O 7 de Setembro marcará de que lado cada um estava enquanto as coisas aconteciam. Infelizmente, pedaços de nós ficam no caminho ao ver quem admiramos nos chocar

Junto com Zico, o Galinho de Quintino, e Luvanor, meus super-heróis do futebol na infância, Nelson Piquet foi um dos meus ídolo de moleque na Fórmula 1 – o outro era o canadense Gilles Villeneuve.

Nunca precisei ser Flamengo para admirar Zico. Nem me tornei esmeraldino por causa do Luvanor. Da mesma forma, não me senti menos patriota por gostar do canadense Gilles – que morreria em um acidente nos treinos para o GP da Bélgica de 1982.

Aliás, “patriota” é a palavra do dia, apropriada que foi pela extrema-direita do País, em apoio insano a um presidente que chega a mil dias de mandato sem nunca de fato ter governado. E é do presidente e de Piquet que vamos falar aqui.

O patriotismo que temos é apenas midiático e imagético, nada mais. Jair Bolsonaro (sem partido, ainda) quer imagens para rodar o mundo, para massificar em sua bolha extremista a ideia de que é realmente um messias.

E dentro das imagens deste 7 de Setembro vai ficar marcada uma: a do chofer de Bolsonaro.

Com Bolsonaro ao lado, Nelson Piquet dirige o Rolls-Royce presidencial rumo à manifestação golpista | Foto: Reprodução

Ninguém menos do que o tricampeão mundial de Fórmula 1, Nelson Piquet, de 69 anos, era quem dirigia o Rolls-Royce presidencial no trajeto até a manifestação golpista.

Não foi a primeira vez que o piloto mostrou sua veia bolsonarista. Ao contrário, ele já acompanhou o presidente em vários eventos Brasil afora.

O que intriga é isso diante de sua história pessoal: Piquet é filho de Estácio Gonçalves Souto Maior, que foi deputado federal em vários mandatos e chegou a ser ministro da Saúde de João Goulart, o presidente que seria deposto pelo golpe de 64.

Mais: em 1968, Estácio foi cassado pelo Ato Institucional nº 5, o AI-5, o instrumento que consolidou a ditadura e os anos de chumbo no Brasil.

Como disse o colunista de O Globo Ancelmo Gois, caráter nem sempre é hereditário.

Apesar da urgência de nossos tempos, a história não se faz de um dia para outro. Daqui a algumas décadas, as fotografias tiradas neste feriado da Independência do Brasil de 2021 vão mostrar quem estava com quem.

Eu não preciso de tanto tempo para reduzir a admiração que tive de Nelson Piquet apenas ao que ele fazia dentro do carro de corrida. Fora dele, consolidou-se como um golpista da linha de frente do bolsonarismo, o movimento mais daninho da história brasileira.

Fico feliz, por enquanto, em não saber os posicionamentos de Zico e Luvanor sobre o quadro que se criou no Brasil. É coisa boba, pessoal, literalmente infantil de minha parte, mas tenho medo de mais decepções.