Em decadência nas pesquisas, Dilma faz força para abafar a volta de Lula no PT
03 maio 2014 às 12h40
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Como se estivesse atordoada, a presidente cometeu em série atos eleitoralmente incorretos durante a semana, como o de confessar-se autossuficiente e revelar-se vingativa
Não adiantou muito a presidente Dilma Rousseff voar a São Paulo na sexta para se aproximar de Lula diante de uma reunião do PT destinada à discussão da programação da campanha eleitoral. As lideranças petistas devem continuar a ver com reserva a reeleição de uma Dilma que está com o prestígio popular em decadência e nunca deu muita consideração ao partido.
A abertura do encontro petista ocorreu na noite de sexta para não comprometer o expediente de Dilma no Planalto com ação eleitoral. Mas Dilma voou bem mais cedo, a tempo de ter uma conversa restrita com Lula antes de encarar o partido diante de delegados vindos de todo o país para a reunião.
A autossuficiência da presidente parece não se abalar com a queda nas pesquisas, fenômeno que coincide com a sua presença no encontro petista, que se tornou uma forma de constranger o movimento pela candidatura de Lula. As falas do ex-presidente que negam a possibilidade de substituir a candidata não convencem, pois há uma crise na reeleição.
Ainda na segunda-feira, ao receber jornalistas de esporte para o jantar no Alvorada, Dilma confirmou diante deles a autossuficiência. “Eu sou exigente, detalhista e impaciente. Se não fosse isso não seria presidenta”, definiu-se para o grupo, de quem desejava apoio contra os protestos pela realização da Copa do Mundo, que se inicia em menos de seis semanas.
Dois dias depois do jantar, os partidos da base aliada do governo foram as vítimas da autossuficiência apresentada pela candidata em entrevista a rádios baianas. “Gostaria muito que, quando for candidata, eu tivesse apoio da minha base, da minha própria base. Agora, não havendo esse apoio, a gente vai em frente”, esnobou os aliados em sua linguagem canhestra.
A presidente demonstrou na prática a disposição de vingança contra quem não se alinha na base. Também na segunda, o líder do PR na Câmara, deputado mineiro Bernardo de Vasconcellos, divulgou um manifesto onde a maioria da bancada do partido pede a volta de Lula ao Planalto. Assinaram o manifesto 20 dos 36 deputados do PR.
Ao divulgar o documento, Vasconcellos posou para fotógrafos trocando a foto de Dilma na parede de uma sala da liderança. No lugar, colocou a de Lula. No ato, veio uma ordem de cima para os seis funcionários do palácio tratados como ministro: estavam proibidos de receber visitas de Vasconcellos.
Mas o deputado também atendia a uma ordem quando providenciou o manifesto e a troca de fotos. A ideia foi do chefe do PR, ex-deputado paulista Valdemar Costa Neto, que está preso em regime semiaberto por causa da condenação como mensaleiro pelo Supremo Tribunal Federal.
A ordem de Costa Neto veio numa conversa com Vasconcellos em seu local de trabalho fora da prisão, aonde vai apenas para dormir. A ideia é aproveitar as eleições para pressionar Dilma a devolver ao PR as posições que tomou durante a faxina no Ministério dos Transportes há dois anos.