Cátedra Lídia Jorge: Escritora portuguesa vem ao Brasil para lançamento na UFG
20 março 2024 às 16h06
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A Cátedra Lídia Jorge, primeira no País a homenagear uma escritora, foi lançada pela Universidade Federal de Goiás (UFG) na última terça-feira, 19. A escritora portuguesa participou da mesa-redonda “A vida e Obra de Lídia Jorge”, composta pelos professores Carlos Reis (Universidade de Coimbra) e Rogério Santana.
“A escritora Lídia Jorge foi e é, seguramente, uma das vozes mais expressivas no que diz respeito à modulação de ambas aquelas linhas de desenvolvimento, eventualmente cruzadas entre si. Assim se mostra também que a sua obra, apreciada na equilibrada arquitetura de princípio, constitui uma das mais consequentes produções literárias da literatura portuguesa e da literatura em língua portuguesa das últimas décadas e não pode ser espartilhada numa única linha evolutiva. Lídia Jorge protagoniza nos seus textos o intenso diálogo crítico e até catártico que alguma da nossa ficção travou com o Portugal na mudança do século”, pontuou Carlos Reis.
A escritora portuguesa Lídia Jorge nasceu em 1946, no Algarve, em Portugal. Filha de agricultores emigrantes, Lídia obteve destaque e reconhecimento desde o seu romance de estreia, o Dia dos Prodígios (1980). Pelo conjunto de sua obra, foi vencedora do prestigiado prêmio da Fundação GÜNTER, na Alemanha, do ALBATROS (2006).
De sua vasta obra, foram publicados no Brasil, pela Record, A Manta do Soldado (2003); A Costa dos Murmúrios (2004) e o Vento Assobiando nas Gruas (2008). O último livro de Lídia, intitulado “Misericórdia”, foi lançado em outubro de 2022, a pedido de sua mãe. Na obra, Lídia Jorge mescla ficção com suas memórias, oferecendo uma reflexão sobre a instabilidade na vida moderna e a passagem do tempo.
“É um encantamento do ponto de vista literário, do trabalho crítico com os seus textos, mas é também um encantamento pessoal pela escritora, pela pessoa e pela autora. Em nenhum momento tivemos dúvida de que a cátedra deveria ser Cátedra Lídia Jorge”, disse Rogério Santana ao abrir a roda de perguntas. Confira abaixo as perguntas feitas à escritora e as respostas na íntegra.
Pergunta: Parece que há um empenho político, de crítica social, histórica, sobretudo dos romances, e isso chama muito a minha atenção. Eu vejo sempre esse lugar, hora do narrador, hora do personagem, que por fim, me parece ser um empenho político e crítico da própria Lídia Jorge. Gostaria de saber se isso é uma nota predominante da tua escrita.
É uma pergunta que eu própria me faço, porque eu admiro imenso os escritores que consideram que a literatura é, sobretudo, arte da linguagem. Eu compreendo isso perfeitamente, mas eu não pertenço a esse tipo de escritor. Quero dizer, o meu motivo não é a linguagem. Gosto de apurar a linguagem e a literariedade é a matéria-prima, mas não é propriamente o meu objetivo. Eu quero transferir aqui uma mensagem e transmitir aqui uma história.
Contar uma história, todo o meu pensamento, se posso dizer assim, ele mesmo quando pretende fazer alguma coisa ensaística, começa sempre por era uma vez. Mas quando eu digo era uma vez, é sempre era uma vez alguém que suscita, alguém que tem um mistério na sua vida. A parte do mistério da sua vida que é, porque é que não é feliz? É alguma coisa que me toca sempre. Por que é que não é feliz? O que é que falta?
E uma das maiores razões que traz infelicidade é, de fato, a parte social. É a pobreza, é a desigualdade, é a promessa que nós nos fazemos de ajudar os outros de que partiremos o que produzimos e depois não conseguimos partir o que produzimos. E eu também digo que, assim como a infância foi absolutamente determinante para aquilo que é mais fundamental e orgânico em mim, talvez tenha sido também a minha adolescência. Que é uma fase onde nós pensamos, é o local da nossa filosofia, onde nós pensamos, eu vou ser capaz de por ordem no mundo.
