O futuro presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, afirmou que não vê “ataque especulativo” contra o real durante escalada do dólar. Para Galípolo, que assume o comando da autoridade monetária em janeiro de 2025, o termo não representa o movimento do mercado atualmente. A fala ocorreu em coletiva de imprensa após apresentação do relatório de inflação do quarto trimestre.

“Não é correto tentar tratar o mercado como um bloco monolítico, uma coisa só, coordenada. Mercado funciona geralmente com posições contrárias, tem alguém comprando e alguém vendendo. Quando o preço de ativo [como o dólar] se mobiliza em uma direção, têm vencedores e perdedores. Ataque especulativo não representa bem como o movimento está acontecendo no mercado hoje”, afirmou.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, por sua vez, afirmou que não descartou a possibilidade de um ataque especulativo contra o real. “Há contatos conosco falando em especulação, inclusive jornalistas respeitáveis falando disso. Eu prefiro trabalhar com os fundamentos, mostrando a consistência do que nós estamos fazendo em proveito do arcabouço fiscal para estabilizar isso. Mas pode estar havendo [ataque especulativo]. Não estou querendo fazer juízo sobre isso porque a Fazenda trabalha com os fundamentos. E esses movimentos mais especulativos, eles são coibidos com a intervenção do tesouro e Banco Central”, disse.

Nos últimos dias, o Banco Central fez intervenções no câmbio, através da venda do dólar no mercado à vista e leilões de linha, que são venda com compromisso de recompra, como se fosse um empréstimo. No entanto, mesmo com as medidas o dólar tem operado em alta. Nesta quinta, a moeda bateu recorde de R$ 6,30, mas passou a operar em queda.

Alta do dólar

Ao Jornal Opção, o economista Everaldo Leite explicou que a flutuação da moeda se deve ao cenário de incertezas ao redor do mundo. Everaldo afirma que muito disso se deve a transição de governo dos Estados Unidos. “Com a visão mais protecionista e ameaças de ataques comerciais a outras nações feitas pelo Trump, o cenário fica mais incerto e acaba desagradando o mercado financeiro”, diz.

“Essas incertezas faz com que o empresário se sinta ameaçado e passe a proteger se dinheiro através do dólar, que é uma moeda de proteção. O real não é uma moeda conversível como dólar e faz com que se busque essa segurança monetária, que faz com que o valor da moeda americana valorize”, continua.

De acordo com o economista, essa valorização afeta o custo de vida da população por conta da alta dos preços de produtos importados. “A importação de insumos para as indústrias farmacêuticas, alimentícia, de combustíveis e outras terão impacto nos preços. Além disso, essa flutuação pode impactar a inflação, o que é prejudicial já que pode causar aumento na taxa de juros e afetar o consumo, pois a população não consome a vista, consome no crédito, e quando o juro do crédito aumenta, a população passa a consumir menos”, afirma.

“Com o consumo menor, também haverá queda na oferta, já que o empresário irá produzir menos por conta da falta de demanda. Esses empresários também não acharão importante manter estoque, já que o consumo diminuiu, e isso faz com que o governo também tenha impacto na arrecadação”.

Para Everaldo, a melhor opção para o governo é aguardar. “O Banco Central tem legitimidade e autonomia para fazer o SWAP, que é uma operação de dólar para que se passe a ter mais da moeda no mercado e se ter uma redução da mesma. Isso é interessante a se fazer a curto prazo. Porém, como acredito que essa flutuação não seja algo por conta da especulação, e sim por conta das incertezas, resta ao governo aguardar para que a moeda volte para os patamares considerados normais, por volta de R$ 5 à R$ 5,50 sem precisar gastar as reservas”.

“Claro que existe a medida que você precise de recurso para combater a especulação, mas acredito que isso não seja o caso. Acredito que o Banco Central esteja aguardando para que se tenha um reequilíbrio da moeda”. completou.

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