Editor de texto, o “Marquinhos”, como era conhecido, escreveu crônicas interpretadas por Jordevá Rosa no Jornal do Meio Dia

Jornalista e cronista, Marco Di Mesquita era uma apaixonado pela notícia | Foto: Reprodução/Facebook

A morte do jornalista e escritor Marco Di Mesquita, de 68 anos, no início da noite de sexta-feira (20/4), em Goiânia, empobreceu o jornalismo goiano. Editor de texto da TV Serra Dourada por mais de 20 anos, ele se afastou do trabalho há 20 dias quando diagnosticado com pneumonia. Há cinco descobriu um câncer no pulmão. Velado na Paz Universal, Di Mesquita será enterrado às 12 horas no cemitério Jardim das Palmeiras.

Com mais de três décadas dedicadas à carreira, Di Mesquita começou no jornalismo na extinta TV Goiá, hoje Record TV, passou pela TV Anhanguera, mas se consolidando mesmo na TV Serra Dourada. Ele trabalhou com ícones do telejornalismo goiano, como Luiz Carlos Bordoni, Rachel Azeredo, Afonso Lopes e Paulo Beringhs. Seu maior orgulho, contudo, foi a legião de repórteres que passaram por sua exigente supervisão, podendo contribuir com o crescimento profissional de cada um, notadamente reconhecido.

Perspicaz, era um apaixonado pela notícia. Rigoroso, não deixava passar erros que deixassem o telespectador em dúvida. Sensível, recolhia das ruas, das estradas, das filas, a importância do cotidiano que não poderia ficar de fora das reportagens que editava.

“Era muito exigente”, lembra a colega de emissora, Rozaine Ferraz. “Eu me sentia muito honrada de trabalhar com ele, um cara que confiava no meu texto. Um jornalista experiente, um escritor. Sempre que me encontrava me abraçava. Estou muito triste”, lamenta ao Jornal Opção.

“O Marquinhos – como era conhecido – tinha um mau-humor que todo mundo adorava”, lembra Jordevá Rosa, diretor de Jornalismo da TV Serra Dourada. Durante dois anos e meio, Jordevá interpretou crônicas do Di Mesquita às sexta-feiras no Jornal do Meio Dia, com temas de relevância social. O quadro era um sucesso.  

Os textos escritos no calor da emoção dos fatos cotidianos de Goiás, foram reunidos em uma coletânea publicada no livro “Re-tratos: Crônicas do Cotidiano”, editado pela Kelps, que ganhou duas edições.

Os textos permeavam as conquistas e as desgraças humanas, dos animais e de objetos inanimados – Di Mesquita não tinha pudor e usava e abusava de figuras de linguagem. “O texto dele é fabuloso. Mesmo depois de gravá-los para o quadro semanal, que ganhavam imagens, eu fazia questão de assistir. E me arrepiava sempre”, lembra Jordevá.

Uma escola

“Marquinhos era um dos mais experientes editores de texto”, comenta Almir Costa. “Os temas de suas crônicas iam da econômica, política, religiosa e abordava de maneira única suas implicações na vida e no cotidiano local e nacional”.

Quando ainda era estagiário da TV Serra Dourada, em 2007, o repórter da Record TV Goiás, Paulo Henrique dos Santos, aproveitou o quanto pode a experiência do jornalista, seu instrutor. “Tive muito contato com ele. Se hoje eu sei alguma coisa de telejornalismo eu devo muito a ele”, reconhece.

“O Marquinho não era a pessoa mais fácil do mundo. Mas tinha uma genialidade na escrita e uma generosidade fora do normal.  Não poderia ter uma escola melhor”, assume Paulo Henrique.

A repórter da TV Anhanguera, Terciane Fernandes, trabalhou com Di Mesquita. “Marquinhos sempre foi um ótimo profissional, observador, detalhista, extremamente criterioso. Comigo sempre muito atencioso, dedicado, um professor!”, destaca. Para ela, a classe jornalística perde um apaixonado pela notícia, pelo jornalismo. “Eu perco um amigo admirável.”

Atualmente editor chefe do noturno Jornal Serra Dourada, Marco Di Mesquita não era casado, mas deixa um filho adotivo e uma irmã deficiente visual, de quem cuidou até o dia em que foi internado com dificuldades para respirar. Mas não deixa órfãos os que admiravam seu texto afiado, puro, indispensável, como o intitulado “Saudade”, em seu “Re-tratos”:

Saudade…

Palavra que resume milhares de lembranças…

Momentos que, em forma de quebra-cabeça, vão formando imagens e sentimentos passados, já inexistentes, mas que insistem em permanecer na mente.

De repente, quase de forma imperceptível, a saudade transforma instantes vividos em dor.

E como dói lembrar e saber que só restou a lembrança!

Lembrança do passado que nunca mais vai voltar…

Até parece que saudade é a sensação de querer de volta o que se foi momentos que ficaram para trás.

Venturas e desventuras de uma caminhada que deixou apenas rastros de conquistas e perdas.

Mas saudade não é apenas sinônimo de tristeza.

A saudade pode ser suave como a brisa que bate nas folhas das árvores e agita sorridente a pétala das flores.

Pensamentos eternizados de momentos felizes…

Boas recordações…

Mas, a saudade também pode ser avassaladora como tempestade de verão, destruindo e varrendo o chão com fúria e sem compaixão…

a intensidade e a dosagem do sentimento são as marcas do passado que ainda insiste em ser presente…

E certamente a saudade mais doída é a de quem se foi para sempre, ficando apenas restos de sorrisos em nossas mentes…

Entes-queridos que deixaram esse mundo e partiram, levando parte de nossas existências, antes compartilhadas, e depois separadas sem que qualquer explicação ou justificativa preencha o vazio deixado…