Conversas de apoiadores do miliciano com supostas referências ao presidente apareceram em interceptações a partir do dia de sua morte, em fevereiro de 2020, e continuaram por 11 dias

São várias as frentes de batalha que se tornaram pontos de pressão para o presidente Jair Bolsonaro: além da crise sanitária em si, há agora a CPI da Pandemia, o desemprego avançando, a economia estagnada, a vigilância internacional sobre a Amazônia e outros abacaxis. 

Como se não bastasse isso tudo para um governo perdido, agora diálogos transcritos de grampos telefônicos sugerem que o presidente Jair Bolsonaro foi contatado por integrantes da rede de proteção do ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope) carioca Adriano da Nóbrega, chefe da milícia do chamado Escritório do Crime, morto em confronto com a PM baiana em fevereiro de 2020.

Logo após a morte do miliciano, cúmplices de Adriano fizeram contato com “Jair”, “HNI (PRESIDENTE)” e “cara da casa de vidro”. As conversas fazem parte de um relatório da Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Polícia Civil do Rio que foi elaborado a partir das quebras de sigilo telefônico e telemático de suspeitos de ajudar o miliciano nos 383 dias em que circulou foragido pelo país.

Para fontes do Ministério Público do Rio de Janeiro ouvidos na condição de anonimato, o conjunto de circunstâncias permite concluir que os nomes são referências ao presidente Jair Bolsonaro. “O cara da casa de vidro” seria uma referência aos palácios do Planalto, sede do executivo federal, e da Alvorada, a residência oficial do presidente, ambos com fachada inteiramente de vidro.

Interrupção das escutas
Após as citações, o Ministério Público Estadual pediu que a justiça encerrasse as escutas dos envolvidos nas conversas, apesar de eles seguirem trocando informações sobre as atividades ilegais de Adriano da Nóbrega. A interrupção reforça a ideia de que trata-se do mesmo Jair que hoje ocupa o Planalto. O MP estadual não pode investigar o presidente da República. Em casos deste tipo, tem a obrigação constitucional de encerrar a investigação e encaminhar o processo à Procuradoria Geral da República, que tem esse poder.

Adriano da Nóbrega fugia da Justiça desde janeiro de 2019, quando o Ministério Público do Rio pediu a sua prisão, acusando-o de chefiar a milícia Escritório do Crime, especializada em assassinatos por encomenda. Ex-integrante da elite do batalhão de elite da Polícia Militar do Rio, ele foi expulso da corporação em 2014 por relações com a máfia do jogo do bicho.

As conversas de apoiadores do miliciano com supostas referências ao presidente começaram a aparecer nos grampos a partir do dia da morte de Adriano, em 9 de fevereiro de 2020, e continuaram por mais 11 dias.  No dia 9 pela manhã, o miliciano foi cercado por policiais do Rio e da Bahia, quando se escondia no sítio do vereador Gilson Batista Lima Neto, o Gilsinho de Dedé, do PSL, em Esplanada, cidade a 170 quilômetros de Salvador. Segundo os agentes, o miliciano reagiu a tiros a ordem de se render. Os policiais reagiram e mataram Adriano com dois tiros.

Com informações do The Intercept Brasil.