Hugo Goldfeld diz que setor rural não vota em Dilma Rousseff e que PT governa para as minorias
07 outubro 2014 às 19h01

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Se eleito, o empresário garante que vai tornar o parque agropecuário rentável — hoje seria um cemitério — e que vai separar a exposição pecuária da festa da qual todos podem participar

Euler de França Belém e Walacy Neto
O empresário e produtor rural Hugo Goldfeld, de 71 anos, é um dos candidatos à presidência da Sociedade Goiana de Pecuária e Agricultura (SGPA). Com propostas de valorização do Parque Agropecuário de Goiânia, o candidato afirma que quer dar valor ao “A” (de agricultura) da sigla. Segundo ele, a letra não faz parte da associação atualmente.
Goldfeld foi secretário da Indústria e Comércio de Goiás nos governos de Irapuan Costa Junior e é sócio da concessionária Govesa, em Goiânia, e é concessionário da Toyota em Uberaba (MG) e em Ribeirão Preto (SP). Ele também é sócio do irmão Ian Goldfeld na Construtora Govesa.
Em entrevista ao Jornal Opção Online na terça-feira, 7, Hugo Goldfeld falou sobre os projetos que pretende implantar no parque e também das políticas do agronegócio em Goiás e no Brasil.
Goiás conhece o sr. como empresário urbano, sócio da concessionária Govesa, que vende automóveis da Volkswagen, e da Construtora Govesa. De repente, se apresenta como candidato a presidente da Sociedade Goiana de Pecuária e Agricultura (SGPA). Por que a suposta mudança de rota?
Sou produtor rural e tenho fazendo há mais de 20 anos. Talvez eu não entenda do negócio como um produtor de soja ou um criador de nelore de elite. Porém, como fui procurado por uma série de amigos, todos produtores rurais, decidi me candidatar a presidente da SGPA. Os produtores tem um objetivo, com o qual concordo: querem que o Parque Agropecuário de Goiânia seja diferente.
Diferente em qual sentido?
Conversei com os produtores rurais e concluímos que o parque pode ser uma fonte de renda para a SGPA e pode ser mais útil para a sociedade. Atualmente, o parque vive de algumas festas realizadas durante o ano. Na maioria dos dias, parece um cemitério.
O sr., se eleito, quer transformar o parque em quê?
Nós queremos transformar o parque num shopping de oportunidades para os produtores rurais. O parque deve ser um lugar no qual se vai para comprar e vende gado — sem misturar festa e exposição.
Por que separar a festa da exposição de gado?
A festa incomoda o gado e o gado incomoda a festa. Por isso, se nosso grupo for eleito, vamos separar a festa da exposição. Elas podem ser feitas em épocas diferentes. Nós podemos fazer 12 festas por ano, mas não nos dias em que forem feitas as exposições. A pessoa que vai a um bar ou restante dos setores Marista, Oeste ou Bueno corre o risco de ser assaltada. A SGPA tem uma área murada, portanto segura, que pode abrigar os restaurantes. O parque, com sua área mais bem aproveitada, poderia se sustentar financeiramente com mais facilidade.
Quais outras propostas o sr. tem para reestruturar o parque?
Quero, sobretudo, que o parque fique ocupado durante todo o ano. Na Rua 44, no Centro, há um caos muito grande devido às barraquinhas de feirantes. Por que esses vendedores não podem ser levados, pelo menos em parte, para dentro do parque?
Fala-se muito na transferência do parque para uma área mais afastada?
Há uma lenda de que o parque não pode ficar nas proximidades do centro de Goiânia. Em São Paulo, capital, o parque está na região central — assim como em Uberaba (MG). Precisamos, é claro, adequar o nosso para que permaneça no mesmo lugar. Se eleitos, vamos trabalhar para que o parque obtenha o ISO 9000, uma espécie de selo de qualidade garantida. Em seguida, buscaremos o ISSO 14.000, que diz respeito ao meio ambiente. Vamos estudar quais são os problemas ambientes causados pelo parque e, com os dados objetivos, vamos resolvê-lo, junto com os setores governamentais categorizados. Nos parques de Uberaba, Minas Gerais, e em Água Branca, São Paulo, não há mosquitos. Ideias bem-sucedidas devem ser copiadas.
O sr. tem dito que a SGPA é SGP, quer dizer, atende a pecuária, mas não a agricultura. Como o sr. pretende equacionar este “problema”?
Se eleitos, vamos levar o agricultor e o produtor de insumos agrícolas para dentro do parque. Nós queremos que eles frequentem o parque — assim como fazem os criadores de gado. Estou conversando com os pecuaristas, por núcleos, e elaborando um pacote de projetos para encontrar soluções práticas. O mesmo vou fazer com os agricultores. Na verdade, são atividades integradas e que, portanto, precisam ser consideradas pela SGPA.
O sr. está se reunindo com produtores de todo o Estado?
