A queda do prestígio de Dilma valorizou os outros dois concorrentes e estimulou Marina Silva a afastar o socialista do tucano, “o candidato do agronegócio”

Marina Silva: vice às vezes toma lugar do titular, o ex-governador Eduardo Campos, nas estratégias de pré-campanha / Foto: Júnior Finfa
Marina Silva: vice às vezes toma lugar do titular, o ex-governador Eduardo Campos, nas estratégias de pré-campanha / Foto: Júnior Finfa

A. C. Scartezini

A redução da diferença entre a cotação da presidente Dilma Rousseff e a dos presidenciáveis Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Cam­pos (PSB) nas pesquisas de opi­nião provocou a previsível se­pa­ração entre os candidatos da o­posição pelo menos até as urnas do primeiro turno em 5 de outubro.

Porém, o efeito veio mais cedo do que seria razoável, com a intervenção da vice de Campos, Ma­ri­na. Mas antes da ex-ministra, com a morte do mítico avô Miguel Arraes em 2005, Campos ganhou uma espécie de grilo falante que acompanha seus passos e tenta orientá-lo com conselhos ao pé do ouvido. É o cearense Roberto Amaral, vice-presidente do PSB.

Mas é relativa a influência do cri-cri soprado pelo grilo Amaral sobre Campos, presidente do PSB como sucessor político de Arraes. Se dependesse de Amaral, Cam­pos e o partido estariam hoje a fa­vor da reeleição de Dilma. O grilo aceitou o revés da candidatura própria e passou a reorientar o cri-cri no sentido de advertir que Aécio deve ser o principal alvo da campanha – e não Dilma.

Os novos conselhos de Amaral possuíam uma lógica. Histori­ca­mente, se houvesse um segundo turno, a reeleição da presidente ainda teria lugar cativo no jogo. A questão passava a ser a disputa com Aécio, sempre em se­gundo nas pesquisas, pela ocupação da vaga. Mas a situação mudou e não será mais estranho se Campos preferir Dilma contra Aécio num segundo turno.

A mudança se tornou clara na última virada de semana antes deste domingo. Aécio foi surpreendido quando desenvolvia aquele discurso no sentido de que o entendimento com Campos iria além da eleição presidencial. Se um deles se elegesse presidente, teria o apoio do outro partido no governo. Se nenhum se elegesse, haveria uma aliança na oposição.

Tudo ia bem até que o agronegócio entrou em campo. Aécio e Campos, presidentes de seus partidos, estiveram em Uberaba no fim de semana de abertura a Ex­poZebu, que recebeu a visita de Dilma com vaias dos fazendeiros. Aécio estava em casa, mas evitou os eventos abertos a todos. Não queria ofuscar a presença de Campos, recebido sem entusiasmo pelos de casa.

Surgiu a oportunidade propícia a um bote de Marina Silva, candidata a vice-presidente com a Rede na chapa do PSB. Ex-ministra do Meio Ambiente, ela se preparava para acionar o gatilho contra Aécio desde o último dia de abril, uma semana antes da presença na mineira Uberaba. A razão era outro polo do agronegócio, a paulista Ribeirão Preto.

Na Agrishow, a maior feira do setor na América Latina, Aécio foi recebido com festa em Ribeirão. Entusiasmou-se num discurso e afirmou que, a partir daquele momento, seria “o candidato do agronegócio”. Coerente com a autonomeação, o tucano seguiu em frente com o discurso:

— Da porteira para dentro não há ninguém mais preparado, mais qualificado e mais produtivo do que o brasileiro. Os nossos problemas começam da porteira pra fora, na ausência de logística, de rodovias, de ferrovias, de hidrovias, de portos.