Cada eleição conta sua própria história. É a regra. Mas vale examinar pesquisas e resultados eleitorais, não exatamente com o objetivo de observar uma regra, mas de sugerir possibilidades, até perceber certas continuidades nos processos políticos de uma cidade.

Na disputa para prefeito de Anápolis, em 2020 — há quase quatro anos —, o deputado estadual Antônio Gomide, do PT, apareceu, numa pesquisa, com 41,9% das intenções de voto. O segundo colocado, Roberto Naves, então no pP, estava bem atrás — com 17%.

Provando que é a campanha que fabrica o resultado “verdadeiro”, dado o choque dos contraditórios — os eleitores esperam isto —, o resultado nas urnas foi bem diferente. Ressalva: as pesquisas não estavam erradas; pelo contrário, estamos certas. Mas o embate de ideias e as performances dos candidatos, digamos assim, mudaram o quadro.

Ao término do primeiro turno, Roberto Naves apareceu em primeiro lutar, com 46,64% — 82.139 votos. Antônio Gomide, o favorito nas pesquisas, caiu para o segundo lugar, com 28,87% — 50.843 votos.

Na disputa do segundo turno, Roberto Naves obteve 61,28% — 101.349 votos. E foi reeleito prefeito de Anápolis. Antônio Gomide conquistou 38,72% — 64.046 votos.

Roberto Naves ficou com 14,64 pontos a mais do que no primeiro turno e Antônio Gomide subiu 9,85 pontos. Em termos de votos, o prefeito conquistou mais 19.210 votos e o deputado recebeu 13.203 votos a mais.

O que os dados significam? Primeiro, que a direita e a centro-direita, que optaram por Roberto Naves, foram decisivas no pleito de 2020. Segundo, o eleitorado conservador só definiu o voto quando ficou patenteado quais eram os candidatos mais competitivos, ou seja, quando o quadro polarizou. Terceiro, ficou evidente que a direita e a centro-direita se agregam em Anápolis e que a esquerda, ao menos em 2020, não atraiu voto, digamos, “novo”.

Quadro de 2024: Gomide X Corrêa

A história de 2020 manda um recado para a história — que ainda é processo — para 2024? Sim, o passado contamina o presente. Mas é preciso frisar que cada eleição tem sua própria história.

De acordo com levantamento do instituto Opção Pesquisas, feito entre 15 e 17 de fevereiro, com 600 eleitores, o deputado Antônio Gomide é o primeiro colocado, com 45,8% — seguido de Márcio Corrêa, do MDB, que tem 17,7%. Convida-se o leitor a conferir o segundo parágrafo, aquele que mostra que, em 2020, o petista tinha 41,9% e Roberto Naves aparecia com 17%. Ou seja, um quadro praticamente idêntico ao atual.

Posto isto, é preciso admitir que, no momento, Antônio Gomide é forte, até fortíssimo. Mas é preciso acrescentar a história político-eleitoral de Anápolis, município que é pródigo em viradas inesperadas, como aconteceu em 2016 e 2020, quando Roberto Naves impôs duas derrotas — uma delas, contra Antônio Gomide, acachapante — em postulantes do PT.

A pesquisa, com resultado absolutamente verdadeiro, é o registro do momento, ou seja, sem campanha. A rigor, há, neste momento, apenas um candidato colocado — Antônio Gomide, por sinal um político respeitado na Suzhou goiana. Os demais estão se colocando. Por isso ainda não há um clima de polarização. Não se pode falar, ainda, em batalha da direita contra a esquerda.

Está se dizendo que o candidato a direita vai crescer, podendo superar Antônio Gomide? A tendência é que o postulante da direita e da centro-direita cresça — com a possibilidade de polarização. Porém, não se está sugerindo que o petista vai, necessariamente, perder. Porque, sem campanha e embate, não se pode dizer isto. Ainda mais considerando que, na circunstância, está muito bem avaliado pela pesquisa do instituto Opção (que pertence ao Jornal Opção).

O fato de Márcio Corrêa ter descolado dos demais candidatos da direita, como Márcio Cândido e Major Vitor Hugo, indica que os eleitores estão percebendo-o como o possível rival para Antônio Gomide. Tende a crescer? Sim. E, se crescer, criando expectativa de poder, pode virar o jogo, como Roberto Naves, em 2020. É uma hipótese.

O marketing vitorioso — seja o de Márcio Corrêa ou de outro postulante — será aquele que criar a expectativa de que, no momento adequado, se poderá derrotar Antônio Gomide. Se o petista persistir na faixa de 40%, com o principal adversário crescendo aos poucos, na medida que for se tornando conhecido dos eleitores, cria-se uma nova expectativa de poder. Uma virada às vezes com crescimentos paulatinos, e não obrigatoriamente rápidos.

Rejeição de Antônio Gomide é empecilho

A pesquisa do instituto Opção indica que Antônio Gomide é o mais rejeitado — 22,8%. De fato, não é muito alta. Porém, é possível sugerir que, se ainda não há campanha, a rejeição acaba por ser relativamente alta. Porque, durante a disputa, tende a subir, sobretudo porque Anápolis é uma cidade vista como conservadora. O petista tenta, de alguma maneira, dissociar-se da imagem radical do PT — e realmente ele não é radical; é moderado — e aproximar-se do centro político. Sua salvação eleitoral pode sair daí, ou seja, de ser assimilado pelo centro. Se não tem a direita, e se perder o centro para Márcio Corrêa, ou outro candidato, aí poderá dizer, mais uma vez, adeus à prefeitura.

Dos quatro nomes colocados (Antônio Gomide, Márcio Corrêa, Márcio Cândido e Major Vitor Hugo), Márcio Corrêa é o menos rejeitado, com 7,2%. O dado é positivo, claro. Porém, é preciso acrescentar que ainda não há campanha para “fixar” ou não a rejeição. O importante, para o líder do MDB, é que se descolou dos demais e se firmou como segundo colocado — o que pode ser um sinal de que os eleitores começam a considerá-lo como o principal adversário de Antônio Gomide.

Há um detalhe que, neste momento, nenhuma pesquisa pode apurar: a questão dos apoios. Márcio Corrêa — ou outro candidato da base governista — se tornará mais forte, política e eleitoralmente, com a definição dos apoios. Se obtiver o apoio do governador Ronaldo Caiado (já tem o apoio do vice-governador Daniel Vilela, do MDB) e do bolsonarismo (leia-se Jair Bolsonaro, senador Wilder Morais, deputado federal Gustavo Gayer e ex-deputado federal Major Vitor Hugo), além dos grupos religiosos evangélicos e católicos, o postulante do MDB poderá superar o do PT? Talvez. Sublinhe-se que, provavelmente por estar examinando os quadros de 2016 e 2020, Antônio Gomide está tentando se reaproximar dos nichos evangélicos e católicos da Manchester goiana.

Em suma, o quadro eleitoral — que, a rigor, é pré-eleitoral — ainda não está definido. Está aberto. Mas Antônio Gomide, apurou o instituto Opção, é um candidato estruturado, consistente. Mas a história política de Anápolis, sobretudo se o petista apostar apenas no eleitorado de esquerda, não lhe é favorável. (E.F.B.)

Confira reportagem sobre a pesquisa do instituto Opção