O uso crescente de medicamentos para emagrecimento, como o famoso Ozempic, tem gerado preocupação entre cientistas devido ao impacto na perda de massa muscular. Embora essas drogas, que pertencem à classe dos agonistas do GLP-1, tenham se mostrado eficazes na redução do peso corporal, especialistas alertam para os riscos de perda de músculos e a necessidade de acompanhamento nutricional e médico para minimizar esse efeito.

Estudos recentes indicam que os inibidores de apetite reduzem a gordura corporal, mas também podem levar à perda de massa magra, que inclui músculos, órgãos, ossos, fluidos e água no tecido adiposo. Essa redução compromete a função física e a qualidade de vida, além de estar associada a um aumento na mortalidade por todas as causas.

De acordo com uma pesquisa conduzida com quase 2 mil pessoas, a perda média de peso ao longo de 68 semanas de tratamento com semaglutida foi de 14,9% do peso corporal total. Deste percentual, 35% correspondia à perda de massa magra e 65% à redução de gordura. Outros estudos apontam que a proporção da perda de massa magra pode variar entre 40% e 50% do peso total eliminado.

O impacto dessa perda vai além da estética. Manter a massa muscular é fundamental porque os músculos e órgãos internos consomem mais energia do que a gordura, o que ajuda na manutenção do peso após a redução inicial. Dessa forma, evitar a perda excessiva de músculos contribui para que o paciente consiga manter os resultados obtidos com o tratamento.

A Novo Nordisk, fabricante do Ozempic e Wegovy, afirma que a semaglutida em si não provoca déficits nutricionais ou perda de massa magra, mas reconhece que esses riscos podem surgir. “Esses riscos podem surgir se o paciente não seguir uma dieta equilibrada com os nutrientes necessários e não adotar práticas adequadas de exercício físico, essenciais para a manutenção da saúde durante o tratamento”, declarou a empresa.

Outro fator que tem despertado preocupação é a semelhança dos resultados dos medicamentos para emagrecimento com os da cirurgia bariátrica. Estudos apontam que a magnitude da perda de peso com essas drogas se aproxima da obtida por pacientes que passam pelo procedimento cirúrgico, o que levanta questionamentos sobre os efeitos de longo prazo na saúde muscular.

Em novembro, especialistas publicaram um comentário na revista científica The Lancet alertando sobre a escassez de estudos que avaliem o impacto desses medicamentos nos músculos. Embora os benefícios, como melhora na saúde cardíaca e renal, sejam bem documentados, há pouca informação sobre as consequências para a musculatura esquelética.

Diante dessa incerteza, pesquisadores recomendam estratégias para preservar a massa muscular durante o tratamento. Estudos mostram que ingerir quantidades adequadas de proteína e realizar treinos de resistência pode minimizar em até 95% a perda de tecido magro. Além disso, programas supervisionados de exercícios têm demonstrado bons resultados na manutenção do peso perdido, especialmente após a interrupção do uso dos medicamentos.

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