Peemedebista enviou cópia de documentos ao Jornal Opção que foram encaminhados à revista com dados e registros que contestam informações sobre enriquecimento ilícito

Peemedebista Iris Rezende diz que propriedades rurais foram compradas com dinheiro de quando atuou como advogado e da venda de uma das fazendas e que não houve repasse da Odebrecht na década 1980
Peemedebista Iris Rezende diz que propriedades rurais foram compradas com dinheiro de quando atuou como advogado e da venda de uma das fazendas e que não houve repasse da Odebrecht na década 1980

No dia 1º de abril de 2016, a Revista Época publicou em seu site a matéria Documentos do SNI mostram corrupção da Odebrecht na década de 1980, assinada pela repórter Alana Rizzo, e que foi atualizada em 4 de abril. A reportagem traz informações retiradas de registros do Serviço Nacional de Informação (SNI), órgão da ditadura militar, que cita o nome do ex-prefeito e pré-candidato ao mesmo cargo em Goiânia, Iris Rezende (PMDB).

A matéria dedica dois parágrafos a compra de fazendas registradas no Informe 19/1984 da Agência Goiânia do SNI:

“O informe 19/1984 da Agência Goiânia do SNI revela que repasses da Odebrecht ajudaram o pré-candidato à prefeitura de Goiânia Iris Rezende (PMDB) a comprar uma fazenda no valor de 700 milhões de cruzeiros em Mato Grosso. Segundo o registro, Iris recebeu 500 milhões da empreiteira e usou 400 milhões na compra do imóvel. Iris Rezende é um dos políticos mais ricos do país. Em sua última disputa, declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), R$ 30,9 milhões. Entre os bens: as fazendas Estrela, adquirida em 1982, e Mutirama.

Segundo o SNI, duas fazendas foram adquiridas após a posse de Iris em 1983 como governador. Uma em Canarana e outra em Cocalinho, ambas em Mato Grosso. Os imóveis teriam sido comprados com a caixinha de amigos para a campanha e a doação da Odebrecht.Iris Rezende nega qualquer ajuda da empreiteira e afirma que comprou as fazendas antes das eleições e com dinheiro de herança do pai e dos serviços que prestou como advogado. “Não existe um item que possa colocar em dúvida minha honradez na política”, disse Iris Rezende, afirmando que não conhecia empresários na época e que só veio a contar com a ajuda de empreiteiras a partir das eleições para o Senado em 1994. Na campanha de 2014, a Odebrecht doou R$ 200 mil para sua campanha.”

As informações trazidas pela Revista Época em sua edição 929, que foi publicada na versão impressa em 4 de abril, foram contestadas por Iris Rezende, que reclamou que a matéria não levou em consideração os documentos e provas apresentados por ele contra os dados encontrados nos registros do SNI.

O Jornal Opção utilizou as informações na reportagem “Revista Época diz que a Odebrecht deu 500 milhões e Iris Rezende usou o dinheiro pra comprar fazenda” e divulgou a nota enviada à imprensa na matéria “Iris Rezende nega ter recebido propina da Odebrecht e critica revista Época“. Ainda sim, mesmo com o espaço dado à resposta de Iris, o Jornal Opção resolveu antender ao pedido do ex-prefeito e pré-candidato, que enviou um pedido de direito de resposta, já que utilizou as informações publicadas pela Época em suas matérias.

“Diante da flagrante precipitação na divulgação da notícia por aquela Revista foi negligenciada a contestação dos fatos e ignorados os esclarecimentos por mim prestados, razão pela qual entendi necessária a presente comunicação e o encaminhamento de meu pedido de resposta dirigido à Época, de como que pudessem ser clarificados os fatos junto aos seus leitores à vista de documentação pública que deveria ter sido averiguada previamente”, afirma Iris no documento.

Compra da Fazenda Mutirama em 1972 registrada em cartório
Compra da Fazenda Mutirama em 1972 registrada em cartório

No pedido, o peemedebista lembra que teve seus direitos políticos cassados pela ditadura militar em 1969, quando ocupava o cargo de prefeito de Goiânia, e que passou advogar. “Nos idos de 1972, adquiri minha primeira propriedade rural, a Fazenda Mutirama, localizada na cidade de Britânia (GO).”

Iris, com apresentação dos registros de compra e venda em cartório, fala que em 1979 comprou outra fazenda, a Vera Cruz, em Barra do Garças (MT). “Em 1982, vendi esta propriedade de Barra do Garças e com o valor adquirido da negociação (50 milhões de cruzeiros) adquiri a Fazenda Estrela, em Canarana (MT), por 40 milhões de cruzeiros”, explicou.

Nos documentos enviados à Revista Época, Iris afirma que as escrituras públicas da venda da Fazenda Vera Cruz e da compra da Fazenda Estrela foram lavradas em 28 de dezembro de 1982 no 4º Ofício de Notas de Goiânia. “Portanto, vê-se que as informações lançadas no informe 19/1984 (do SNI) são absolutamente inverídicas quanto aos fatos e aos valores ali consignados”, contesta à Época o ex-prefeito Iris Rezende.

