Lula exige justiça, Bolsonaro fala em perseguição; veja reações à prisão de Braga Netto
15 dezembro 2024 às 14h45
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No último sábado, 14, a Polícia Federal prendeu o ex-ministro da Defesa, general Walter Souza Braga Netto, no Rio de Janeiro. A prisão preventiva foi decretada no âmbito de um inquérito que investiga uma possível tentativa de golpe de Estado e obstrução das investigações sobre a tentativa de manutenção do ex-presidente Jair Bolsonaro no poder após as eleições de 2022. O caso gerou diferentes posicionamentos, principalmente entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-presidente Bolsonaro.
Em entrevista coletiva realizada no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, onde estava internado, Lula se pronunciou sobre a prisão de Braga Netto. O presidente reconheceu que o ex-ministro tem o direito à “presunção de inocência”, mas afirmou que, caso as acusações contra ele se provem verdadeiras, ele deverá ser responsabilizado pelos atos cometidos.
Lula enfatizou que a tentativa de subversão da ordem democrática e a trama de assassinato de autoridades, incluindo ele mesmo, são inaceitáveis. “Se esses caras fizeram o que tentaram fazer, eles terão que ser punidos severamente”, afirmou Lula, defendendo que a lei deve ser aplicada de maneira justa, mas que não se pode permitir o desrespeito à democracia.
A prisão de Braga Netto é resultado das investigações que apuram a articulação de figuras do governo de Bolsonaro para contestar os resultados das eleições de 2022 e impedir a posse de Lula. Além disso, as investigações indicam que o ex-ministro teria tentado interferir nas apurações, obtendo informações sigilosas sobre delações e tentando controlar os depoimentos, em especial os de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
A prisão foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), após a Polícia Federal identificar que Braga Netto tentou obstruir as investigações.
Em contraste com a postura de Lula, o ex-presidente Bolsonaro se manifestou contra a prisão de Braga Netto. Em suas redes sociais, Bolsonaro questionou a legalidade da medida, argumentando que a investigação já estava concluída e, portanto, não seria possível haver obstrução por parte de Braga Netto.
O ex-presidente sugeriu que a prisão teria uma motivação política, e não jurídica, para prejudicar seus aliados. Segundo Bolsonaro, a prisão de Braga Netto não teria base legal, pois ele acredita que as investigações já haviam sido encerradas.
A defesa de Braga Netto, por sua vez, argumenta que a prisão é injusta e desproporcional. Segundo seus advogados, as acusações de obstrução das investigações não foram devidamente comprovadas e a prisão preventiva não seria necessária, uma vez que ele não teria impedido a investigação de qualquer maneira. A defesa ainda destacou que o ex-ministro atuou dentro dos limites de sua função e não cometeu ilegalidades.
O caso de Braga Netto ocorre em um momento de polarização política no Brasil, com o governo de Lula e os aliados de Bolsonaro se enfrentando em uma disputa política e jurídica acirrada. Para o governo de Lula, a prisão é parte de um esforço legítimo para preservar a democracia e garantir que aqueles que tentaram desestabilizar o processo eleitoral sejam responsabilizados. Já para os aliados de Bolsonaro, a prisão de Braga Netto é mais um capítulo de um suposto ataque político aos membros do governo anterior.
A prisão de Braga Netto também traz à tona questões sobre a atuação das forças armadas no cenário político brasileiro, principalmente em relação ao episódio de tentativa de golpe após as eleições. Embora a prisão tenha gerado controvérsia, ela reflete uma investigação mais ampla sobre os eventos de 2022, e o futuro do ex-ministro dependerá dos desdobramentos da apuração das acusações. A decisão do STF de manter a prisão preventiva indica que a investigação está sendo tratada com seriedade pelas autoridades judiciais.
Apesar das diferentes interpretações sobre a prisão de Braga Netto, o episódio evidencia a complexidade do cenário político brasileiro, em que os limites entre a atuação política e a jurídica continuam sendo debatidos. A prisão de um alto oficial das forças armadas, aliado de Bolsonaro, traz à tona discussões sobre o papel do exército e sobre a relação entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.
O caso também ilustra as tensões entre a necessidade de garantir a estabilidade democrática e a busca por responsabilização de possíveis crimes cometidos por figuras de alto escalão. Enquanto o governo de Lula defende que a prisão é uma resposta à tentativa de subversão da ordem democrática, os aliados de Bolsonaro argumentam que a medida é parte de uma estratégia de perseguição política.
O desenrolar das investigações pode revelar mais informações sobre o envolvimento de outros membros do governo de Bolsonaro na tentativa de golpe e nos esforços para obstruir as investigações. A prisão de Braga Netto é apenas uma das peças desse quebra-cabeça, que ainda está em andamento. A continuidade das apurações pode trazer mais desdobramentos políticos e judiciais nas próximas semanas, com impacto sobre a estabilidade política do país.
A prisão de Braga Netto reflete a disputa política em curso no Brasil, com posições divergentes sobre a legalidade e a motivação da medida. Para o governo de Lula, trata-se de uma ação necessária para preservar a democracia, enquanto os aliados de Bolsonaro a consideram uma perseguição política. A investigação continua e novos desenvolvimentos são esperados.
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