Harley Sandoval, pastor evangélico, corretor de imóveis e empresário de mineração, foi preso em julho de 2023. Porque supostamente exportou ilegalmente 294 quilos de ouro da Amazônia brasileira para os Estados Unidos, Dubai e Itália.

Teoricamente, Sandoval afirma que o ouro vem de uma fonte legal. Afinal, ele obteve licença para minerar no estado de Tocantins, no norte do país. Entretanto, a polícia disse que nem um grama de ouro foi extraído lá desde os tempos coloniais.

De acordo com apuração da Reuters, a Polícia Federal conseguiu apontar a origem de extração do ouro. Ou seja, graças à tecnologia forense de ponta, juntamente com imagens de satélite, será possível determinar com mais facilidade extrações ilegais.

A nova tecnologia pode auxiliar a resolver não penas esse caso, mas vários outros. Além de trazer uma nova preocupação para extrações ilegais.

Sandoval, que aguarda o julgamento em liberdade, continua a pregar com sua esposa em uma igreja evangélica na cidade de Goiânia. Ele nega as acusações. E, além disso, afirma que não há forma de estabelecer onde o ouro foi extraído, uma vez que foi derretido para exportação.

Ouro brasileiro

O Brasil exportou 110 toneladas de ouro em 2020, no valor de US$ 5 bilhões, segundo dados oficiais, ficando entre os 20 maiores exportadores do mundo. No ano passado, as exportações foram de 77,7 toneladas, uma queda que o governo atribui à melhoria da fiscalização da mineração ilegal.

Vale destacar que o comércio clandestino de ouro pode representar até metade da produção brasileira. As apreensões de ouro extraído ilegalmente aumentaram sete vezes nos últimos sete anos, segundo registros da Polícia Federal.

A mineração ilegal de ouro aumentou na floresta amazônica, trazendo destruição ambiental e violência para a região.

Historicamente, o ouro é difícil de rastrear, especialmente depois que metais de diferentes fontes foram fundidos, apagando as assinaturas originais. Depois disso, pode ser facilmente negociado como ativo financeiro ou utilizado na indústria joalheira.

Contudo, os investigadores dizem que isso está começando a mudar. Um programa policial chamado “Targeting Gold” está criando um banco de dados de amostras de todo o Brasil. Dessa forma, as amostras serão examinadas com varreduras de radioisótopos e espectroscopia de fluorescência para determinar a composição única dos elementos.

DNA do ouro

A técnica, há muito utilizada na arqueologia, foi pioneira na mineração pelo geólogo Roger Dixon, da Universidade de Pretória, para ajudar a distinguir entre ouro legal e ouro roubado.

O programa desenvolvido em parceria com pesquisadores universitários inclui o uso de poderosos feixes de luz de um acelerador de partículas em um laboratório de São Paulo. Para então estudar impurezas nanométricas associadas ao ouro, seja sujeira ou outros metais como chumbo e cobre, que ajudam a rastrear as origens do metal.

“Com esta ferramenta podemos rastrear o ouro ilegal antes de ser refinado para exportação”, disse Humberto Freire, diretor do novo Departamento de Meio Ambiente e Amazônia da Polícia Federal. Segundo ele, a tecnologia permite aos cientistas analisar “o DNA do ouro brasileiro”.

“A natureza marcou o ouro com isótopos e podemos ler essas impressões digitais únicas com varreduras de radioisótopos”, disse Freire.

Governo Federal

O programa gerou um aumento de 38% nas apreensões de ouro em 2023 em relação com 2022,desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu o cargo.

As novas regulamentações do mercado de ouro do Banco Central do Brasil, incluindo recibos fiscais electrónicos obrigatórios para todas as transações e uma monitorização mais rigorosa de transações suspeitas, também ajudaram, de acordo com Freire.

Anteriormente, o governo de Jair Bolsonaro enfraqueceu os controles ambientais na Amazônia. O que, portanto, desencadeou uma nova corrida ao ouro no Brasil, estimulada pelos preços mundiais recorde do ouro.

A corrida do ouro tem sido uma marca registrada do Brasil, rico em minérios, desde o seu passado colonial português. Mas o último aumento na mineração ilegal que começou durante a administração de Bolsonaro não teve precedentes.

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