Vídeo revela rachadura em ponte sobre o Rio das Almas, na BR-153, alvo de denúncias do Jornal Opção

05 julho 2025 às 10h54

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Uma rachadura visível no meio da ponte sobre o Rio das Almas, na BR-153, entre os municípios goianos de Jardim Paulista e Rialma, tem gerado preocupação entre motoristas, especialistas e moradores da região. Imagens gravadas por um pescador mostram a extensão da fissura, com um alerta: “Vocês acham que isso aqui está bom? Eu acho que não está não. Dá até medo de passar aqui embaixo”.
O vídeo, amplamente compartilhado nas redes sociais, reforça denúncias já divulgadas em reportagens do Jornal Opção sobre as más condições estruturais da ponte. Na imagem, a rachadura parece atravessar a estrutura, sugerindo um possível deslocamento entre as partes da ponte.
A estrutura foi construída nos mesmos moldes e época da ponte sobre o Rio Tocantins, na divisa entre Tocantins e Maranhão, que desabou em 22 de dezembro de 2024, matando ao menos 17 pessoas. Assim como naquela tragédia, a ponte goiana é alvo de alertas constantes da população e de motoristas, sem que providências efetivas tenham sido tomadas até o momento.
Veja o vídeo:
Concessionária afirma que ponte é segura
Em resposta aos questionamentos, a Ecovias do Araguaia, concessionária responsável pela manutenção do trecho, afirmou que a ponte localizada no km 284 da BR-153 passou recentemente por vistoria técnica e que a estrutura “se encontra em condições seguras, sem risco à segurança dos condutores”.
Segundo a empresa, são realizadas inspeções frequentes em todas as pontes e viadutos sob sua responsabilidade, e no caso específico da ponte sobre o Rio das Almas, “não foram identificadas patologias que comprometam sua capacidade estrutural”. A concessionária reforça que o monitoramento é contínuo e feito por equipe técnica especializada.
Motoristas relatam medo e sobrecarga
Com mais de 30 anos de profissão, o caminhoneiro Eduardo Henrique Soares, de 50 anos, afirmou que atravessa a ponte diariamente e que a situação é preocupante. “A gente fica meio cismado, mas não pode parar, porque precisa levar a comida pro povo”, comentou.
Soares revelou que seu caminhão transporta até 50 toneladas de carga — quase o dobro da capacidade original da ponte, projetada para cerca de 30 toneladas. “O senhor já viu o tamanho dos caminhões de cana com mais de 100 toneladas que passa aí?”, questionou, apontando o tráfego pesado na região.
Outro caminhoneiro, Fábio Júnior, lembrou da tragédia na ponte do Estreito e disse temer que algo parecido ocorra em Rialma. “O povo falou, mostrou vídeos, e nada foi feito. Onde há fumaça, há fogo”, alertou.
Fábio José da Silva, morador de Rubiataba (GO), afirma que a ponte nunca foi devidamente reparada, apesar de várias intervenções ao longo dos anos. “Passo direto por aqui, indo para Anápolis. Eles até interditam, colocam quebra-molas, mas nunca arrumam de verdade. Já teve muita intervenção”, relatou.
Ele também revelou um hábito comum entre motoristas: evitar atravessar a ponte quando há muitos caminhões ao mesmo tempo. “Se tiver fila de caminhão, a gente até espera para passar depois, para passar sozinho”, afirmou. “O dia lá em Estreito era normal. Todo mundo passando normalmente, e de repente a ponte caiu. Não está escrito ali: ‘vai cair agora’.”
Especialista aponta risco real de colapso
O engenheiro civil Rodrigo Carvalho da Mata, doutor em Engenharia de Estruturas pela USP, reforça o alerta. “A ponte já está avisando. O deslocamento no meio do vão e a vibração são sinais claros de que há algo errado. Se não forem tomadas medidas urgentes, o risco de colapso é real”, afirmou.
Segundo ele, a situação da ponte sobre o Rio das Almas guarda semelhanças com a da ponte sobre o Rio Tocantins, que desabou no fim de 2024. A sobrecarga constante — muito acima do previsto no projeto original da década de 1950 — agrava o risco de falhas estruturais.
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