Médico ressalta que a operação não é a “cura” para a obesidade, mas um tratamento que precisa ser alinhado com múltiplos fatores

Entre os anos de 2011 e 2018, a quantidade de obesos que encontraram na cirurgia bariátrica um caminho para uma melhor qualidade de vida, quase dobrou. Em números, o crescimento é de 84,7%. Isso, porque em 2011 foram realizados 34,6 mil procedimentos desse tipo no país, enquanto em 2018 esse número chegou a 63,9 mil. Durante esse período de oito anos, foram mais de 400 mil cirurgias bariátricas em todo o Brasil, segundo levantamento realizado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) com dados do DataSUS e da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

No entanto, ainda que os números sejam altos, o total realizado representa cerca de 0,47% da população obesa elegível à cirurgia bariátrica e metabólica no país, ou seja, com o Índice de Massa Corporal (IMC) acima de 35 associado a algum tipo de comorbidades. A justificativa é que alguns pacientes procuram a conhecida “cirurgia do estômago” para, além da mudança corporal, ajudar no quadro de depressão. No entanto, casos de depressão após a intervenção cirúrgica também já foram registrados, de modo a trazer dúvidas acerca da relação entre o quadro físico e psicológico do paciente que fez ou é elegível a realizar a cirurgia bariátrica.

Segundo o médico presidente da Sociedade Goiana de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, Leonardo Porto Sebba, não há comprovação científica de que a cirurgia bariátrica desenvolva a depressão. Para ele, inclusive, a depressão associada à obesidade é uma das indicações para a cirurgia bariátrica, mas é preciso se atentar aos cuidados do pré e pós operatório. “A depressão é uma doença que tem idas e vindas. O que acontece é: pessoas que já tinham um comportamento depressivo fazem a cirurgia, emagrecem e por algum outro motivo de descompensação do quadro psiquiátrico, a causa passa a ser a cirurgia. As pessoas já vinham com esse quadro. A depressão, assim como a obesidade, é uma doença que precisa ser tratada”, afirma.

Ainda, de acordo com o cirurgião, é preciso tirar o estigma de que a cirurgia bariátrica é um “milagre” para casos severos de obesidade. “A obesidade é uma doença, a cirurgia é um tratamento. Um tratamento que vem com outras coisas acompanhadas, como a mudança de hábitos e, em alguns casos, com acompanhamento psicológico e psiquiátrico, para até mesmo ‘ressignificar’ a relação com a comida”, afirma. Sebba diz ao Jornal Opção que alguns profissionais da saúde defendem que a cirurgia propicia a depressão, mas segundo ele, não há dados para isso.

O médico também alerta ainda que é preciso observar a incidência dos casos. Segundo ele, “a incidência nos pós-operados é menor que na população em geral. As pessoas operadas possuem uma qualidade de vida melhor, elas se transformam”. Além disso, ao ser questionado sobre essa mudança, o especialista diz que os ‘bariátricos’ possuem uma vida “absolutamente normal”, uma vez que as técnicas cirúrgicas evoluíram significativamente nos últimos 20 anos, devido a sua popularização. “Aquele tipo de cirurgia em que as pessoas ficavam entalando com a comida, vomitando e com episódios de diarréia, não existe mais. A pessoa vai continuar fazendo uma dieta, mas será com menos sacrifício e comendo menos”, explicou.

Outro ponto reforçado pelo especialista foi o fato de a cirurgia bariátrica não se consistir em uma cura para a obesidade, mas um tratamento que precisa ser aliado a outros especialistas. “Se você pegar um paciente com bom acompanhamento, que mantém suas taxas de vitaminas, proteínas e reposições necessárias, esse paciente dificilmente desenvolverá qualquer tipo de complicação. Agora, um paciente que não faz nenhum controle, ele pode sim ter problemas que poderão ser correlacionados [com a depressão] com alguma falta de vitamina, por exemplo, mas para isso não existem hipóteses. Não há comprovações. O ideal é que a pessoa que decide passar por uma cirurgia dessa esteja disposta a seguir as regras e ter um bom acompanhamento, independente de qual técnica (bypass ou sleeve)”, acrescenta. 

Essas evoluções, inclusive, diariamente fazem com que cada vez mais pessoas se interessem pela cirurgia, inclusive jovens e adolescentes. “Adolescentes chegam no consultório calados, cabisbaixo, tomando vários remédios e recorrentes em tratamento contra a obesidade. Possuem diagnóstico de depressão, TDAH e aí operam e voltam outra pessoa. Sem sofrer bullying, com roupas novas, falantes e com a autoestima alta”. Segundo a legislação, a cirurgia é indicada para maiores de 16 anos, mas menores podem ser avaliados individualmente.