Humorista foi, mais uma vez, alvo de ataques nas redes sociais. Até quando aceitaremos o terrorismo como “liberdade de expressão”?

Gregório Duvivier | Foto: Facebook
Humorista Gregório Duvivier | Foto: reprodução / Facebook

O humorista Gregório Duvivier completa 30 anos nesta segunda-feira (11/4). A página do coletivo Porta dos Fundos, grupo do qual faz parte, postou um gif em comemoração ao aniversário do carioca. Bastou alguns minutos  para que alguns usuários transformassem a homenagem em baixaria.

Costumaz defensor do governo da presidente Dilma Rousseff (PT) , Duvivier — que também é (brilhante) articulista — virou uma espécie de algoz pessoal dos revoltadinhos das redes sociais. Sofre, diariamente, as mais diversas acusações, xingamentos e ofensas porque, como qualquer cidadão, tem o direito de expressar seus posicionamentos.

Deixo claro que não comungo com as ideias e preferências políticas da pessoa Gregório Duvivier, digo que estamos em dois lados opostos, inclusive. Contudo, isso não me dá o direito de sair por aí vociferando acusações infundadas e maliciosas. Muito menos ir ao seu local de trabalho, por assim dizer, e tentar intimidá-lo.

Nesse clima de FlaFlu, achando que o Brasil virou um verdadeiro estádio de futebol, onde aceita-se qualquer tipo de palavrão para expressar sua insatisfação, o brasileiro passou a usar as redes sociais para reproduzir o ódio. Duvivier é vítima dessa paixão ridícula e infantil que tomou uma parcela da sociedade.

Antes que alguém possa questionar: “É liberdade de expressão!”. Não. Não é. Nunca foi. E nunca será.

Quando era aluno do Colégio Militar do Estado de Goiás, onde estudei minha vida toda e ao qual sou muito grato, escutava sempre: “Não confunda liberdade com libertinagem”. A liberdade permite que todos possamos agir sem amarras, de forma que não sejamos submissos a outrem. A libertinagem é, justamente, o abuso desse direito, sem se preocupar se a liberdade do outro está sendo  violada.

O que essas pessoas fizeram hoje na página de Porta dos Fundos é a mais pura expressão da libertinagem. Chamá-lo de “ladrão”, “vendido”, “corrupto” e toda sorte de insultos não acrescenta em nada ao debate político. Sem contar que é, entrando no campo de juízo de valores, uma tremenda falta de respeito.

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Duvivier, até que se prove o contrário (o que não aconteceu até hoje, não é mesmo?), é um homem honesto. Profissional talentoso e competente. Todos os textos são embasados teoricamente, coerentes e expressam sua visão do Brasil. E do mundo. Evidentemente, não agradam a uma parcela da sociedade que não aceita, de jeito nenhum, que nem tudo que os governos do PT fez foi corrupção. Só que, repito, isso não é passaporte para a agressão.

Há uma insatisfação geral com a atual situação econômica do País. Ninguém está feliz por estarmos em recessão, por haver menos ofertas de emprego e por centenas de brasileiros estarem voltando à pobreza extrema. Aliás, existe, sim, um grupo de extremistas que comemoram cada vez que um jornal estampa a variação da inflação ou o número de desempregados. Só que não é Duvivier que faz parte desse grupo.

Esse grupo, que quer ver o País afundar em desgraça (essa é a verdade), torce contra o governo dia e noite, ao ponto de sugerir que deve haver uma “guerra civil” ou mesmo o assassinato da presidente da República. Inclusive, na página do Porta dos Fundos, encontrei alguns seres pensantes (?) desejando que a existência de Duvivier seja encurtada.

Isso não é liberdade de expressão.

Não gostou do vídeo de Portas do Fundo sobre a Polícia Federal? Não assista, não compartilhe, marque “não curti” no Youtube. Agora, criar campanha para “tirar o vídeo do ar”? Atacar o trabalho de um coletivo de humor? Sugerir financiamento público? Francamente, isso é ridículo.

Tão ridículo quanto receber um parlamentar, eleito por sufrágio universal, no aeroporto com xingamentos, ofensas e ataques gratuitos. A senadora Gleisi Hoffmann, do PT do Paraná, foi humilhada por um desses grupos políticos — porque é isso que são: grupos políticos — quando chegava em sua terra natal na semana passada. Isso é liberdade de expressão? Não! Isso é terrorismo.

Não menos terroristas são os comentários que (assustadoramente) recebem milhares de curtidas na página de Porta dos Fundos. Uma tentativa de intimidar o humorista, desqualificá-lo como profissional e, mais grave, desmerecê-lo como cidadão.

Vale destacar que é direito protestar, ir às ruas contra o que não se acha correto e expressar sua insatisfação. Há momentos que precisamos extravasar, gritar e nos revoltar. A revolta é importante. Demonstra o desejo de mudança, expressa a vida e o inconformismo. Quem se contenta com a mediocridade, medíocre será.

Mas, não é possível lutar por mais direitos desrespeitando o direito do outro. Não é possível conquistar mais, cerceando o outro. Não é possível avançar, rebaixando o outro. É preciso respeito, tolerância e compreensão.

Não é na porrada, no cacete, que vamos conseguir que nossa voz seja ouvida. Aliás, a porrada e o cacete, na história recente do Brasil, só serviram para abafar a voz do povo…

Feliz aniversário, Gregório Duvivier! Keep on keeping on!

Alexandre Parrode é jornalista e editor da versão online do Jornal Opção