O “jogador”, chefe do Comando Vermelho, que garantiu a Copa do Mundo de 1994 para o Brasil
19 julho 2024 às 18h15
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Disputada nos Estados Unidos, a conquista do título da Copa do Mundo de 1994 teve a ajuda de um “jogador” que não entrou em campo e nem viu a taça ser erguida. Chefe do Comando Vermelho, Orlando da Conceição, conhecido como Orlando Jogador, foi um dos maiores traficantes de drogas do Rio de Janeiro. Ele comandava o Complexo do Alemão.
Nos anos 90, com a ascensão do tráfico de drogas nos morros cariocas, a criminalidade no Rio de Janeiro era imensa e sequestros eram frequentes. Orlando era conhecido por promover festas e torneios de futebol nas comunidades que dominava. Popular, ele fazia da caridade a principal arma para conquistar os moradores. Já para conquistar outros morros e bocas de fumo, a tática era a invasão com violência. Foi assim que, em 92, ele patrocinou uma intensa batalha para conquistar metade das comunidades que compunham com o Complexo da Penha.
É nesse cenário de violência o comerciante Edevair de Souza, pai do camisa 11 da Seleção Brasileira, Romário, foi sequestrado na Vila da Penha, Zona Norte do Rio de Janeiro. Ao sair do bar que era dono, Edevair foi rendido e colocado dentro de um veículo por três homens armados e encapuzados. A notícia do sequestro do pai desestabilizou o principal artilheiro e a maior esperança para um novo título após 24 anos da seleção Canarinha.
Romário não jogaria Copa se o pai não fosse encontrado
Jogando na Espanha pelo Barcelona, Romário decide voltar para o Rio de Janeiro, mas não sem antes alertar que, caso seu pai não fosse encontrado, ele não teria condições emocionais de jogar o que seria o tetracampeonato brasileiro. Edevair foi sequestrado em maio daquele ano, cerca de dois meses antes do início do torneio.
Os sequestradores pediram US$ 7 milhões para que pai de Romário retornasse para a família que manteve segredo por dois dias. Registrado o caso na polícia, mas impaciente com a demora na solução do crime, Ronaldo de Souza, o irmão mais novo de Romário, foi à Favela do Jacarezinho, onde nasceu o artilheiro, para pedir ajuda aos traficantes.
Apaixonado por futebol, a possibilidade de não ter o principal artilheiro brasileiro na disputa pelo mundial preocupou Orlando Jogador. Acostumado a formar exércitos para invadir lugares dominados por inimigos, Jogador reuniu algumas dezenas de homens, além de pagar policiais para trabalhar fora do turno, tudo para encontrar o pai do craque.
A informação sobre o cativeiro veio através de uma denúncia anônima para a Polícia. O Jornal do Brasil noticiou que policiais do 24ª batalhão patrulhavam pelo Conjunto Boa Esperança, quando foram abordados por um morador que denunciou o cativeiro. No domingo, 8 de março de 1994, a polícia estourou o cativeiro e resgatou Edevair e prendendo duas mulheres responsáveis por vigiar o refém. Com o comerciante libertado, o atacante foi campeão espanhol pelo Barcelona e brilhou na conquista da Copa do Mundo.
A ajuda dos traficantes foi fundamental para que o pai de Romário fosse resgatado do cativeiro. Não é exagero, foi o próprio baixinho que comentou sobre o assunto em entrevista à jornalistas. “Não só acho como tenho certeza” , respondeu Romário à pergunta sobre se achava que os traficantes teriam dado apoio. Ele disse ter recorrido aos traficantes “em momento de sofrimento e dor tem que se apelar para tudo”. “Quem não estiver de acordo que me desculpe, mas acho que estas pessoas (os traficantes) ajudaram também para um desfecho positivo”.
Orlando Jogador não viu a seleção
Apesar da mobilização pela participação do baixinho na Copa do Mundo, Orlando Jogador não chegou a assistir o tetra do Brasil. Em 13 de julho de 1994, ele foi assassinado por um rival, o líder criminoso chamado Uê, que mais tarde seria o maior opositor ao CV.
A motivação do crime seria uma vingança por um tiro que Orlando Jogador deu em seu irmão que o deixou paraplégico. A emboscada, armada pelo então líder Morro do Adeus, que pertencia ao Terceiro Comando, os homens de Uê procuraram Orlando Jogador e disseram que seu chefe tinha sido sequestrado por policiais do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE), que exigia US$ 60 mil.
Orlando reuniu o dinheiro, alguns comparsas e foram para o local, mas lá encontraram uma emboscada. Uê estava com o dobro de homens, todos fortemente armados. Quando ele entregou o dinheiro, os homens de Uê atiraram e mataram Orlando e seus comparsas.
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