Estou e vou me reunir com produtores rurais de todo o Estado. Na segunda-feira, 6, fiz uma reunião com as mulheres dos associados e perguntei: “Querem voltar a frequentar o parque?” Elas querem, sim. O Jóquei Clube funcionava muito bem, no Centro de Goiânia, com uma alta frequência. Depois, decaiu e hoje está praticamente abandonado. É como vejo o Parque Agropecuário de Goiânia. Ele precisa ser revitalizado.
O sr. é candidato de oposição. É possível ganhar do candidato bancado pelo presidente da SGPA, Ricardo Yano?
Não sei. O que posso afiançar é que tenho uma proposta e estou apresentando-a para os associados. Se acharem que é válida, eles vão votar em mim; caso contrário, não.
O sr. tem dito que, se for reeleito, não vai disputar reeleição, pois é a favor da renovação.
Sou inteiramente favorável à alternância de poder, e em todos os níveis. Acomodações levam à paralisia da ação. Portanto, se for eleito, não serei candidato à reeleição. Aliás, não vou disputar o cargo nunca mais. Sou contra qualquer tipo de reeleição para todos os cargos — seja governador, presidente da República ou presidentes de associações.

O sr. está apostando numa aliança com os jovens, na renovação, apesar de ter 71 anos?
Mentalmente, sou jovem e um empreendedor arrojado, sempre em busca de novas oportunidades. Não me sinto velho. Por isso estou na lida e disputando a presidência da SGPA. Mas não faço campanha suja nem ataco meu adversário, que, por sinal, é uma boa pessoa. Uma turma jovem está me acompanhando e discutindo os problemas dos produtores comigo. O vice-presidente de minha chapa, Romildo Machado, é um dos maiores produtores de nelores de Goiás. Ele é jovem, dinâmico e quer inovar na SGPA.
O que está dizendo aos jovens que apoiam sua candidatura?
Disse que eles precisam parar de criticar e participar mais do dia a dia da SGPA. Se queremos mudar alguma coisa, não adiante fazer a crítica e ficar omisso. Sou adepto de que, para mudar, é preciso participar com interesse e paixão. Tem de dar a cara para bater. Chega de velharia. (Risos)
“Marconi Perillo tem feito um trabalho excelente para o produtor rural”
Como o sr. avalia o trabalho do governador Marconi Perillo (PSDB) nas áreas de pecuária de agricultura?
Marconi Perillo tem feito um trabalho excelente em relação ao setor. Observe que alguns dos deputados eleitos no grupo do jovem tucano são do setor agrícola. O deputado Roberto Balestra (PP) é um deles.
Goiás poderia exportar mais carne?
Sim e não. Sim, porque Goiás, que já cresce mais do que o país, pode crescer ainda mais. Aliás, se o país não “afundou” até agora, com os erros do governo do PT, é porque o agronegócio funciona, como dizem os economistas, como “âncora verde”, sustentando os setores que estão em crise. O crescimento brutal do agronegócio está “segurando” a economia, impedindo que o processo de desindustrialização, sobretudo em São Paulo, abale ainda mais a economia.
E o não significa o quê?
O “não” é fácil de explicar. Goiás é um Estado central e, como a infraestrutura federal é ruim e deficitária, o custo do transporte é muito alto e prejudica enormemente os produtores. Os produtores que estão mais próximos dos portos ganham mais do que aqueles que estão mais distantes, como é o caso de Goiás. O transporte ferroviário, quando estiver funcionando de maneira mais adequada, poderá fortalecer os produtores rurais de Goiás, de Mato Grosso e de Mato Grosso do Sul. No momento, nós sofremos o castigo da distância.
Assim como Ricardo Yano, o sr. é um dos críticos do cartel dos frigoríficos?
O governo da presidente Dilma Rousseff, seguindo o ex-presidente Lula da Silva, criou a política dos “campeões” para beneficiar os grandes frigoríficos. O BNDES apoia as empresas líderes com uma injeção de recursos financeiros que impressiona economistas do mundo inteiro. A falta de concorrência no setor de carnes dá uma força enorme aos cartéis e, com isso, saem prejudicados os pecuaristas.
Qual é a solução para o problema?
A solução é o BNDES assumir sua parte nas empresas que obtêm financiamentos, fazer leilão para diversos grupos e, por fim, proibir o monopólio. É uma ideia, mas existem outras. Cartel é prejudicial em qualquer setor da economia.
Os produtores da região de Rio Verde têm reclamado muito das “pressões” da Perdigão, controlada pela Brasil Foods. O que fazer?
É um pouco diferente da cartelização dos frigoríficos. Tanto o frango quanto o porco precisam de um controle de qualidade excepcional devido às exportações. Depois, a margem deles não é tão grande que os permita correr riscos. Eles [a Perdigão] dão o filhote, a ração e obrigam o produtor a entregar o animal para o abate. No caso do caso, não é igual.