Temos a possibilidade de pôr ordem no mundo e então olhamos para os que estão próximos de nós dizendo como é que tu, pai, mãe, vós, vocês vivem assim, não é? Eu sou diferente. Eu vou caminhar em outra direção. Olhamos para eles às vezes até com desprezo, porque eles se submetem, porque eles compactuam com coisas que não concordamos. É a altura, digamos, do grande ideal. Eu lembro-me, efetivamente, de duas situações que me levaram aos primeiros textos que eu escrevi, primeiros textos com alguma consistência, a partir, precisamente, dessa situação, da questão social.
Uma tinha a ver com o trabalho das pessoas. Como as pessoas trabalhavam duramente e não ganhavam nada. No Algarve, a zona sempre foi seca. Mas havia invernos longos. E eu lembro-me, nunca me esquecerei, nunca me esquecerei das pessoas que vinham pedir trabalho à casa dos meus avós, porque quando chovia eles não ganhavam nada. E vinham pedir dinheiro para o trabalho que iriam fazer quando deixasse de chover. Eu era criança e penso que as crianças têm a noção da justiça. Era criança e depois adolescente, e isso custava-me imenso. E eu imaginava que eu era capaz de organizar o mundo de maneira para que não fosse assim.
Eu assistia a maioria, mas o que é curioso é que é à medida que o tempo passa, de novo aparecem aqueles que estão à espera que a chuva passe para ter alguma coisa. Então eu acho que é muito difícil não escrever sobre isso. Outra questão é sobre a condição das mulheres. Lembro-me do primeiro momento em que eu senti a diferença. Eu tinha uns 6, 7 anos. Havia uma rapariga (garota) de 16 anos e resolveu começar a dormir com os rapazes. Dormiu com o primeiro, dormiu com o segundo, dormiu com todos os rapazes daquela redondeza. A certa altura, ficou grávida. Quando ficou grávida, ninguém sabia quem era o pai. E os pais dela acharam que o pai deveria ser aquele que tivesse mais dinheiro. E, portanto, apontaram com o dedo para um dos rapazes.
E o que é que aconteceu? Foram para o tribunal. Tudo aquilo foi uma grande confusão, uma grande tristeza. E, finalmente, passados 9 meses, a criança nasceu. Era uma menina. E eu fui com as outras crianças da escola ver a menina que tinha nascido. A mãe, a jovem, estava deitada numa cama com o rosto para a parede. Estavam mulheres idosas a olhar para as feições do bebê para ver se descobriam nas feições do bebê quem era o pai. E foi aí que de repente veio a noção da diferença absoluta do que é ser homem e do que é ser mulher. Porque não havia diferença e não havia dúvida. Ela estava ali, ficava e ficou com a filha para sempre, sem pai. O pai não estava lá, não existia. E aquelas mulheres estavam a tentar, através das feições, ver quem era o pai. Esta questão biológica, ela não foi ultrapassada. Ela impõe-se sobre nós. E ainda hoje eu escrevo, de fato, sobre isto. Sobre alguma coisa que faz de nós sermos diferentes. E por sermos diferentes deveríamos olhar como fraternidade humana.
Os escritores não estão satisfeitos com as suas coisas, e por isso tentam recriá-las em seus livros. A ficção é um ato de rebeldia, e os escritores não aceitam a vida como ela é. Somos todos uns inconformados. E eu queria saber se, 14 anos depois, essa entrevista foi em 2010, né? Se a senhora continua uma inconformada, e como você se define como uma pessoa otimista, pessimista em relação ao mundo ou uma realista esperançosa?
Vou lhe dar uma resposta que é indireta. Há pouco tempo, eu estive a conversar, assim, num auditório, com um escritor que é muito conhecido aqui, escritor português, que é Miguel Sousa Tavares, que escreveu o livro “Equador”. E então ele disse uma coisa muito interessante, ele disse assim, é curioso que eu sou agressivo como pessoa e sou doce como escritor. E a Lídia é doce como pessoa e agressiva como escritora.
