Roberto Amaral, vice-presidente do PSB: “grilo falante” de Eduardo Campos / Foto: J.R.ROIZ
Roberto Amaral, vice-presidente do PSB: “grilo falante” de Eduardo Campos / Foto: J.R.ROIZ

A festa do agronegócio em Ribeirão Preto consolidou a aliança entre Marina e o grilo falante Roberto Amaral, a quem Campos sucedeu como ministro da Ciência e Tecnologia no primeiro governo Lula. Ao se afastar do concorrente mineiro, Campos adotou um discurso ideológico. Declarou-se mais à esquerda do que Aécio e marcou a diferença entre ambos.

“Temos projetos distintos, que têm base política e base social distintas”, sinalizou o socialista. “Estamos oferecendo caminhos que não são a mesma coisa”, reiterou num súbito ataque de sinceridade Mas Campos foi implacável ao justificar historicamente o afastamento de Aécio. Ainda em Minas, recordou uma declaração de 1979 de Tancredo Neves:

— O PMDB de Arraes não é o meu PMDB.

Tancredo, avô de Aécio, modulou a frase num caráter de rigidez definitiva que transcendia a tradicional e sólida cautela de raposa da política mineira criada no antigo PSD. Mas era o que o momento exigia dele, uma prova vigorosa de que a ao se afastar do PMDB para participar da criação do Partido Popular (PP), efêmero produto da última reforma partidária da ditadura. Assim poderia levar outros consigo.

Com os novos partidos, Arraes saiu para o PSB do neto Campos. Tancredo, três anos depois de deixar o peemedebismo, retornou quando o PP percebeu que caíra numa armadilha da ditadura para proteger o PDS. Então o PP se incorporou ao PMDB. Nessa adesão, Tancredo teve a companhia de um antigo vulto da velha UDN em Minas, Magalhães Pinto, numa espantosa aliança entre as duas raposas.

Em fim de carreira, o ex-udenista se colocou em plano secundário. Tancredo, livre para se movimentar na liderança do partido em Minas, elegeu-se governador naquele mesmo 1982. Agora, o neto de Arraes colocou o avô na disputa com o neto de Tancredo. Aécio fez o que o avô faria, não tomou conhecimento. Num segundo turno ele e Campos podem se reencontrar.

Se Campos colocou o avô Arraes em contraste com Aécio e o avô Tancredo, a coisa é séria. O bote de Marina veio na hora certa, a cinco meses da eleição. Mas o empenho da ex-ministra em orientar o rumo do PSB nas eleições federais e regionais permite a desconfiança de que deseja trocar de lugar na chapa presidencial.

Não é nada, não é nada. Veja-se uma nota que brotou em influente coluna política no meio da semana. A coluna de Ilimar Franco publicou que Marina não seria decorativa na chapa. A cotação de Campos em pesquisas, quando seu nome é associado ao de Marina, ultrapassaria Aécio em áreas do PSDB. Quais pesquisas? Públicas ou internas do PSB-Rede? Não se diz.

Mas a nota do jornal coincide com o empenho de Marina em rejeitar alianças que incluam a eleição de governadores tucanos. Em Minas, domínio dos Neves, a ex-ministra recusa apoio à eleição do tucano Pimenta da Veiga, que anda enrolado porque recebeu R$ 300 mil, em 1998, da agência do mensaleiro Marcos Valério. Pimenta diz que foi por trabalho como advogado.

Contra Pimenta, Marina com a sua Rede deseja que o PSB pesque ali, entre elas o candidato a governador. Seria o ambientalista Apolo Heringer, que militou em Minas contra a ditadura ao lado da presidente Dilma na clandestina Polop. Porém, é noviço nas urnas. Campos resiste, diz que prefere apoiar Pimenta para ter a reciprocidade do PSDB em Pernambuco.

Em São Paulo, berço do PSDB, Marina descartou o apoio do PSB à reeleição do governador Geraldo Alckmin. Exige que o candidato, nem que seja para constar, seja o deputado Márcio França, presidente estadual do PSB. França ainda pode se recusar. No Paraná, Marina nega o apoio de Campos à reeleição do tucano Beto Richa. Prefere a deputada Rosane Ferreira, do Partido Verde.

Animada com os últimos acontecimentos, Marina partiu para cima de Aécio no meio da semana em clima de beligerância. A ex-ministra reforçou o afastamento de Campos em relação ao tucano. Em entrevista ao repórter Bernardo Mello Franco, negou que Aécio seja um candidato com poder para vencer a eleição:

— O PSDB já sabe que tem o cheiro e derrota no segundo turno. O PT já aprendeu que a melhor forma de ganhar é contra o PSDB.