O gado de Goiás hoje é de alta qualidade?
Nós temos um gado aqui de qualidade excepcional. Não devemos em nada para outras regiões. Em qualquer lugar, nós temos representantes maravilhosos. Goiás sempre foi muito respeitado nessa área. Em Uberaba, conversei com um produtor americano e ele me disse que, devido à democratização da ciência, da tecnologia, daqui a pouco não haverá diferente entre os gados dos países. Um grupo muito pequeno vai ficar com o criatório de elite, mas a qualidade, ao final, será democratizada, será de todos. Foi assim que fizeram com a soja. Estudarem novas espécies e chegou-se a um produto de alta qualidade e acessível a todos os produtores.
Em uma entrevista ao Jornal Opção, o professor da PUC-GO e doutor em Arqueologia pelo Museu Nacional de História Natural de Washington Altair Sales Barbosa disse que o Cerrado está extinto e que isto levará ao fim dos rios e dos reservatórios de água. Como conciliar desenvolvimento e preservação?
Li a entrevista do professor Altair Sales e o que diz é preocupante. Os problemas ambientais podem ser resolvidos, em parte pelo menos, se cientistas competentes e sérios estiveram envolvidos. Porém, não se pode politizar ou ideologizar a questão do meio ambiente. Não se resolve o problema com discursos bonitos ou catastrofistas. Vivemos uma era de transição e mesmo os cientistas não têm muita certeza daquilo que está acontecendo. Há pouco tempo, li um cientista americano sugerindo que se vive uma nova era glacial.
O que o sr. quer dizer com o uso político ou ideológico da ecologia?
Não é sempre que isto ocorre, mas há grupos que estão se especializando em obter ganhos políticos a partir de um discurso ambientalista radical. Se um cidadão mata outro cidadão e fugir do flagrante, ele responderá ao processo em liberdade. Se o mesmo cidadão matar um arara, o crime é inafiançável. Não estou dizendo que a arara não tem importância, porque estou entre os defensores da preservação ambiental, mas, sim, sugerindo que as leis são frágeis por um lado e pesadas noutro campo.
O produtor rural hoje é mais preservacionista?
Sua pergunta está errada num ponto. Os produtores rurais sempre foram preservacionistas, mas, sim, hoje são mais. Veja-se como o Brasil é um país kafkiano. Num certo tempo, quando se comprava terras no Pará, os produtores rurais eram obrigados a desmatar uma parte. Agora, pelo contrário, estão sendo obrigados a reflorestá-la.
“O produtor rural não quer votar na presidente Dilma Rousseff”
Fala-se que a Terceira Guerra Mundial será por água, e não por petróleo. O que o sr. acha disso?
Na África, já há países em conflito por causa de água. De fato, a água vai provocar problemas universais. Mas é provável que o homem encontre soluções, a partir da ciência-tecnologia, para os problemas que ele própria cria.
A produção de etanol foi incentivada pelo governo federal, porém os produtores dizem que foram deixados na mãos e várias usinas quebraram. Como o sr. avalia este quadro?
Devo esclarecer que fui o responsável pela produção do etanol em Goiás, por intermédio programa do governo federal Proálcool, quando era secretário da Indústria e Comércio. Nós estudamos várias opções de uso para o álcool. Cheguei a procurar a Esso e a Shell para fazer parceiras no Estado, mas a Petrobrás entrou e impediu o acordo. O governo da presidente Dilma Rousseff, ao tabelar o preço da gasolina, ao qual está atado o preço do álcool, afetou drasticamente os negócios dos produtores de álcool, daí as notícias de que usinas quebraram em todo o país. Ocorre que a gasolina é controlada pela Petrobrás, com subsídios poderosos do governo. Mas o produtor de álcool não recebe nenhuma proteção, e os insumos sobem de preços, por isso a crise. A presidente Dilma Rousseff e seus auxiliares não entendem do assunto.
Quanto ao segundo turno para presidente, qual é a preferência do setor agropecuário?
Quem do setor votaria na Dilma Rousseff [PT, candidata à reeleição]? Não faz sentido. Se você for ver a distribuição de votos dela pelo país vai perceber que teve menos votos no Centro-sul. O PT faz um governo não para o país, para a maioria, e sim para as minorias. Se você não for ladrão, afrodescendente, homossexual, enfim minoria, estará “frito”. Dilma Rousseff faz um governo para as minorias. O indivíduo que trabalha, paga impostos e tem as mãos calejadas é esquecido. Assim, no segundo turno, o Brasil dará uma banana a essa senhora.
Por que o governo do PT não conseguiu desenvolver uma política agrícola?
Porque não quer e não tem visão para perceber que os produtores rurais sustentam o país há séculos. O governo de Dilma Rousseff, assim como o de Lula da Silva, desorganizou o País. Insisto: a petista faz um governo para as minorias. Quem trabalha e gera empregos não tem valor.