O pedido de propina ocorreu na negociação da compra da vacina AstraZeneca. O fato motivou a queda do diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias

Roberto Ferreira Dias é o alvo dessa investigação.


O Ministério da Saúde teria negociado US$ 1 de propina por dose caso a Davat Medical Supply assinasse o contrato das compras da vacina. Reportagem exclusiva da Folha de S.Paul de denunciam a possibilidade do crime, que motivou a queda do diretor de Logística do MS, Roberto Ferreira Dias, apontado como autor do pedido.

O levantamento do jornal é com base em mensagens trocadas entre Roberto e Herman Cardenas, CEO da empresa Davat Medical Supply e Cristiano Alberto Carvalho, que se apresenta como procurador da Supply.

Nos emails, Cardenas oferece um contrato de compra de 400 milhões de doses da AstraZeneca e cita Luiz Paulo Dominguetti Pereira como o representante da empresa. Dias, então, teria marcado um jantar com Dominguetti para realizar a negociação do contrato.

Contudo, em uma entrevista exclusiva a Folha, Dominguetti revelou que, durante esse jantar, Dias teria pedido o valor de propina de US$ 1 por dose de vacina negociada. Com a recusa da empresa de pagar propina, Dias teria tentado mais uma vez acertar esse contrato em outra reunião agendada no Departamento de Logística em Saúde.

Nessa ocasião, a mensagem contida no e-mail enviado pelo departamento de Logística dizia que “este ministério manifesta total interesse na aquisição das vacinas desde que atendidos todos os requisitos exigidos”, se referindo as propinas pedidas. Durante a reunião, a oferta teria sido feita de novo, mas conforme revelou Dominguetti, ele recusou novamente, em nome da empresa, o contrato de pagamento de propina. Dominguetti ainda revelou que a empresa de fabricação da vacina tentou por outras vias fechar o contrato de compra da AstraZeneca, mas que “ninguém queria vacina”, disse a Folha. Dominguetti​ deve depor nesta sexta à CPI da Covid, que decidiu convocá-lo após as denúncias feitas por ele ao jornal Folha de São Paulo.

Essa não é a primeira polêmica envolvendo corrupção na compra de vacinas. Na CPI da Covid, está sobe investigação o caso da vacina indiana, Covaxin. O contrato de aquisição dessa vacina foi o mais rápido fechado, mesmo diante das poucas comprovações de sua eficácia e de seu preço exorbitante, R$ 80 (ou US$ 15 a dose). As vacinas europeias (Pfizer e AstraZeneca), já tinham sido recusadas pelo governo mesmo se mostrando eficazes cientificamente e bem mais baratas que a indiana. O governo teria pago 1,6 bilhão em 20 milhões de doses da Covaxin.

A investigação da vacina indiana entrou em nova fase depois que o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF), revelou a CPI que o presidente Bolsonaro sabia das irregularidades no contrato firmado com a empresa Precisa Medicamentos, responsável pela produção das doses no Brasil. Em respostas a essa acusação, Bolsonaro teria declarado apenas que não tem “como saber tudo o que acontece nos ministérios”. A Anvisa, que não liberou o uso da vacina indiana no Brasil, também declarou a Folha que recebia e-mails diretamente da Precisa para que a vacina fosse aprovada e que isso foi visto como uma atitude pouco burocrática.

Diante de tantas irregularidades, o Ministério da Saúde decidiu na última terça-feira 29, suspender o contrato das 20 milhões de doses com a Precisa Medicamentos até que esse caso seja esclarecido.