Sobre a fazenda em Cocalinho (MT), que a revista diz que o peemedebista teria comprado em 1983, Iris responde que não tem qualquer propriedade na cidade do Mato Grosso. “Expliquei ainda que a Fazenda Estrela foi adquirida em 1982, enquanto a Fazenda Mutirama havia sido comprada em 1972, ou seja, nenhuma delas em 1983 e após ter assumido o mandato de governador como anunciou o periódico. A reportagem errou ao desprezar meus esclarecimentos e ao não checar a veracidade dos informes do antigo SNI.”

Enriquecimento ilícito

Ao ser citado como “um dos políticos mais ricos do País”, Iris Rezende fez questão de anexar aos documentos enviados à Época o Inquérito Civil Público número 3 de 1998 (processo número 16380649/98), arquivado em 2004, que verificou, a pedido do então candidato a governador (1998) e deputado federal pelo PSDB, Marconi Perillo, a denúncia de enriquecimento ilícito.

“Ocasião em que autorizei voluntariamente a quebra de nossos (dele e do pai, falecido, Filostro Machado Carneiro, desde a década de 1930) sigilo fiscal e bancário. Depois de seis anos, o Conselho Superior do Ministério Público, por unanimidade, arquivou o processo concluindo que havia provas suficientes para rebater todas as acusações infundadas.”

Primeira página do Inquérito Civil Público arquivado em 2004 por não comprovação das acusações
Primeira página do Inquérito Civil Público arquivado em 2004 por não comprovação das acusações

Consta no arquivamento da investigação, de 29 de outubro de 2004, na determinação do promotor de Justiça Umberto Machado de Oliveira: “As provas juntadas foram suficientes para rechaçar os fatos imputados contra os interessados”.

Sobre os dados do SNI usados pela reportagem da revista sobre o patrimônio e fazendas que seriam de Iris, o peemedebista pediu ao veículo de comunicação mais cuidado na checagem das informações e atenção ao momento que vivia o País durante a ditadura militar a partir do golpe de 1º de abril de 1964.

“Importante registrar o momento vivido naquela ocasião em que o documento foi elaborado, o que compromete sobremaneira a isenção dos dados nele constantes, sobretudo por ter sido formalizado num período de exceção e sobre pessoa duramente perseguida pelo regime militar, que inclusive sofreu a cassação de seu mandato de prefeito da capital no ano de 1969 e teve decretada a suspensão dos seus direitos políticos por dez anos.”

Valores

Iris questionou, inclusive, os citados repasses que teriam sido feitos pela Odebrecht, investigada pela Operação Lava Jato, para “ajudar” na compra das fazendas. Conforme a denúncia apresentada pela revista, ele teria recebido 500 milhões de cruzeiros de um suposto recebimento da empreiteira, utilizando 400 milhões de cruzeiros para adquirir o imóvel.

No documento enviado à Época, a defesa de Iris afirma que ele, entre 1969 e 1979, “passou a exercer a profissão de advogado” e “com os frutos do seu trabalho” comprou de Francisco Ribeiro Primo e outros proprietários a Fazenda Mutirama, em Britânia, por 96,2 mil cruzeiros (Cr$) em 1972.

A venda da Fazenda Vera Cruz, reforça Iris no documento, aconteceu pelo valor de 50 milhões de cruzeiros em dezembro de 1982, quando parte desse dinheiro teria sido usado para comprar a Fazenda Estrela em Canarana (MT) por 40 milhões de cruzeiros.

Registro em cartório da compra da Fazenda Estrela em 1982
Registro em cartório da compra da Fazenda Estrela em 1982

“Não bastasse a exposição por anos a fio que estão sujeitas as pessoas públicas às denúncias vazias como a que baseou a matéria veiculada”, afirma o comunicado do peemedebista, “em anos eleitorais tornam-se bastante comuns ações midiáticas desse jaez, perpetradas com o propósito único de denegrir a imagem de possíveis candidatos às eleições, ocasião que são irresponsavelmente atacados por sua sorte de ofensas”.

O pedido de resposta de Iris Rezende encerra o pedido à revista com um apelo à preservação da “sua história arduamente construída nos seus quase 60 anos de vida pública como vereador, prefeito, deputado estadual, governador e senador, todos esses cargos para os quais fora eleito por voto direto como a mais pura expressão da vontade do povo goiano, além de ter ocupado como titular no governo federal os Ministérios da Agricultura e da Justiça”.

Documentos em anexo:

Registro de compra da Fazenda Mutirama (1972)

Registro de venda da Fazenda Vera Cruz (1982)

Registro de compra da Fazenda Estrela (1982)

Inquérito Civil Público (1998-2004)