Máscaras cirúrgicas, de pano ou N95? Saiba qual usar para garantir melhor proteção contra a Covid-19
28 março 2021 às 18h12
COMPARTILHAR
“A N95 é a melhor, mas grau de proteção das outras é maior que não utilizar nenhum, cabe a pessoa avaliar o grau de proteção que ela quer adotar”, esclarece o secretário de Estado de Saúde de Goiás, Ismael Alexandrino
Desde o início da Covid-19 no Brasil, em março de 2020, medidas de biossegurança precisaram ser adotadas para reforço de seu combate. Além de suspender atividades consideradas não essenciais em determinados momentos e estabelecer o distanciamento social e a higienização constante, tais protocolos promoveram mudanças cruciais nos hábitos da população, que desde então, ao sair de casa, passaram a portar máscaras de proteção facial a qualquer lugar que vão.
Com isso, diferentes tipos de máscara foram inseridos no cotidiano populacional e as dúvidas, então, começaram a surgir. Da máscara cirúrgica descartável, até as máscaras de pano vendidas em diferentes estampas a cada esquina e as famosas N95, quais realmente protegem e colaboram para a redução da transmissão do novo coronavírus?
Para entender sobre os tipos de máscara, uma contextualização sobre a transmissibilidade da Covid-19 se faz necessária. Segundo a professora do curso de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás, que é especialista em doenças infecto contagiosas, Michele Oliveira, o primeiro modo de transmissão do novo coronavírus a ser comprovado, foi o por meio de gotículas, partículas pesadas acima de cinco micros.
“Essas gotículas mais pesadas não ficam no ar por muito tempo, tendem a cair no solo ou ficarem em superfícies próximas. Assim, uma vez que a pessoa contaminada respira, espirra, tosse, canta ou até fala próximo a outra pessoa que não esteja infectada, esta estará suscetível a inalar essas gotículas e se contaminar”, detalha Michele. Entretanto, acrescenta a existência de estudos que comprovam a necessidade de se pensar na precaução da contaminação através do ar, uma vez descobertas partículas inferiores a cinco micros que sejam capazes de ficar suspensas no ar e, consequentemente, permaneça lá por várias horas após ser expelido.
Para o médico infectologista, Marcelo Daher, a resposta quanto a importância da utilização é óbvia. “Estamos falando de uma doença de transmissão respiratória. Assim, é necessário utilizar mecanismos que barrem essa transmissão. Máscaras adequadas é o que fazem a diferença”, diz. Heloína Claret, que também é médica infectologista, complementa que, para profissionais desse segmento, mesmo antes da pandemia já se sabia sobre a funcionalidade das máscaras para barrar a transmissibilidade de doenças infecto contagiosas. “Com a pandemia, percebemos o grau de importância desse uso”, acrescenta.
Heloína chama atenção, entretanto, para o uso de máscaras adequadas. Com tantas opções, é fácil se ver tentado a escolher o material devido a sua beleza, e não quanto a usabilidade. “A N95 é a ideal, mas não são a realidade de todo mundo. A própria máscara cirúrgica de três camadas que se compra em farmácia é muito boa, desde que usada adequadamente”, opina. Para Heloína, a melhor forma de se usar a máscara cirúrgica, para garantir sua efetividade, é a fechando em cima do nariz com o arame interno, e nas lateais, com amarração específica que ateste sua vedação. “A N95, principalmente com essa nova variante de maior transmissibilidade, em que é preciso menor quantidade de vírus para causar a infecção, é muito importante. Isso, porque quanto maior a capacidade de filtração, melhor do ar, melhor”, complementa Marcelo.
E quem não tem acesso à N95?
O secretário de Estado de Saúde de Goiás, Ismael Alexandrino, concorda quanto a melhor eficácia das máscaras de material mais reforçado, mas não descarta o uso dos outros tipos de proteção. “Com certeza a N95 garante maior proteção, tanto em relação a saída do vírus pela saliva e via aerossol, quanto em relação a entrada, quando comparada aos demais tipos de máscara. Entretanto, seu uso não é obrigatório. Uma máscara descartável de tripla camada ou uma de pano mesmo, com a devida higienização, confere uma boa segurança que certamente evita a disseminação”, detalha.
