Há cinco dias, fila de espera por leito de UTI em Goiânia está zerada
30 dezembro 2024 às 07h41
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A crise na saúde de Goiânia que fez o Ministério Público de Goiás (MP-GO) e o Tribunal de Justiça do estado de Goiás (TJ-GO) aprovarem a intervenção estadual na área foi dirimida. Desde quinta-feira, 26, não há espera por leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) na capital. Em 30 dias de intervenção, 1.944 pacientes foram internados em leitos de enfermaria e UTI.
O secretário de Estado da Saúde, Rasível Santos celebrou o resultado do trabalho conjunto entre a pasta estadual (SES-GO), a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e a comissão de transição do prefeito eleito, Sandro Mabel. “Os pacientes não precisam aguardar mais de 24 horas por um leito, não tivemos mais óbito por demora na espera e nenhum caso de judicialização. Todos os casos de pedido de internação foram autorizados”, relatou Santos.
Entre as medidas tomadas no período estão a abertura de 20 novos leitos de UTI e a reativação de outros 47 no Hospital Ruy Azeredo; a disponibilização de 16 leitos no Hospital das Clínicas da UFG; e a inauguração de 40 leitos de UTI e de 55 de enfermaria no Hospital Estadual de Águas Lindas. Essa expansão da rede de atendimento permitiu que a maioria das solicitações por UTI fosse atendida em menos de 24 horas.
Em entrevista ao Jornal Opção, o prefeito eleito Sandro Mabel afirmou: “Resolvemos o problema de UTI negociando. Tínhamos uma compras de medicamentos e pedidos de serviços emergenciais. Fui atrás dos fornecedores e disse a eles o que eu disse na campanha eleitoral, “tem o ‘carimbo Sandro Mabel’, pode confiar que vou pagar”. Ter credibilidade facilita as coisas.”
Leitos
A espera por uma UTI na capital chegou a ter entre 25 e 30 pacientes antes da instalação do Gabinete de Crise. Segundo Rasível Santos, a capital conta hoje com 14 ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) em funcionamento, sendo 4 de suporte avançado e 10 de suporte básico; e outras 11 ambulâncias brancas para transporte sanitário.
Rasível Santos também informou que as unidades de saúde estão abastecidas com materiais e medicamentos e equipes profissionais completas. “Conseguimos organizar o sistema e estamos garantindo à população um fim de ano muito mais tranquilo”, resumiu.
Entenda a Crise
A intervenção estadual se deu devido a problemas estruturais, administrativos e financeiros no sistema de saúde municipal. A decisão foi tomada em 9 de dezembro de 2024, com o objetivo de reorganizar o sistema de saúde da capital até o final do ano.
A crise na saúde pública de Goiânia, que culminou na prisão do secretário de saúde, Wilson Pollara, ganhou repercussão nacional, inclusive na grande imprensa. A situação se agravou nas duas últimas semanas de novembro, com a morte de seis pacientes internados nas chamadas salas vermelhas — áreas destinadas ao atendimento emergencial de casos graves — enquanto aguardavam vagas em leitos de UTI. Entre as vítimas, três estavam internadas na UPA do Residencial Itaipu à espera de transferência
Uma técnica de enfermagem da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Jardim Itaipu, onde morreram três pacientes, revelou ao Jornal Opção na ocasião: “Aqui faltam insumos, faltam medicamentos, faltam antibióticos, falta até a dieta para pacientes usando sonda. Aqui morrem pacientes toda semana por falta de leitos em UTI. Quem dera se fosse somente essas mortes noticiadas pela imprensa”.
Ademais, a crise afetou drasticamente as maternidades municipais geridas pela Fundação de Apoio ao Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (Fundahc/UFG), por falta de repasses financeiros da prefeitura de Goiânia. Por esse motivo, o atendimento nas maternidades se restringirá a apenas urgências e emergências.
A situação calamitosa afetou também os responsáveis pela limpeza das unidades de saúde. A Loc Service Comércio e Serviços LTDA, empresa presta serviços de limpeza e manutenção contratada pela Prefeitura, paralisou as atividades por falta de pagamentos.
Segundo o secretário Estadual de Saúde, Rasível Santos, a crise foi causada por “falta de credibilidade”. “Quando começamos a ter esses problemas acabamos inflacionando o mercado e o leito acaba ficando mais caro. Às vezes, o hospital acaba tendo mais dificuldade para gerar leitos e, outro problema que agrava, é a falta de medicamentos na atenção primária. Isso faz com que a doença se agrave e aumente o tempo de permanência de pacientes nas UTI’s”, explicou ao Jornal Opção.