PCC: com medo de morrer, Gordo pede clemência a sucessor de Marcola
08 setembro 2024 às 19h00
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Homem forte do Primeiro Comando da Capital (PCC), Anderson Manzino, o Gordo, tenta articular com lideranças da facção após ser jurado de morte pelos “irmãos” comandados por Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder máximo da maior facção criminosa da América Latina – cujas ramificações já se entendem a quatro continentes do globo.
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Gordo é apontado pela Polícia Civil paulista como o braço direito de Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, uma das três lideranças que se voltaram contra Marcola, provocando o maior racha da história do PCC. Por ser apadrinhado de Andinho, expulso da facção, Gordo também acabou sendo marcado para morrer.
Por meio dos manuscritos interceptados pela polícia, ele começou a acionar membros da cúpula, para garantir a própria vida. Um dos destinatários de Gordo, como mostram mensagens escritas pela esposa dele, Fabiana Lopes Manzini, seria Décio Gouveia Luís, o Português.
A mulher foi presa por tráfico de drogas, em setembro do ano passado. Ela estava com dois celulares, nos quais a Polícia Civil descobriu a correspondência entre as lideranças da facção.
Segundo investigação da Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes (Dise) de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, Português seria o “sucessor de Marcola” na liderança da organização criminosa. Detido em 2019 em uma casa de luxo em Arraial do Cabo (RJ), Português foi solto da Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte, em agosto do ano passado, após sua prisão ser relaxada pelo ministro Ribeiro Dantas, do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Autor de roubos milionários na década de 1990, atualmente ele está foragido e foi alvo de denúncia do Ministério Público de São Paulo (MPSP) pelo esquema de lavagem de R$ 20,9 milhões do PCC na empresa UpBus, que opera linhas de ônibus na zona leste da capital paulista.
Número 1 nas ruas
O outro chefão para o qual Gordo enviou pedidos de clemência foi Patric Velinton Salomão, o Forjado, apontado pelo MPSP como o número 1 da facção nas ruas. Ele também é investigado por planejar atentados para sequestrar e matar o senador Sérgio Moro e o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, que investiga o PCC há 20 anos.
“Não vou escrever para falar tudo que andei passando […] tenho certeza que em hipótese alguma nunca vocês terão decepção vinda de mim, seja em qualquer área […]. Minha lealdade, honestidade e honra é o que me mantém e é o que vou lutar para manter, enquanto eu for vivo”, diz trecho de uma das cartas de Gordo para Forjado, obtidas pelo Metrópoles.
Em outra carta, Gordo se dirige a Francisco Antônio Cesário da Silva, o Piauí, um dos líderes do PCC na favela da Paraisópolis, zona sul paulistana.
“Não sei se foi passado lá na P2 [Presidente Venceslau ] algum comunicado que eu não tenho ideia nenhuma pendente com o comando [PCC] ou com o crime […] quero pedir [ajuda] para vocês, meus parceiros, pois independente de qualquer turbulência que passei, eu continuo sendo a mesma pessoa e foi por isso que peço para o pessoal tentar te explicar e dizer que eu jamais serei motivo de decepção para meus amigos, parceiros e para o comando”.
Nos manuscritos, ele também propõe parcerias comerciais aos dois chefões, por meio da apresentação de um primo de sangue. O primo ao qual Gordo se refere é João Gabriel Yamawaki, preso no último dia 6 de agosto durante uma operação deflagrada pela Polícia Civil. Ele, segundo a PC, é um dos donos de um “banco digital do crime”.
A instituição financeira, com outras 19 empresas, teria movimentando R$ 8 bilhões. Parte do montante bilionário também foi movimentado por membros da facção criminosa com o intuito de bancar políticos e suas campanhas para as eleições municipais deste ano.
Racha no PCC
Algumas decisões e atitudes de Marcola desagradaram seus antigos aliados, provocando uma guerra interna entre os chefões da cúpula, a quarta em 30 anos de existência do PCC, e a primeira que ameaça o posto do ainda líder máximo. Ele, para se resguardar, então decretou a morte de Andinho, Roberto Soriano, o Tiriça, e Abel Pacheco de Andrade, o Vida Loka — que cumprem pena em presídios federais.
Com o risco de ser morto por ser apadrinhado por Andinho, segundo a Polícia Civil, Gordo então foi transferido do Presídio 2 de Presidente Venceslau, dominado por aliados de Marcola, para a Penitenciária de Avaré, também no interior de São Paulo. Ambas as unidades são administradas pela Secretaria da Administração Penitenciária paulista.
De lá, ele escreveu cartas, vazadas para fora da cadeia e, posteriormente, fotografadas e compartilhadas por sua esposa, Fabiana Lopes Manzini, para poderosas lideranças da facção e, também, para parceiros na venda de drogas e lavagem de dinheiro.