Nas capitais da região Centro-Oeste do Brasil, sete entre dez crianças registraram a vacinação completa aos 12 meses. Aos 24 meses, somente cinco entre dez realizaram as vacinas recomendadas, como BCG, tríplice viral e hepatite B. É o que revela artigo publicado na “Revista Epidemiologia e Serviços de Saúde”. O estudo foi conduzido por pesquisadores de instituições como as universidades federais de Mato Grosso (UFMT), de Goiás (UFG) e de Mato Grosso do Sul (UFMS) e a Universidade de Brasília (UnB).

Em Goiânia, 47,2% das crianças até dois anos estão completamente vacinadas. Campo Grande registrou o menor índice: aos dois anos, apenas 39,9% das crianças estão totalmente imunizadas. Na capital do Mato Grosso, Cuiabá, 46,2% das crianças estão totalmente vacinadas. Brasília tem a melhor cobertura neste grupo: 54,5%. Os resultados mostraram que nenhuma capital do Centro-Oeste atingiu a meta preconizada pelo Programa Nacional de Imunizações.

Os pesquisadores analisaram entre setembro de 2020 e março de 2022 a cobertura vacinal de 5.715 crianças nascidas em 2017 e 2018, abrangendo as capitais Campo Grande, Cuiabá, Goiânia e Brasília. Os dados foram coletados por meio de questionários e das cadernetas de vacinação. As variáveis examinadas também incluíram fatores socioeconômicos, como renda e escolaridade do chefe da família.

O artigo destaca que, conforme aumenta a renda familiar, a cobertura vacinal das crianças diminui. A exceção é Cuiabá, que teve a melhor cobertura vacinal entre crianças do estrato social mais alto, marcado por características como melhores níveis de escolaridade do chefe de família e renda familiar superior a 8 mil reais. Na capital de Mato Grosso, a cobertura vacinal entre as crianças desse grupo foi de 55%, ante apenas 28% em Brasília e 25% em Campo Grande, por exemplo. “Isso demonstra que a região Centro-Oeste tem especificidades que necessitam de ações direcionadas”, diz Jaqueline Costa Lima, professora da Faculdade de Enfermagem da UFMT e líder do artigo.

A pesquisadora acredita que a análise de classes sociais abre novas discussões sobre vacinação e acesso à informação. Segundo a cientista, os mais ricos vacinam ou deixam de vacinar seus filhos por hesitação ou por recomendação equivocadas de profissionais de saúde, enquanto os mais pobres deixam de imunizar os filhos por falta de acesso aos serviços de saúde e por desconhecimento. A baixa adesão, em todas as faixas etárias, pode levar ao ressurgimento de doenças eliminadas ou controladas, como o sarampo, e ao retrocesso em conquistas sanitárias alcançadas ao longo das últimas décadas, alerta Lima.

Para os pesquisadores, os resultados podem subsidiar políticas públicas que considerem os estratos sociais e as vacinas com menor cobertura, principalmente até os 24 meses de vida. “O estudo avança no sentido de explorar as características do Centro-Oeste, pois temos bons indicadores sociais e econômicos, mas isso não se traduz necessariamente em melhores condições de saúde e altas coberturas vacinais para a população”, afirma Lima. No momento, a pesquisadora estuda a cobertura vacinal de adolescentes e a aceitação e confiança deles em vacinas, com previsão para coleta de dados em 2025.
Fonte: Agência Bori