Dinamarca indeniza quatro pacientes que perderam visão após uso de Ozempic e Wegovy
21 novembro 2025 às 16h19

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Quatro pacientes que desenvolveram uma doença ocular grave após utilizar os medicamentos Ozempic e Wegovy, da farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk, receberam indenização na Dinamarca. O caso recria o debate sobre os possíveis efeitos adversos da semaglutida, princípio ativo dos dois remédios, usados mundialmente para o tratamento de diabetes tipo 2 e obesidade.
Segundo o Danish Patient Compensation, entidade independente financiada pelo Estado e por seguradoras, os requerentes receberam ao todo 800 mil coroas dinamarquesas (cerca de R$ 665 mil na cotação atual). O valor pode aumentar, caso haja comprovação de perda adicional de renda.
Até agora, o órgão recebeu 43 solicitações de indenização relacionadas ao desenvolvimento de NAION (neuropatia óptica isquêmica anterior não arterítica), condição rara, irreversível e potencialmente causadora de cegueira. Cinco casos já foram avaliados, sendo quatro aprovados e um rejeitado.
A NAION ocorre quando há perda do fluxo sanguíneo para o nervo óptico, causando dano permanente. A condição costuma afetar pessoas acima de 50 anos e não possui tratamento curativo. A diretora-gerente da agência, Karen-Inger Bast, explicou a gravidade do quadro. “É lamentável para os pacientes afetados por esse efeito colateral. A NAION é uma doença grave que causa danos permanentes e incuráveis à visão”, disse.
A Novo Nordisk afirmou, por meio de um porta-voz, que analisa as decisões e trata “muito a sério” todos os relatos de efeitos adversos. A empresa atualizou as bulas de todos os produtos que contêm semaglutida, incluindo Ozempic e Wegovy, passando a listar a NAION como “reação adversa muito rara”.
Apesar disso, a farmacêutica declarou acreditar que o “perfil benefício-risco da semaglutida permanece favorável”.
No início do ano, o comitê de segurança da Agência Europeia de Medicamentos (EMA) concluiu que a NAION é, de fato, um efeito colateral muito raro da semaglutida, podendo afetar até 1 em cada 10 mil usuários. O órgão recomendou que os rótulos dos medicamentos fossem atualizados para informar o risco.
A revisão da EMA ocorreu após pedido da Agência de Medicamentos da Dinamarca, motivado por dois estudos independentes que identificaram aumento superior ao dobro no risco de NAION em pessoas com diabetes tipo 2 que usavam Ozempic.
A primeira suspeita de relação entre a semaglutida e a doença foi levantada em 2024, em uma pesquisa da Universidade de Harvard.
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