Cercado por dívida milionária e desejos de revitalização versus venda, espaço é disputado por duas chapas candidatas. Votação acontece neste domingo, 30

Foto: Lorena Teixeira

A eleição para a escolha da nova diretoria do Jóquei Clube de Goiás que acontece neste domingo, 30, será disputado, neste ano, por duas chapas e, ao que indicam informações dadas por cidadãos que acompanham a saga do primeiro clube a ser fundado na nova capital, chapa vitoriosa pode colocar em questão o futuro do local.

Quem explica é a assistente social Alexandra Machado Costa, sócia e frequentadora assídua do clube nos anos 80. Ela afirma que as duas chapas, ‘O Jóquei é dos Joqueanos – chapa 1’ e ‘Operação Fênix – chapa 2’ tem ideias diferentes para o espaço: “parte do primeiro grupo defende a possível venda da área e o segundo quer continuar lutando pela revitalização e total utilização do espaço.

Formada por integrantes da Associação de Joqueanos e Amigos do Jóquei e sócios remidos, o grupo da chapa 1 é encabeçado pelo advogado Manoel de Oliveira Mota, ex-deputado estadual pelo MDB nos anos 80 e que faz parte da atual diretoria . A chapara Operação Fênix tem como candidata titular a produtora Iwana Nápoli e também por sócios e amigos.

Sobre as propostas de cada grupo, de fato, a reportagem constatou que a chapa ‘O Jóquei é dos joqueanos’ é a favor da possível venda da área do clube, informação confirmado por Mota à imprensa em outras ocasiões, e contra o tombamento por considerar o ato uma “desapropriação indireta e uma intervenção estatal na propriedade privada e que não perdoa os débitos do IPTU”. Ao ser procurado, o candidato da chapa 1 não atendeu as ligações, porém, em resposta a reportagem após publicada, o candidato enviou um comnetário de posicionamento. Confira na íntegra:

1) Aqui é MANOEL MOTA, ATUAL PRESIDENTE DO JÓQUEI.
2) Em razão de administrações anteriores, estamos com um passivo de mais de R$ 50 milhões, que só há duas maneiras de saldá-lo: Rateá-los entre os sócios remidos (1750) ou vender algum ativo para ir os anéis e ficar os dedos;
3) Com o resultado da venda (que já tinha praticamente acontecido) pagaríamos as dívidas e ainda nos restaria recursos suficientes para revitalizar o Hipódromo da Lagoinha e construirmos um clube, compacto, moderno consentâneo os tempos modernos;
4) Venda praticamente acertada não se concretizou em razão de um desproposital pedido de tombamento junto ao IPHAN;
5) Tombamento não isenta, dívidas, tanto é que o hipódromo é tombado e deve mais de 20 milhões só de IPTU;
6) Esta é a realidade nua e crua, o resto é fantasia. Todo o patrimônio do Jóquei encontra-se penhorado para garantir débitos, fiscais, tributários, trabalhistas, fornecedores, que podem ser facilmente vistos nos sites do TJGO, TRT18 E JUSTIÇA FEDERAL;
7 ) Quem defende outra posição joga contra o patrimônio do Jóquei. o Glamour dos anos 60, 70- e 80 é pura fantasia. Respondemos a mais de 120 ações na Justiça;
8) Razão assiste a quem não tem proposta, porque desconhece a situação real e nem querem entender.

[relacionadas artigos=”112949,118793,119623″]

Já a chapa ‘Operação Fênix’, que propõe a “salvação” do clube declarou, por meio de sua representante, que a principal proposta é ter o local de volta para os joqueanos. “Não temos como falar de outras propostas mais concretas, pois não sabemos o que está de fato acontecendo, já que a atual diretoria não nos informou de nenhum dado para que possamos realmente ver a situação do mesmo”, explicou.

Apesar disso, segundo levantamento da atual diretoria, com informações divulgadas por Alexandra, o clube soma uma dívida em torno de quarenta milhões de reais, com Estado, Município e questões trabalhistas com a União. O débito se deu pela crise administrativa e financeira de pelo menos seis anos.

Vale lembrar, também, que em 2017 o local foi protagonista de uma polêmica que quase rendeu a venda do clube para o pagamento da dívida e para a construção de uma nova sede social, que prevista para ser erguida no Hipódromo da Lagoinha. Apesar disso, alguns sócios e cidadãos promoveram manifestações contrárias à ação, que impediram o negócio.

Atualmente, o Jóquei Clube de Goiás possui mais de 1.600 sócios remidos proprietários e que poderão eleger a nova diretoria do espaço a partir das 08 horas deste domingo, 30.

Tombamento

Mesmo com a ajuda do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás (CAU-GO), o movimento Salve Jóquei que impediu a negociação da venda da sede do clube em 2017, que defendeu a preservação do prédio, o tombamento ainda não está totalmente decidido.

O processo enviado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) que pede que o mesmo considere o tombamento da sede, e que impede sua demolição, ainda está sendo analisado. De acordo com o órgão, o prazo legal para esse a análise da ação é de cinco anos, conforme estabelecido na Carta do Cidadão. 

Ainda de acordo com Alexandra, o que ajudou a impedir a venda da área para a Igreja Universal foi a liminar judicial conseguida pelos sócios remidos no começo deste ano, que estagnou o negócio.

A informação é de que o clube seria vendido por R$ 45 milhões mais o pagamento das dívidas do clube e que a proposta continua válida.

História

O Jóquei Clube surgiu na época de Pedro Ludovico Teixeira, existente desde 1937, foi o primeiro clube a ser fundado na nova capital, o Jóquei Clube de Goiás, inauguração oficialmente apenas na década de 40, com a presença do então presidente do Brasil, Getúlio Vargas.

Entre a década de 1940 e 1950 recebeu doações do governo estadual, chegando a uma área de 22 mil metros quadrado, tornando-se a grande referência de eventos da elite goiana. Com anos de uso, o local se modernizou e, em 1962, uma nova sede, o chamado “caixote”, de desenho do arquiteto Paulo Mendes da Rocha, foi iniciada e inaugurada em 1975.

Entre estes anos de 1975 e os anos 80, o clube passou pelo auge e uma intensa atividade ligada ao lazer e ao esporte, tornando-se referência nacional, já que times formados pelo Jóquei começam a se destacar até fora do País.

No anos 90 é que o local começa a ser deixado de lado. Com o fim das atividades esportivas profissionais e festas realizadas em outros locais maiores e mais modernos, o clube começa a cumular dívidas e questionamentos jurídicos. Daí em diante, a crise se instalou, transformando a construção em um grande fantasma no centro da cidade.