Ismael dá seu depoimento e sua seu exemplo como usuário das máscaras de pano. “Particularmente eu uso as máscaras de pano, não descartáveis, faço a higienização adequada, e felizmente, até hoje, não me contaminei. Sei que pode acontecer de algum momento existir essa infecção, mas procuro sempre utilizar a máscara, sobretudo em locais com mais de uma pessoa”, conta Ismael. Para o secretário, apesar de o percentual de proteção das máscaras mais simples serem menor que o da N95, seu uso compensa. “Seu grau de proteção é maior que não utilizar nenhuma máscara, cabe a pessoa avaliar o grau de proteção que ela quer adotar”, esclarece.
Para garantir a segurança dessas alternativas, Heloína dá dicas de como reforçar a proteção das máscaras cirúrgica e de pano. “Se você vai usar uma máscara de pano, é preciso que se use uma com tecido bem fechado, com pelo menos duas ou três camadas, ou até que utilize duas máscaras. A máscara cirúrgica que se compra em farmácia, e é mais simples, pode ser utilizada com outra de pano por cima. Seria muito bom se todo mundo pudesse usar uma máscara N95 para andar de ônibus, por exemplo, mas se a pessoa usa pelo menos usa duas máscaras boas quando está em ambiente fechado, já resolve. E claro, se deve procurar manter o distanciamento, mas sei que em algumas situações isso é impossível”, recomenda.
A médica infectologista ainda chama atenção para o uso de máscaras com o material adequado. “Tem algumas máscaras que são péssimas. Tem pessoas que usam máscaras de malha bem aberta, que não vão funcionar nunca. Têm outras bem bonitinhas que vejo que não funcionam. Elas podem até ser utilizadas por cima de uma cirúrgica de três camadas, por exemplo, para quem preze pela beleza, mas sozinhas não resolvem”, reforça Heloína.
Atenção para o uso adequado
Além da importância de se utilizar uma máscara produzida com material adequado, a médica infectologista, Heloína Claret, chama atenção para o uso correto dos itens de proteção, com nariz e boca completamente cobertos, da forma mais fechada possível.
“Existe a crença que circula por aí de que as máscaras não funcionam, que fazem mal a saúde por fazerem a pessoa respirar o CO2 que é liberado pelo corpo, mas isso é bobagem, não tem o menor fundamento. Essas são as pessoas que não acreditam na máscara, mas também tem as pessoas que não se adequam, como idosos que não conseguem se adaptar. Então quando essas pessoas saem de casa e precisam usar a máscara, item que se tornou obrigatório, a pessoa faz de conta que está usando e isso é péssimo, porque a máscara não é somente para a proteção de quem a usa, é para proteger o outro também”, explica.
O secretário de Estado de Saúde de Goiás, Ismael Alexandrino, exemplifica a situação. “Utilizar qualquer objeto de proteção de forma inadequada, é como se não estivesse usando. A pessoa vai estar se auto enganando. As nossas peças de proteção corporal são usadas em seus lugares determinados. A cueca e a calcinha se utilizam para proteger a genitália, o sutiã, no caso das mulheres, também. Ninguém utiliza o sutiã na barriga ou em outro local. A máscara, portanto, é para proteger o nariz e a boca, então é desta forma que se recomenda a utilização”, afirma.
As máscaras vieram para ficar?
Heloína Claret acredita que, com os conhecimentos difundidos em razão da pandemia, e o esclarecimento quanto aos benefícios da máscara, o objeto deve perdurar após o fim da crise sanitária. Para ela, a justificativa para a continuidade do uso do objeto é a clareza estabelecida de que outras doenças respiratórias e vírus novos podem surgir.
“Acredito que o uso posterior à pandemia não será no mesmo nível de agora, mas em muitas situações as máscaras serão, sim, utilizadas, até porque sabemos que esse vírus irá ficar, assim como outros vírus ficaram, mesmo que em baixas proporções. Com casos reduzidos e vacinas mais aprimoradas. Mas eu, por exemplo, passarei a utilizar máscara para viajar de avião, que é um ambiente fechado e com aglomeração, mesmo após a pandemia. Algumas situações, pra mim, o uso é primordial”, conclui.