controle e intimidação imposta pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) nas comunidades dominadas pela facção, em especial no Morro São Camilo. De acordo com os policiais, moradores e pessoas ligadas ao crime frequentemente “vendem” seu silêncio em troca de segurança e favores, estabelecendo uma sinistra “política de boa vizinhança”.

O relatório da investigação, obtido pelo Metrópoles, destaca que muitos residentes fazem vista grossa para as atividades ilícitas da facção, incluindo os chamados “tribunais do crime”. Nesses julgamentos, inimigos e transgressores são convocados a enfrentar decisões muitas vezes arbitrárias e brutais, podendo até resultar em condenações à morte.

“Essas comunidades de baixa renda muitas vezes se veem obrigadas a recorrer aos líderes do crime para obter proteção ou ajuda. Essa troca de favores se torna uma questão de sobrevivência”, afirma o relatório. As solicitações de ajuda são levadas aos “disciplinas”, responsáveis por avaliar e decidir sobre as demandas apresentadas pelos moradores.

Investigações do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) revelam que Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, descentralizou as operações financeiras do PCC, dividindo-as em células ligadas a um núcleo central. Os “disciplinas” surgiram como corretores das ações da facção, evoluindo para julgadores em um sistema de justiça paralela.

Recentemente, quatro membros do PCC foram mortos em Jundiaí após um tribunal do crime, sendo que três deles foram enterrados vivos. As vítimas, que haviam cometido um erro ao matar um parente de um líder da facção, foram torturadas antes de suas mortes, como indicam os laudos do Instituto Médico Legal.

Outro caso emblemático envolve uma motorista de aplicativo que, em uma tentativa de se livrar do ex-marido, o acusou falsamente de tráfico de drogas. O pedreiro, condenado à morte em um tribunal do crime, conseguiu escapar em um ato desesperado, fugindo para uma delegacia onde pediu ajuda.

As ações da facção e o silêncio imposto sobre a comunidade revelam um ciclo de violência e manipulação. O pedreiro, agora em estado de temor constante, optou por não voltar para casa, ciente de que a “sentença” de sua ex-companheira ainda poderia ser cumprida.

Enquanto isso, a Polícia Civil continua suas investigações, enfrentando o desafio de desmantelar uma estrutura criminosa profundamente enraizada. A situação em Jundiaí ilustra o impacto devastador da violência organizada e a fragilidade das comunidades que vivem sob sua sombra.