Segundo OMS, mais de 80% das vacinas contra Covid-19 fabricadas no mundo foram para países ricos

Em meio a pandemia vivenciamos uma guerra pela reserva de vacinas. Desde que o desenvolvimento dos primeiros imunizantes contra a Covid-19 apresentou avanços, os líderes mundiais se apresentaram como defensores das doses como bem público mundial. Parecia bem justa uma cobertura vacinal global para todos países pudessem se recuperar os impactos trazidos pela doença de forma igualitária. Entretanto, não se passaram nem dez meses desde os primeiros anúncios sobre o desenvolvimento da vacina e a realidade já é outra. Segundo o chefe da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, 81% das vacinas no mundo foram para países ricos. Esqueceram-se de que numa pandemia nenhuma nação estará segura até que todas estejam. A regra passou a ser: os ricos vacinam, os pobres esperam.

A constatação de que a concentração de vacinas em países ricos pode ameaçar o fim da pandemia não é de agora. Antes da reunião virtual dos líderes do G7 organizada pelo governo do Reino Unido, no dia 19 de fevereiro, a Anistia Internacional advertiu que a falha em garantir o acesso global às vacinas representa um desvio moral que acabará prejudicando também os países ricos. “Os líderes do G7 estão dando um tiro no pé ao não garantirem a distribuição igualitária e global das vacinas contra a covid-19”, disse Netsanet Belay, diretor de pesquisa e representante da Anistia Internacional.

A promessa de ‘reconstruir melhor’ soa falsa quando os países mais desenvolvidos são os principais culpados por bloquear a proposta da Organização Mundial do Comércio (OMC) de suspender os direitos de propriedade intelectual durante a pandemia. Nenhum país do G7 pressionou os produtores de vacina, os quais foram financiados com grandes somas de dinheiro público, a compartilharem seu conhecimento e sua tecnologia através da Organização Mundial da Saúde (OMS) para, assim, permitirem que mais vacinas fossem produzidas.

Os países mais ricos do globo, incluindo a União Europeia, compraram mais da metade (51%) dos insumos de vacina de todo o planeta, ainda que representem apenas 13% da população mundial. Mais da metade (52%) das doses disponíveis já foram administradas nesses países, enquanto dezenas de outros ainda não aplicaram uma dose sequer.

A concentração das vacinas em países ricos e as barreiras criadas para que as doses não cheguem com facilidade aos mais pobres é uma ameaça em aumentar ainda mais a desigualdade social, além de alimentar o nacionalismo e o uso diplomáticos do imunizante.