Eu acho que isto, ele até é um cumprimento da pessoa que está em causa, é um grande cumprimento. Mas eu acho que isso acontece porque de fato há pessoas que têm um parte contra mim, dizendo: ela é uma boa senhora e começam a ler as primeiras páginas, mas não chegam ao fim. Portanto não percebem que é o meu jeito. Eu preciso de duas coisas para entrar na narrativa. Preciso pedir-me licença, e depois preciso de mostrar alguma coisa que está escondida atrás, que não é o que parece e que tem a ver com aquilo que eu vejo na vida. Nós vivemos em vários graus na realidade. Nós estamos aqui maravilhosamente bem, e todos nos dizemos boa tarde, e que bom, e todos nos aplaudimos, e estamos felizes, e eu queria que a vida fosse sempre assim.
Mas eu estive na guerra colonial e eu aprendi imenso. Aprendi que quando é desencadeada a violência, as pessoas param. Foi aí que eu aprendi que todos os dias uma guerra pode começar, mas todos os dias ela pode acabar. Se, de fato, houver a vontade de tirar lugar, de substituir a violência pelas palavras, não deixar que as palavras passem para o outro lado da violência. Mas mais outra coisa, é que eu vinha da faculdade de letras e pensava que era verdade aquilo que o Aragon tinha dito sobre da Elsa Triole Sartoriolê, a sua amante, e ele dizia para todas as mulheres que elas seriam o futuro do homem. Mas na guerra colonial percebi uma coisa: as mulheres são tão violentas quanto os homens. Percebi que muitas mulheres incitavam os homens a matarem, ir para a guerra e voltar com medalha de honra por terem matado muita gente.
Ficava indignada porque essas mulheres falavam com crianças nos braços. Aprendi muito sobre a natureza humana. Então, talvez esse processo que eu tenho de certa forma seja uma erudição dessa marcha de passar de uma espécie de estado midial onde as coisas começam bem e depois vão se mostrando. Como uma cebola que vai perdendo sua capa e lá no meio tem um bicho que não é de fato um vegetal. É um bicho agressivo. É por isso que a literatura ensina o que é o oximoro.
A literatura é o oximoro. É por isso que nós não precisamos que os livros terminem bem como as pessoas que só leem autoajuda. Elas chegam à última página e precisam que aquilo termine muito bem. Nós da literatura somos alfabetizados em literatura e sabemos que existe esse oximoro. Chegando à última página a coisa não termina bem e voltamos para trás. Porque somos alfabetizados em literatura e arte e dizemos isso acontece assim. Onde se perdeu o rosto humano? Quando foi? Então vamos voltar para trás. É por isso que todo livro literário é sempre exemplar, mesmo que termine na pior das situações e que termine dizendo que de fato não há justiça. Mas nós sabemos que esse final é um oximoro. Quanto mais negro, mais entendemos que há alguma coisa luminosa lá dentro.
Importância da Língua Portuguesa
O Instituto Camões, criado em 1992, com sede em Lisboa, encarrega-se de ensinar o português pelos quatro cantos do globo.Nos moldes de outros institutos de língua como Goethe, Cervantes, Cultura Inglesa e Aliança Francesa, o Camões tem promovido o idioma como língua de cultura, ciência e artes.
A língua portuguesa é falada em 10 países ao redor do mundo: Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste, Guiné Equatorial e Goa (na Índia).Quanto à sua importância, ela se manifesta em diversos aspectos. Cultural e historicamente, o português é uma das línguas mais antigas da Europa, desempenhando um papel vital na literatura, música, arte e outras expressões culturais.
Além disso, com mais de 260 milhões de falantes nativos em todo o mundo, o português é uma língua relevante para a comunicação internacional, seja nos negócios, na diplomacia, no turismo ou no intercâmbio cultural.
Do ponto de vista econômico, o português é uma língua de negócios em crescimento, especialmente devido ao desenvolvimento econômico de países como Brasil e Angola, o que pode abrir oportunidades comerciais e de investimento.Politicamente, o português é uma língua oficial em diversas organizações internacionais, como a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e a União Europeia, conferindo-lhe importância significativa no cenário político e diplomático global.