A disputa particular de Campos contra Aécio é a tendência natural até outubro
10 maio 2014 às 13h17
COMPARTILHAR
A queda do prestígio de Dilma valorizou os outros dois concorrentes e estimulou Marina Silva a afastar o socialista do tucano, “o candidato do agronegócio”
A. C. Scartezini
A redução da diferença entre a cotação da presidente Dilma Rousseff e a dos presidenciáveis Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) nas pesquisas de opinião provocou a previsível separação entre os candidatos da oposição pelo menos até as urnas do primeiro turno em 5 de outubro.
Porém, o efeito veio mais cedo do que seria razoável, com a intervenção da vice de Campos, Marina. Mas antes da ex-ministra, com a morte do mítico avô Miguel Arraes em 2005, Campos ganhou uma espécie de grilo falante que acompanha seus passos e tenta orientá-lo com conselhos ao pé do ouvido. É o cearense Roberto Amaral, vice-presidente do PSB.
Mas é relativa a influência do cri-cri soprado pelo grilo Amaral sobre Campos, presidente do PSB como sucessor político de Arraes. Se dependesse de Amaral, Campos e o partido estariam hoje a favor da reeleição de Dilma. O grilo aceitou o revés da candidatura própria e passou a reorientar o cri-cri no sentido de advertir que Aécio deve ser o principal alvo da campanha – e não Dilma.
Os novos conselhos de Amaral possuíam uma lógica. Historicamente, se houvesse um segundo turno, a reeleição da presidente ainda teria lugar cativo no jogo. A questão passava a ser a disputa com Aécio, sempre em segundo nas pesquisas, pela ocupação da vaga. Mas a situação mudou e não será mais estranho se Campos preferir Dilma contra Aécio num segundo turno.
A mudança se tornou clara na última virada de semana antes deste domingo. Aécio foi surpreendido quando desenvolvia aquele discurso no sentido de que o entendimento com Campos iria além da eleição presidencial. Se um deles se elegesse presidente, teria o apoio do outro partido no governo. Se nenhum se elegesse, haveria uma aliança na oposição.
Tudo ia bem até que o agronegócio entrou em campo. Aécio e Campos, presidentes de seus partidos, estiveram em Uberaba no fim de semana de abertura a ExpoZebu, que recebeu a visita de Dilma com vaias dos fazendeiros. Aécio estava em casa, mas evitou os eventos abertos a todos. Não queria ofuscar a presença de Campos, recebido sem entusiasmo pelos de casa.
Surgiu a oportunidade propícia a um bote de Marina Silva, candidata a vice-presidente com a Rede na chapa do PSB. Ex-ministra do Meio Ambiente, ela se preparava para acionar o gatilho contra Aécio desde o último dia de abril, uma semana antes da presença na mineira Uberaba. A razão era outro polo do agronegócio, a paulista Ribeirão Preto.
Na Agrishow, a maior feira do setor na América Latina, Aécio foi recebido com festa em Ribeirão. Entusiasmou-se num discurso e afirmou que, a partir daquele momento, seria “o candidato do agronegócio”. Coerente com a autonomeação, o tucano seguiu em frente com o discurso:
— Da porteira para dentro não há ninguém mais preparado, mais qualificado e mais produtivo do que o brasileiro. Os nossos problemas começam da porteira pra fora, na ausência de logística, de rodovias, de ferrovias, de hidrovias, de portos.